O medo de amamentar quando se tem HIV

Alma Balopi, da IPS

Gaborone, Botsuana, 3/9/2010 – “Nunca se deve permitir que uma mulher com HIV amamente, não importa o que dizem os médicos ou os pesquisadores: é muito perigoso para o bebê”, disse Koziba Kelatlhe, uma mãe portadora desse vírus, causador da aids. Passou mais de um ano desde que o Estudo Mma Bana (Mãe e Bebê, em língua setswana) concluiu que as mulheres com HIV que recebem determinadas combinações de antirretrovirais podem amamentar de forma segura.

O inovador estudo feito em Botsuana foi o primeiro de uma série na África para comparar os diferentes regimes de terapias antirretrovirais altamente ativas (TAAA) durante a gravidez e a amamentação. A pesquisa neste país, feita pela Associação Instituto Harvard-Botsuana para a Aids (BHP), mostrou a taxa mais baixa de transmissão de mãe para filho em comparação com outras realizadas no continente. O diretor do projeto, Joseph Makhema, afirmou que isto influenciou a Organização Mundial da Saúde a aconselhar o uso das TAAA.

Na XVIII Conferência Internacional da Aids, realizada em julho, em Viena, a OMS aprovou novas recomendações, dizendo que as mães podiam amamentar sem risco para os filhos se elas, ou seus bebês, recebiam antirretrovirais há mais de um ano. Mas Koziba, outras mães com HIV e inclusive médicos de Botsuana não estão convencidos disso.

Sentada em um banco da sala de espera da Clínica de Doenças Infecciosas, Koziba sorri timidamente. É uma das muitas mulheres que aguardam pela receita de antirretrovirais. Koziba disse à IPS que seu filho, agora com dois anos, é HIV negativo graças ao fato de ela ter tomado precauções. “Se tivesse amamentado, talvez a história fosse diferente”, afirmou.

Em Botsuana, as mães com HIV recebem as TAAA quando estão na 28ª semana de gestação. O principal objetivo da pesquisa, segundo Joseph, foi comparar a supressão da carga viral durante o período de amamentação em mulheres submetidas a diferentes regimes de antirretrovirais, e determinar a taxa de transmissão da doença de mãe para filho após seis meses.

As mulheres foram instruídas a amamentar seus filhos até os seis meses. O estudo concluiu que a taxa de transmissão era muito baixa, de 1%. “O governo de Botsuana prepara um programa para fornecer TAAA a todas as mulheres grávidas com HIV”, disse Joseph. Porém, o programa pode encontrar resistência entre as próprias mulheres e os trabalhadores da saúde. Inclusive médicos compartilham dos temores de Koziba sobre amamentar.

O médico Unabatsho Maposa, do Hospital Princesa Marina, é um deles. Para ele, as novas sugestões da OMS não podem ser implementadas. “As recomendações não estão inculcadas nas instituições médicas do governo, e duvido que se possa fazer isso, porque não é algo prático”, afirmou.

“Não se pode dar outro líquido ao bebê além do leite materno. Portanto, não há mulher que possa fazê-lo, já que às vezes são obrigadas a dar algo mais à criança, e, então, é quando se torna perigoso”, explicou Unabatsho, dizendo que quando se dá ao bebê outro tipo de líquido é preciso parar a amamentação.

Mas Joseph disse que o problema com o atual protocolo em Botsuana, que desestimula as mães com HIV de amamentarem seus filhos, é que os bebês também estão expostos a doenças quando são alimentados por outras vias. “O protocolo diz que as mulheres em tratamento não podem amamentar seus filhos, e estes devem passar um mês nutridos com uma fórmula”, explicou.

“Isto expõe os bebês a doenças, já que a fórmula nem sempre é bem preparada, ou as garrafas estão expostas a infecções”, disse Joseph. Além disso, o método não é sustentável, já que a fórmula muitas vezes acaba e mães e bebês ficam em situação crítica. “Assim, era necessário encontrar um procedimento acessível e sustentável para controlar a transmissão do vírus de mãe para filho”, afirmou.

O Ministério da Saúde de Botsuana assegurou que está divulgando os resultados do Estudo Mma Bana. “Isto é feito por meio de portais de diferentes meios de comunicação do país pelo BHP. O governo fornece antirretrovirais grátis a todos os cidadãos com HIV que reúnem os requisitos, incluindo mães que estão amamentando”, disse Koona Keapoletswe, diretor interino do Departamento de HIV/Aids do Ministério. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)

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