Planejamento familiar ainda não é universal

Por Thalif Deen, da IPS

Washington, 12/5/2010 – Cerca de cem milhões de mulheres tomam pílula anticoncepcional no mundo, enquanto subsistem certos setores sociais que não a aceitam como método de controle da natalidade e outros que a querem, mas não têm acesso a ela. O debate sobre o uso da pílula gira em torno de saber se incentiva a promiscuidade, quanto contribuiu para reduzir o crescimento populacional, se os efeitos secundários justificam sua conveniência e se a Igreja Católica finalmente a abençoará.

Na década de 60, as mulheres tinham, em média, mais de três filhos nos Estados Unidos. Nos anos 80, esse índice caiu para menos de dois. A pílula anticoncepcional foi o “primeiro meio pelo qual as mulheres tiraram o avental, aumentaram suas ambições e avançaram com entusiasmo para uma nova era”, segundo a revista Time. “Foi o primeiro medicamento criado para que pessoas sadias tomassem com regularidade”, acrescentou. Seu principal inventor foi um conservador católico que pesquisava um tratamento para a infertilidade, disse a revista, por ocasião do 50° aniversário da comercialização desse anticoncepcional oral.

A pílula “aumenta as opções das mulheres porque possibilita que exerçam seu direito de decidir quantos e quando querem ter filhos”, disse Thoraya Ahmed Obaid, diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). “Também ampliou as possibilidades educacionais e de emprego das mulheres, melhorando sua contribuição para a família, a sociedade e as nações”, disse Obaid à IPS. O planejamento familiar é um dos grandes êxitos mundiais em matéria de desenvolvimento. No entanto, mais de 200 milhões de mulheres carecem de métodos anticoncepcionais modernos nas nações pobres.

Em 1950 havia cerca de 2,5 bilhões de pessoas. No final deste ano serão 6,8 bilhões, e para 2020 a projeção é de cerca de 7,5 bilhões. O crescimento da população diminuiu, passando de 18,9% em 1950 para 10,7% em 2010. A previsão é de que continue a mesma tendência e que em 2020 seja de 8,7%. Cerca de 190 milhões de mulheres engravidam por ano, um terço delas sem planejamento, segundo o UNFPA. Quase 50 milhões de grávidas abortam anualmente, das quais 19 milhões em condições precárias, o que causa a morte de aproximadamente 68 mil.

Cerca da metade das mulheres do mundo carecem de métodos anticoncepcionais modernos, afirmou Donald Collins, que trabalhou na junta da Federação de Planejamento Familiar dos Estados Unidos. A situação persiste, 50 anos depois que a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos aprovou a pílula. Muitos bebês nasceram depois de 1960 sem estarem planejados. A população aumentou de três bilhões de pessoas para quase sete bilhões.

Somente com métodos anticoncepcionais e acessíveis, as mulheres terão possibilidades reais de optar, afirmou Collins, membro fundador do Instituto Guttmacher. Um novo método que aparentemente cumpre esses critérios é a anticoncepção permanente, chamada esterilização com quinacrina, atualmente em estudo pela FDA. A melhor forma de conter o crescimento da população é o planejamento familiar, disse Tamara Kreinin, diretora-executiva do Programa de População e Mulheres da Fundação das Nações Unidas.

Existem cerca de 215 milhões de mulheres nas nações em desenvolvimento que desejam saber sobre planejamento familiar, mas não podem ter acesso a ele, disse Kreinin. “A comercialização da pílula anticoncepcional foi inovadora há 50 anos porque, pela primeira vez, as mulheres tiveram mais controle sobre seu corpo”, afirmou à IPS. Mas resta muito a fazer. “As mulheres precisam contar com diferentes métodos anticoncepcionais, incluída a pílula, bem como receber assistência médica de qualidade”, respondeu Kreinin ao ser consultada sobre se este é um direito legítimo. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

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