MACHISMO: Bancadas desiguais

Josie Jeronimo e Luiz Ribeiro – Correio Braziliense

Quantidade de deputadas federais pode aumentar em 2011. Mas há a possibilidade de alguns estados não terem representantes femininas na Câmara

Edson Santos/Agência Câmara – 7/5/08

“É uma Casa eminentemente masculina, enquanto na sociedade é o contrário. Em São Paulo, somos quatro mulheres em uma bancada de 70”
Janete Pietá, deputada federal


Projeções indicam que a bancada de mulheres na Câmara vai aumentar das atuais 45 parlamentares para 54 no próximo ano, mas a perspectiva de ampliação do número de mulheres eleitas para o Legislativo Federal não é distribuída de forma homogênea em todos os estados. Minas Gerais e Santa Catarina, por exemplo, correm o risco de ficar sem representação feminina em 2011. Apesar de a disputa presidencial deste ano contar com duas candidatas entre os três favoritos, as mulheres ainda encontram dificuldades em captar recursos para as campanhas e se destacar entre os colegas de partido.

Em muitos estados, quando as mulheres alcançam potencial de votos, trocam o Legislativo pelo Executivo e, quase sempre, a vaga é herdada por um homem. Nas bancadas estaduais, o Amapá é o único estado em que mulheres e homens dividem proporcionalmente as cadeiras na Câmara: são quatro deputados e quatro deputadas. 

A coordenadora da bancada feminina na Câmara, deputada Janete Pietá (PT-SP), afirma que a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência criou “uma onda” no eleitorado feminino, mas reclama que as mulheres ainda têm dificuldades para financiar as campanhas, pois os recursos eleitorais ainda são dominados pelos homens. “É uma Casa eminentemente masculina, enquanto na sociedade é o contrário. Em São Paulo, somos quatro mulheres em uma bancada de 70”, pontua Janete. 

O fenômeno Dilma pode causar mudanças na fisionomia da Casa no próximo ano, pois muitas eleitas por voto proporcional se lançaram a cargos majoritários, como é o caso das deputadas Lídice da Mata (PSB-BA) e Angela Amin (PP-SC), e da senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Angela e Ideli decidiram disputar o governo de Santa Catarina e podem deixar o estado sem representantes na bancada feminina do Congresso, pois eram as únicas duas mulheres eleitas. Lídice afirma que, no estado, não há perspectiva de aumentar a bancada feminina, mas comemora as chances de ser a primeira senadora eleita pela Bahia. “Uma liderança feminina demora a ser feita. A mulher é menos estimulada a entrar na disputa política e tem menos recursos financeiros”, analisa. 

Apesar de o número de candidatas para a Câmara ter aumentado — de 628 postulantes em 2006 para 1.345 neste ano — , dirigentes partidários reconhecem que nem todas têm potencial para se eleger. E a vida não é fácil até para as mais conhecidas, como a candidata à reeleição Jô Morais, do PCdoB de Minas Gerais. “Esta é a campanha mais difícil que já vivenciei”, reclama Jô. 

Reserva de vagas
A candidata é cotada para garantir uma cadeira na Câmara por Minas Gerais. Caso não tenha bom desempenho, o estado não terá representante feminina na Casa a partir de janeiro. Em 2006, foram eleitas três deputadas federais por Minas Gerais. Maria do Carmo Lara (PT) renunciou depois de se eleger prefeita de Betim, em 2008, e Maria Lúcia Cardoso (PMDB) decidiu disputar vaga na Assembleia. 

O presidente estadual do PT, deputado federal Reginaldo Lopes, admite a dificuldade e aponta soluções. “Talvez pudesse ser criada reserva de vagas. Não como saída definitiva, mas por um período temporário para facilitar a participação da mulher no processo político”, afirma Lopes. 

 

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