November 15, 2013
Majú Giorgi, ativista da causa LGBT, é uma mãe com orgulho. Ela faz parte do movimento político “Mães pela Igualdade”, que conta com ativistas (mães e pais) em dez estados do país. O ativismo eh amplo: ela escreve o blog no portal Ig:http://maepelaigualdade.ig.com.br/. No Facebook, administra as páginas “Todos contra a homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia”, “Cartazes & Tirinhas LGBT”, “Notícias Ações e Conquistas LGBT”, “Famílias fora do armário”, e “Mães pela igualdade”. Nesta entrevista ela conta ao Femmaterna como é a luta do movimento de mães (e de pais) que se unem por um mundo mais igualitário.
Como surgiu o movimento Mães pela Igualdade?
Majú Giorgi – Quando o Deputado Jai Bolsonaro disse há alguns anos que prefere que um filho morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí e que nenhum pai tem orgulho de ter um filho gay, as mães ficaram muito revoltadas. Com o apoio da All out, foi criado o movimento político Mães pela Igualdade, para combater a hostilidade e a homotransfobia que cercam nossos filhos. Nosso movimento é mais ou menos como o Mães de Maio que cobra da justiça a morte de seus filhos e a desmilitarização da polícia. No nosso caso, a pressão política é pela criminalização do preconceito por orientação sexual e identidade de gênero, basicamente, queremos a aprovação imediata do PLC 122, da lei João Nery, e celeridade da justiça nos casos de crime de ódio, assassinatos homotransfóbicos.
O que o Movimento já realizou até aqui?
Majú Giorgi – Nós estamos engrossando nossas fileiras a cada dia – temos mais mães e agora temos pais também conosco, estamos alcançando visibilidade em todas as esferas que é exatamente o nosso intuito. Queremos voz para poder gritar que somos famílias bem constituídas, pagamos tributos ao Estado e que nossos filhos não são aberrações, são cidadãos brasileiros que têm muitos deveres mas não tem todos os direitos e nem proteção do Estado. Que nossos filhos são empurrados pela sociedade para guetos, para marginalidade, são torturados, mortos e o Congresso Nacional rendido, proselitista, não mexe uma palha pelos direitos de nossos filhos. Nós existimos, estamos aqui e aqui vamos continuar. Os LGBTs, são uma parcela imensa da população, que somados as suas famílias e amigos formam uma parte tão significativa da sociedade que se torna absurdo sermos desprezados pelo Estado.
Quais são os problemas mais urgentes que o movimento pretende enfrentar na esfera pública?
Majú Giorgi – O maior problema, nem é a bancada evangélica, são os neopentecostais da bancada evangélica. São os fundamentalistas que obviamente perderam a guerra cultural nos EUA e agora invadem a América do Sul e a África com suas ideias torpes e desumanas, seu moralismo hipócrita e seu poder econômico, que vêm do comércio da fé e sequestra a laicidade do Estado.
Qual seria a estratégia de luta pra fazer com que essa bancada deixe de ter influência sobre os demais partidos que estão no congresso?
Majú Giorgi – Nós estamos tentando descobrir como fazer isso ainda, mas temos aliados de peso contra as ideias fundamentalistas, que vão desde a Justiça brasileira, em especial a OAB e o STF, até em âmbito mundial, a ONU, a OEA, a OMS, religiosos como Desmond Tutu, Dalai Lama e agora para surpresa de todos, vem o Papa Francisco fazendo clara oposição ao fundamentalismo religioso. Não é possível que em 2014 qualquer pessoa em sã consciência possa avalizar desmandos, como pena de morte contra gays em Uganda que é, obviamente, influência de fanáticos americanos fundamentalistas no estilo exodus cry. E se observarmos onde essa gente está tentando emplacar seus desmandos, veremos que é justamente em países que têm as fragilidades da pobreza, da educação precária, do analfabetismo, da total falta de instrução e cultura. São vítimas que nas mãos deles se tornam armas. Porque eles vão pra Uganda e pro Brasil e não vão pra Suécia ou pro Canadá ? Não é óbvio ? Aqui no Brasil, o único braço do Estado que entra na comunidade carente é a polícia, então essa população fica a mercê de seus bem feitores: a igreja neopentecostal e o tráfico de drogas. O estado e as outras religiões precisam prestar assistência na comunidade carente, para acabar com esse círculo vicioso, e a Igreja Católica, já percebeu isso. Mas a chave para conter esse avanço é uma só e não virá a curto prazo, se chama: educação.
O governo federal estava produzindo uma cartilha que ajudaria professores a lidarem com questões LGBTs dentro das escolas. Mas o projeto foi suspenso devido a vários questionamentos – entre eles o argumento de que o material seria um incentivo à homossexualidade. O que dizer para as pessoas que pensam dessa forma?
Majú Giorgi – Sexualidade não se escolhe, não se impõe, não se ensina e nem passa por contágio. Sexualidade é uma condição inerente ao ser humano. Eu nunca vi um LGBT tentando transformar o outro em LGBT, porque isso é impossível, é insanidade. A cartilha era dirigida aos professores da rede pública e o intuito era dar suporte ao professor para lidar com a criança e o adolescente LGBT, evitar a evasão escolar das pessoas LGBT e os bullyngshomofóbico e transfóbico que são cruéis. Mas a mente desses congressistas proselitistas é doente, é suja, é machista e é hipócrita, eles são o avesso de Jesus Cristo . São os vendilhões que Cristo expulsou do templo, comerciantes da fé e sequestram o legislativo e o executivo em prol da governabilidade e com o poder econômico que vem do dízimo. Eu diria mais aos congressistas: Jesus Cristo foi o primeiro defensor do Estado Laico, ele disse:” De a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” estabelecendo assim a separação entre estado e religião.
Na sua avaliação, quais os principais problemas que os pais e mães enfrentam ao perceberem que têm filho homossexual ou trans*?
Majú Giorgi – Por mais preparado que você se considere para ter um filho LGBT, quando a ficha cai, e você percebe a sociedade homofóbica e transfóbica em que ele está inserido, o temor pela integridade física e moral dele é tão absurdo que o chão abre debaixo dos seus pés e você só pensa em colocar ele dentro de uma redoma. O conselho que dou? Junte-se ao Mães pela Igualdade e ao Famílias fora do Armário pela construção de um mundo acolhedor para os nossos filhos! Sentir-se compreendido, perceber que outras pessoas sentem o mesmo que você e têm os mesmos anseios, te dá uma força descomunal, além de ser um bálsamo.
Como as pessoas podem fazer parte do Movimento Mães pela Igualdade?
Majú Giorgi – As pessoas podem espalhar nossas ideias, nossos anseios, nos defenderem quando tiverem oportunidade e se vocês amam uma pessoa LGBT, juntem-se a nós. O blog éhttp://maespelaigualdade.blogspot.com.br e o e-mail para contato émaespelaigualdade@gmail.com.