Assassino de Maristela Just é condenado a 79 anos de reclusão

Ontem, dia 1º de junho, na 1ª Vara Criminal do Fórum de Jaboatão dos Guararapes, foi realizado o julgamento do comerciante José Ramos Lopes Neto, acusado de matar, em 1989, a ex-esposa, Maristela Ferreira Just, e ferir os dois filhos e o cunhado. O assassino confesso, que não compareceu ao Fórum, foi condenado a 79 anos de reclusão por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e irá cumprir a pena em regime fechado. O réu está foragido. Enquanto durou o julgamento, o Fórum de Mulheres de Pernambuco esteve em vigília pelo fim da violência contra as mulheres e pelo fim da impunidade. (SOS Corpo)  

Publicado em 02.06.2010, às 03h01

Do JC Online Atualizada às 04h35

Após 21 anos, familiares e amigos comemoram a condenação do  assassino de Maristela Just

Após 21 anos, familiares e amigos comemoram a condenação do assassino de Maristela Just
Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem

O comerciante José Ramos Lopes Neto, 47 anos, assassino confesso de Maristela Just, foi condenado a 79 anos de reclusão pela morte da esposa e pela tentativa de homicídio contra o cunhado Ulisses Just e os filhos Nathalia e Zaldo Just Neto, em 1989. A sentença: homicídio duplamente qualificado por motivo torpe. O réu, que se encontra foragido, cumprirá a pena em regime fechado.

A condenação foi estipulada da seguinte forma: pelo homicídio duplamente qualificado de Maristela Just foram 26 anos de reclusão; pela tentativa de homicídio qualificado contra Nathália e Zaldo: 19 anos e 6 meses (cada um); e pela tentativa de homicídio a Ulisses: 14 anos.

Antes de conhecer o resultado do julgamento, familiares e amigos esperaram cerca de três horas pela votação do júri. Muitos com visíveis sinais de cansaço sentaram e até deitaram nos corredores do fórum. Após o anúncio da sentença, contudo, familiares se abraçaram e choraram pelo resultado, depois de mais de duas décadas de angústia e sofrimento. Com o veredicto lido pela juíza Inês de Albuquerque, todos se uniram em uma corrente e rezaram, agradecendo pelo resultado. Ao final, as palmas tomaram conta do tribunal.

Já nos corredores, Zaldo Just, ainda com lágrimas no rosto, disse que apesar do resultado do julgamento, sua missão ainda não estava cumprida. “É apenas o início. O caso foi julgado em primeira instância hoje. A defesa vai entrar com recursos e a nossa família já estava preparada para isso. Hoje é o começo de um final. Acredito que uma das missões que eu tinha na minha vida seja esta e com a condenação estamos muito bem encaminhados”, disse.

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Ao seu lado, sua irmã Nathália afirmou estar satisfeita com o resultado, mas assim como Zaldo, crê que a batalha está apenas no começo. “Estou satisfeita sim. A sensação que nós temos é que ganhamos a chave da prisão. Quem estava preso nestes 21 anos éramos nós. A gente tava preso com a injustiça e a impunidade. Hoje eu estou cansada, destruída, precisando dormir. Foi um dos piores dias, ter que relembrar tudo. Mas me sinto como uma fênix. Hoje estamos nas cinzas, mas amanhã a gente ressurge. Essa condenação irá nos fortalecer”, agregou a filha de Maristela Just.


Para o promotor Edson Braz, o resultado do julgamento foi satisfatório apesar de não ter obtido a condenação máxima. “A prioridade agora é prendê-lo, já que ele está foragido, e possa cumprir a pena que foi imposta aqui. Eu pedi a pena máxima de 90 anos, mas a juíza entendeu que por não serem mais marido e mulher haveria um atenuante. De qualquer maneira estamos satisfeitos e acredito que se fez justiça”, completou.

JULGAMENTO – O julgamento do caso durou cerca de 13 horas e foi realizado à revelia, uma vez que o réu e seu advogado não compareceram. Por isso, foi expedido um mandato de prisão preventiva contra José Ramos. Ele foi representado por dois defensores públicos. Segundo a magistrada Inês de Albuquerque, o mandado de prisão preventiva foi expedido desde o dia 19 de maio por o comerciante apresentar risco à aplicação da lei penal. Agora, ele encontra-se foragido e é procurado pela polícia.

Os trabalhos começaram às 13h52 desta terça-feira (1º) com o depoimento decisivo de Nathália Just, 25 anos, filha de Maristela. A jovem, que na época do crime tinha 5 anos, contou detalhes de lembranças que tem do dia 4 de abril de 1989. Nessa data, a universitária Maristela Just, na época com 25 anos, foi assassinada com três tiros pelo ex-marido, o comerciante José Ramos Lopes Neto.

Nathália se emocionou duas vezes durante seu depoimento, mas conseguiu repassar muitos detalhes sobre o dia do crime. Ela foi atingida por uma bala no ombro direito.

ÁUDIOConfira trecho do depoimento de Nathalia Just durante cobertura do caso pela Rádio Jornal [abre em pop-up]

Em seguida, falou Zaldo Just, 23, irmão de Nathália, que baseou sua fala nas sequelas com que ficou. Na época com 2 anos e meio, o rapaz disse não ter recordações daquele dia.

Após o depoimento das vítimas, chegou a vez das seis testemunhas de defesa e acusação. Apenas uma de defesa foi ouvida. As outras ou não compareceram ou foram dispensadas.

Quem falou foi o policial Harlan de Andrade Barcelos, que na época efetuou a prisão de José Ramos. A defesa fez apenas perguntas técnicas a ele. Indagado pela acusação, falou mais. “Eu e o policial Laércio falamos com seu Zaldo e perguntamos onde estava o acusado. Se não me engano era uma escrivaninha, onde estava o acusado telefonando. Dei voz de prisão e perguntei para quem ele estava ligando. Ele respondeu que estava ligando para o pai dele (o advogado Gil Teobaldo, que fez polêmicas declarações à imprensa)”.

De acordo com o policial, o acusado estava tranquilo e não apresentou reação ao receber voz de prisão. Os policiais apreenderam um revólver calibre 38 utilizado no crime e uma faca de serra. “As armas que apreendi estavam com o senhor Zaldo. Se não estou enganado, a faca estava melada de sangue”, lembrou o policial.

Segundo ele, José Ramos tinha um corte superficial na barriga feito por ele mesmo. Após o depoimento, em conversa com os jornalistas, o policial falou mais sobre o caso. “O acusado disse que sabia que não tinha tido uma traição (por parte de Maristela). Disse que não queria perder ela”, contou durante a entrevista.

A calma de José Ramos relatada pelo policial Harlan serviu para que os defensores públicos embasassem a defesa.

ENTENDA O CASO – No dia 4 de abril de 1989, a universitária Maristela Just, na época com 25 anos, foi assassinada com três tiros pelo ex-marido, o comerciante José Ramos Lopes Neto. Depois de atirar contra a jovem, os dois filhos e o cunhado, ele foi preso em flagrante. No entanto, ficou atrás das grades por apenas um ano, beneficiado por habeas corpus. Os filhos de José Ramos, Zaldo Neto, na época com 2 anos, atingido por um tiro na cabeça, e Nathália, que tinha 4 e foi ferida no ombro, testemunharam contra o pai.


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