Aposta em um ano de mudanças para as mulheres

Thalif Deen, da IPS

Nova York, 12/7/2010 – Enquanto a comunidade internacional se preparava para comemorar o Dia Mundial da População, celebrado ontem, a Organização das Nações Unidas revisava a situação das mulheres frente a problemas como mortalidade materna e falta de acesso à saúde reprodutiva. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou seu desejo de que este ano seja um “ponto de inflexão para a saúde de mulheres e crianças”.

 

Anualmente, centenas de milhares de mulheres, 99% delas no Sul em desenvolvimento, morrem durante a gravidez ou o parto, disse Ban. “Sabemos como salvar suas vidas. Podemos fazer isso com sistemas de saúde de qualidade, médicos competentes e ferramentas para prevenir e tratar doenças como HIV/aids e malária”, acrescentou.

Um informe das Nações Unidas sobre o avanço em relação aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) conclui que houve lentos progressos na expansão do uso de anticoncepcionais pelas mulheres, principalmente por dois motivos: a pobreza e a falta de educação. “O uso de anticoncepcionais é mais lento entre as mulheres mais pobres e as que não têm instrução”, afirma.

O estudo também diz que “a necessidade insatisfeita de planejamento familiar continua entre moderada e alta na maioria das regiões, particularmente na África subsaariana”. Pelo menos uma em cada quatro mulheres com idade entre 15 e 49 anos, casadas ou mantendo uma relação, expressaram o desejo de usar anticoncepcionais, mas afirmaram não ter acesso a eles.

Apesar disso, houve progressos em muitos países contra a mortalidade materna. “Celebramos os sinais de avanços incluídos nos informes sobre os ODM, segundo os quais algumas nações reduziram significativamente suas taxas de mortalidade materna”, disse à IPS a diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Thoraya Ahmed Obaid.

Porém, como aponta o informe, as reduções ainda estão muito abaixo das taxas exigidas para alcançar a meta de uma redução anual de 5,5% até 2015. “Assim, para acelerar os progressos, devemos investir mais em saúde reprodutiva para mulheres e meninas”, afirmou Thoraya. “Se cada mulher receber atenção médica reprodutiva, as mortes maternas e a invalidez deixarão de ser uma tragédia tão comum e devastadora como são hoje”, acrescentou.

Thoraya disse que as pesquisas e os avanços obtidos até agora demonstram que investir nas mulheres não é apenas correto, como também é uma opção inteligente em matéria econômica. Para ela, “quando as mulheres estão saudáveis e sobrevivem, proporcionam enormes benefícios sociais e econômicos às suas famílias, comunidades e nações”, afirmou.

Em um informe divulgado no ano passado, a organização Ação Internacional sobre População calculou que o número de mulheres da África que morreram durante a gravidez ou no parto, em 2008, foi muito maior do que as baixas causadas por todos os conflitos bélicos no continente juntos.

“A mortalidade materna continua sendo a principal causa de morte entre as mulheres em idade reprodutiva (de 15 a 49 anos) na África subsaariana”, disse Thoraya, destacando que a maioria dessas mulheres morre por complicações que, em geral, podem ser efetivamente tratadas em um sistema de saúde com pessoal capacitado e pronto para responder a emergências obstétricas, acrescentou.

Kathy Calvin, executiva chefe da Fundação das Nações Unidas, disse à IPS que “se os líderes mundiais colocassem as mulheres e as crianças no topo da agenda global, poderíamos fazer progressos reais rumo aos ODM”. A cada ano, centenas de mulheres são vítimas de mortes evitáveis durante a gravidez ou o parto, prosseguiu.

Como deixou claro o secretário-geral da ONU em seu Plano de Ação Conjunto, todos têm um papel no sentido de garantir a saúde das mulheres no planeta. “As mulheres ao redor do mundo esperam que a comunidade internacional insista no acesso universal ao planejamento familiar e satisfaça as necessidades não atendidas de anticoncepcionais”, disse Kathy.

Thoraya destacou que o UNFPA defende o direito de todos serem levados em conta, especialmente mulheres, meninas, pobres e marginalizados. “Com informação de qualidade podemos continuar melhorando e fazer mais progressos para atingir os ODM, bem como promover e proteger a dignidade dos direitos humanos de todos”, ressaltou. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

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