Índice de mortalidade materna no Ceará é ´muito alto´, diz OMS

MARÍLIA CAMELO – Diário do Nordeste (CE)

Um dos fatores que favorecem o crescimento dessa taxa no Estado está intimamente relacionado com a gravidez cada vez mais precoce

Apesar disso, pré-natal e comunicação eficaz entre a atenção primária e a maternidade são avanços

Com um índice de 69 óbitos por cada 100 mil nascidos vivos, o Ceará está entre os estados do País com maior índice de mortalidade materna. Segundo o Ministério da Saúde (MS), esse número é considerado alto, já a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica esse índice como “muito alto”. Para se ter uma ideia, a maioria das mortes é evitável, pois, conforme os especialistas, um pré-natal bem feito e uma comunicação eficaz entre a atenção primária e a maternidade já representariam grandes avanços.

É o que afirma a integrante do Comitê de Mortalidade Materna da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), Liduína Pinto. “Grande parte dos óbitos é de causas evitáveis, situações que poderiam ter sido diagnosticadas por meio de um pré-natal bem feito”. Segundo ela, a Meac realiza de 400 a 450 partos mensalmente e, até o mês passado, a instituição só teve o registro de seis óbitos.

As doenças hipertensivas, as hemorragias, as infecções e os abortamentos, nessa ordem, são os principais motivos das mortes. Um dos fatores que favorecem o crescimento dessa taxa no Estado deve-se à gravidez na adolescência. Até o último dia 31 de agosto, o Ceará possuía 14.353 mil gestantes de dez a 19 anos de idade. Esses números estão em queda desde 2008, quando foram registradas 28.648 gestantes em igual faixa etária e, em 2009, 27.582.

O médico obstetra do Centro de Tocoginecologia do Hospital Geral César Cals (HGCC) Everardo Guanabara diz que, com relação à gravidez na adolescência, é preciso muito mais do que políticas públicas. Uma mudança, de fato, de consciência por parte das famílias.

“O jovem tem a sua liberdade sexual, porém, muitas vezes, as famílias não conversam sobre isso em casa, o que resulta numa má informação e em jovens irresponsáveis na sexualidade, não usando métodos anticoncepcionais”. Com relação à mortalidade materna, Guanabara destaca a importância da participação dos profissionais de enfermagem e da atenção básica para a melhora da qualidade no atendimento. “Assim, os problemas podem ser detectados no início da gravidez, já no pré-natal, evitando situações de risco”.

Durante a semana passada, o Comitê de Mortalidade Materna de Fortaleza realizou uma reunião com a presença de Maria José Oliveira de Araújo, integrante da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais da Convenção Interamericana de Direitos Humanos. O evento envolveu também representantes do Comitê Cearense de Prevenção da Mortalidade Materna, de Instituições de Ensino Superior em Saúde, do Movimento de Mulheres e dos Conselhos de Classes (Medicina, Enfermagem, Psicologia e Serviço Social), além da Coordenação do Projeto Hospital da Mulher.

Metas

Segundo Maria José, a redução da mortalidade materna está entre as Oito Metas do Milênio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e é uma das que menos têm gerado resultados. “Reduzir a mortalidade materna é uma questão difícil porque a mulher, em geral, ainda não é uma prioridade nas políticas públicas”, explicou Maria José, que encabeça o estudo de uma nova metodologia para avaliar e tentar reduzir os índices de mortalidade materna no Brasil e no mundo.

THAYS LAVOR

REPÓRTER

PREVENÇÃO

“Grande parte dos óbitos é de causas evitáveis, que podem ser diagnosticadas com o pré-natal”

Liduína Pinto

Integrante do Comitê de Mortalidade Materna da Meac

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

O jovem precisa de atenção

Francisca Ana Carvalho

Coord. de Enfermagem da UFC

O adolescente está descoberto dos programas de saúde, ele está desistido dá promoção à saúde. Reflexo disso é a jovem adolescente, que está engravidando precocemente e sem acompanhamento e preparo para a gravidez.

O que nós estamos observando é o descompromisso desse adolescente com o seu filho, tornando um problema familiar. Os programas de assistência ao pré-natal não estão satisfazendo à necessidade de informação da clientela. Elas estão chegando à maternidade sem nenhum preparo ou informação sobre o trabalho de parto.

O adolescente é um grupo que está em evidência e é carente de informação e orientações quanto à maternidade e à promoção de sua saúde. Hoje, também esse grupo pode ser classificado como de alto risco.

As políticas públicas são muito bem elaboradas, mas, infelizmente, não são bem administradas pelos profissionais de saúde. De um modo geral, a assistência à saúde deve ser para qualquer indivíduo, tem de ser universal para todos.

O cidadão deve ser assistido com dignidade e humanidade. O descaso quanto ao assistir a mulher grávida leva ao alto índice de morbimortalidade materna dos nossos dias.

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