Armas pequenas com grande impacto de gênero

Beatrice Paez, da IPS

Nova York, 18/6/2010 – A participação das mulheres nas gangues juvenis e organizações criminosas é alvo de análise na Quarta Reunião Bianual de Estados sobre Armas Pequenas e Leves (BMS4), que termina hoje na Organização das Nações Unidas. Gangues e grupos irregulares têm menos armas de fogo do que os militares e as agências da ordem, mas “mostram uma consistente disposição em usá-las para a violência”, disse Jennifer Hazen, pesquisadora do projeto Small Arms Survey, do Instituto de Estudos Internacionais e Desenvolvimento de Genebra. Esses grupos possuem entre 1,2 milhão e 1,4 milhão de armas de fogo.

Embora as jovens não se destaquem no uso direto de armas pequenas e leves, muitas são ativas participantes das gangues. Estima-se que na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos as mulheres representem entre 25% e 30% da composição desses grupos criminosos. Entretanto, o pouco frequente uso de armas pelas mulheres não significa que elas não participem da violência, disseram especialistas. “Não sabemos quantas portam armas”, afirmou à IPS Jasna Lazarevic, pesquisadora-adjunta e especialista em Participação Feminina nos grupos do Samll Arms Survey.

“Como boa parte do que acaba em mãos de grupos criminosos começa sendo legal, precisamos compreender melhor este comércio. Os governos ainda são muito reticentes em compartilhar informação sobre o comércio de armas pequenas”, afirmou Eric Berman, diretor-gerente do Small Arms Survey.

Servirá como guia o Programa de Ação da ONU para Prevenir, Combater e Erradicar o Tráfico de Armas Pequenas e Leves em Todos seus Aspectos, que foi adotado em 2001 e detalha os compromissos não vinculantes assumidos pelos países. A BMS4 também será uma base para as posteriores reuniões sobre o comércio deste tipo de armamento. No próximo mês, o Comitê Preparatório do Tratado sobre Comércio de Armas iniciará o debate a propósito de um pacto sobre armas convencionais. Em 2012, uma conferência de avaliação fornecerá o contexto formal para estas deliberações.

Para o embaixador Pablo Macedo, presidente da BMS4, o Programa de Ação da ONU aborda as desproporcionais consequências das armas pequenas sobre mulheres e crianças. “Temos uma responsabilidade especial em proteger esses grupos vulneráveis”, disse à IPS. “O tráfico de armas tem consequências terríveis no plano social, alteram a ordem social e o desenvolvimento, e incentivam o crime transnacional, embora todos estes fenômenos estejam vinculados. Mulheres e crianças são muito afetadas, talvez mais do que os outros”, acrescentou.

Porém, entre as preocupações destacadas pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a propósito do Programa de Ação, figurou a falta de respostas com um enfoque de gênero para abordar o impacto das armas pequenas. Na reunião foi objeto de análise como facilitar a cooperação internacional na implementação do Programa de Ação, garantindo que seja possível rastrear a origem das armas, e implementar mecanismos que erradiquem o comércio transfronteiriço ilícito. À IPS, Macedo disse que os debates também abordariam as preocupações que afetam as mulheres e outros grupos.

O aumento na quantidade de mulheres e meninas nas prisões de todo o mundo expõe a falta de programas que se ajustem às necessidades das mulheres dentro das gangues. “A investigação já é fraca e é difícil elaborar programas com enfoque de gênero, específicos para as mulheres, porque não temos muito conhecimento”, admitiu Lazarevic à IPS. Seja assumindo o papel de combatentes ou de espiãs, ou se dedicando a transferir armas e passar mensagens, as moças que integram gangues mistas têm um status marginal em comparação com os homens.

Esta categorização como de “segunda classe” é reforçada quando essas jovens se veem envolvidas em incidentes de violência horizontal, porque isto mantém o status quo, revela o estudo. A violência entre moças é uma tática utilizada para consolidar seu lugar e seu compromisso em relação ao grupo. Muitos dos programas de intervenção dirigidos à prevenção secundária estão projetados para homens, enquanto as meninas, por seu suposto papel periférico dentro das gangues, às vezes são excluídas desses planos. As medidas preventivas focadas nas meninas em risco, com idades entre nove e 15 anos, também escasseiam, diz o estudo.

No Haiti, o desmantelamento de gangues e a prisão de seus líderes colocaram as mulheres em uma situação de risco, já que possuem informação valiosa que grupos rivais podem buscar ou que a polícia pode usar. Embora elas abandonem a vida entre gangues antes dos homens por razões de gravidez e mais oportunidades de trabalho no setor de serviços do que para os homens, não há muitos projetos sensíveis ao gênero que as ajudem a construir uma vida fora do grupo, disse Lazarevic. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

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