Artistas criticam polêmica em torno de peça que exibe seio de jovem

Paulo Toledo Piza e Roney Domingos – Do G1 SP

MP investiga espetáculo teatral em que atriz de 16 anos mostra o seio. Cacá Rosset, Luciana Vendramini e Flávia Monteiro falam em ‘moralismo’.


malurodriguesA possibilidade de o Ministério Público em São Paulo e no Rio de Janeiro investigarem o musical “O Despertar da Primavera” é vista como um “protesto de falso moralismo e puritano” pelo ator e diretor teatral Cacá Rosset. As atrizes Luciana Vendramini, que posou nua para a Playboy aos 16 anos, e Flávia Monteiro, que gravou cenas de sexo aos 14 anos no filme “A Menina do Lado”, concordam com o artista.

Segundo os promotores, há a suspeita de os responsáveis pela peça terem infringido o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pelo fato de a atriz Malu Rodrigues (foto ao lado), de 16 anos, mostrar o seio em uma das cenas.

Em entrevista ao G1 nesta terça-feira (4), Cacá Rosset disse por telefone que o objetivo da peça não é incentivar a pedofilia nem a nudez da adolescente. “Essa obra discute o despertar da sexualidade. É feita de forma extremamente poética”, afirmou. “É como confundir bife à milanesa com bife ali na mesa”, brincou.

Luciana Vendramini Luciana Vendramini (Foto: G1)

“Acho que se tem aprovação dos pais e acompanhamento dos pais, não tem problema. Estamos falando de uma atriz que está fazendo isso no palco. Não está se prostituindo. Não está sendo violentada”, disse Flavia Monteiro.

O pai da atriz que atua em “O Despertar da Primavera”, o auditor fiscal Sérgio Rodrigues, afirmou por telefone ao G1 na segunda-feira (3) ter autorização judicial para a filha atuar no palco. Para ele, não há motivos para a polêmica. “Se minha filha disser que quer fazer topless na praia, vou conversar com ela”, afirmou. “Mas não é o caso. Existe um contexto, é uma peça clássica.”

Cacá concorda com a opinião de Rodrigues. “A obra é um marco da dramaturgia ocidental. Ela não faz apologia à nudez. Não podemos confundir a pedofilia com outro tipo de manifestação”, relatou.

O diretor disse ter sofrido com críticas semelhantes no início dos anos 1990. Naquela época, Cacá estreou uma montagem da peça “Sonhos de uma Noite de Verão”, de William Shakespeare, em Nova York. Atrizes da companhia teatral Ornitorrinco, da qual é fundador, atuavam nuas, apenas com o corpo pintado e tapa-sexo. “Foi um escândalo.” Grupos de extrema-direita chegaram a fazer campanha contra a peça, pedindo para o público boicotar as apresentações.

Sem traumas
Luciana Vendramini afirmou que quando posou nua para a Playboy, em 1987, fico

u mais chocada com a repercussão do que com a experiência em si. “O que me chocou na época foram as reações das pessoas. Como se não tivessem feito isso nos anos 70”, afirmou. “Estou falando de poesia e não de pedofilia. É contra isso (pedofilia) que eles deveriam estar preocupados. A peça é um deleite. Eu fico feliz em assistir.”

Flávia Monteiro afirmou que sua experiência foi positiva e que a repercussão acabou ajudando a bilheteria do filme, em 1986. Ela foi acompanhada pelos pais durante a filmagem.

“Antes de aceitar fazer o filme, meu pai me botou em uma entrevista com um psicólogo para saber se eu ia ter cabeça para suportar. Deu tudo certo, nunca tive problema. Adoro o filme. Amadureci à beça. Eu aprendi a ter responsabilidade com horário, cumprir com meus deveres.”

A atriz afirmou que na época não houve questionamento na Justiça. “Com a Justiça, não tive probema. Teve um político que fez um escarcéu, porque queria proibir. Eu estudava em colégio de padre. Os padres não foram reclamar. Foram as mães dos alunos que foram reclamar. Fizeram uma reunião. Não deu em nada. Sempre fui excelente aluna, nunca repeti. O importante é ter base familiar. O suporte é o que importa.”

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