Wálter Fanganiello Maierovitch – De Roma, especial para TERRA MAGAZINE
Dura mais de dez horas o interrogatório do cardeal belga. Nova encíclica. Ratzinger tocará Mozart e Haydn
–1. Enquanto o papa Ratzinger selecionava as partituras para poder tocar Mozart e Haydn nas férias em Castel Gandolfo, o cardeal Godfried Danneels –que esteve durante 30 anos à frente da Igreja belga– passava por grande sufoco. E o sufoco não decorria do calor escaldante deste verão europeu. É que pesa contra o cardeal Danneels a suspeita de ter encoberto casos de pedofilia, quando dirigia a Igreja belga: 1979 a 2009.
Há duas semanas, conforme informado neste blog Sem Fronteiras de Terra Magazine, a magistratura inquirente e a polícia judiciária realizaram buscas e apreensões na sede da Conferência dos Bispos, na residência do primaz e até na cripta de uma catedral. Ocorreram muitas apreensões e os advogados representaram ao Ministério da Justiça contra abusos de poder laico por parte do juiz de instrução.
O interrogatório do cardeal teve início às 9h40 e só terminou às 18 horas. Não houve indiciamento. Na Bélgica, o cardeal Danneels não goza de boa fama. É visto como tendo adotado o comportamento omertoso, próprio da Máfia. Ou seja, Danneels teria imposto a lei do silêncio (omertà) aos casos de crimes de pedofilia perpetrados por clérigos, em toda a Bélgica.
A magistratura e a polícia judiciária começaram a atuar depois do escândalo (1) do bispo de Burges, Roger Vangheluwe, (2) da acusação feita pelo padre Rick Deville e (3) da carta de vinte pessoas que sofreram abusos sexuais quando menores.
O bispo Roger foi promovido para cuidar de Burges apesar de manter, há anos, conhecido relacionamento amoroso e sexual com um menor, membro da sua família. Roger confessou tudo e deixou o bispado. O padre Rick, já aposentado, é quem acusa o cardeal Danneels de omertà.
Para o porta-voz da Igreja belga, Eric de Beukelaer, o cardeal Danneels, em face do interrogatório, ficou “chocado” ao saber do juízo negativo que se faz a seu respeito. É como se efetivamente soubesse dos casos de pedofilia e tivesse cruzados os braços, sem fazer nada, disse Beukalaer.
–2. PANO RÁPIDO. O papa Ratzinger preferiu passar as férias de verão em Castel Gandolfo. Não vai aos Alpes, como Wojtyla.
O castelo, pelo que pesquisei, foi construído por Urbano VIII durante o seu pontificado. Um pontificado iniciado em 1623. Depois do fim dos Estados vaticanos e da ocupação napoleônica, o referido castelo foi restaurado pelos papas Pio VII e Pio VIII.
Apesar das férias de verão, o papa Ratzinger cumpre uma agenda. E na hierarquia da Igreja não existe o cargo de vice-papa. Ratzinger, em Castel Gandolfo (próximo de Roma) terá como hóspede o irmão Georg, que, como padre, ficou famoso na regência do coral da catedral de Regensburgo, o mais antigo do planeta, de sucesso internacional e onde, para corrigir, George dava alguns safanões nas crianças cantoras.
Ratzinger, segundo anunciado, preparará, nos três meses de férias de verão, uma Encíclica e escreverá um livro sobre a infância de Jesus.
Neste verão, o pianista Ratzinger só tocará Mozart e algumas peças de Haydn. Espera-se que o mar não fique agitado, como já acontecia com Pedro e a sua barca de pesca.
–Wálter Fanganiello Maierovitch–