Abortos prosseguem por falta de anticoncepcionais

Zofeen Ebrahim, da IPS

Carachi, Paquistão, 4/5/2010 – Perween Riaz, de 36 anos, espertou ter o sexto filho para fazer uma esterilização. Antes disso, fez quatro abortos em seis anos, apesar dos riscos. “Foi na minha quinta gravidez que decidi pela primeira vez abortar”, contou Riaz, que teve ajuda de uma “daí” (parteira tradicional). Riaz vive em um assentamento pobre da cidade portuária paquistanesa de Carachi com marido, filhos e filhas, uma delas divorciada e com um bebê de dois anos. Quando teve o sexto filho, decidiu optar por anticoncepcional seguro, e fez a esterilização.

 

Segundo a última Pesquisa Demográfica de Saúde Paquistanesa, as mulheres neste país têm em média quatro filhos, embora planejem três ou menos. Além disso, só 22% das mulheres casadas, entre 15 e 49 anos, usam métodos modernos de planejamento familiar, sendo a esterilização o mais popular (8%), seguida da camisinha (7%). Embora as paquistanesas queiram limitar o tamanho de suas famílias, quase 84% delas não usam nenhum método de planejamento familiar, segundo o estudo. Muitas áreas rurais não contam com serviços de saúde reprodutiva. Assim, uma em cada três gravidezes não é planejada.

Riaz disse que ir de sua aldeia até um centro médico não era fácil. Além do mais, “as mulheres, em geral, se esqueciam de tomar as pílulas regularmente. Estamos tão ocupadas com o trabalho, em casa e no campo, que perdemos a noção do tempo”, acrescentou. “Estas gestações não planejadas geralmente levam ao aborto”, explicou a presidente da Comissão Nacional para Saúde Materna e Neonatal, Sadqiqa Jafarey.

Neste país, são feitos por ano cerca de 900 mil abortos, segundo estudo de 2004 do não governamental Centro de População do Paquistão. Quase 200 mil mulheres maiores de 30 anos e com pelo menos três filhos são levadas aos hospitais por complicações devido ao aborto. James Gribble, vice-presidente de Programas Internacionais no Escritório de Referência Populacional, organização com sede em Washington que acompanha de perto as tendências da população mundial, disse em seu blog que “só depois que têm três ou mais filhos, as mulheres realmente começam a pensar em métodos de planejamento familiar. Após terem cinco ou mais, optam pela esterilização”.

No dia 21 de abril, o Escritório lançou seu projeto Engage (acrônimo em inglês de Eliminando a Brechas Nacionais: Igualdade Global Avançada), que busca criar em Carachi um “ambiente propício para fortalecer o planejamento familiar e os serviços reprodutivos”. O projeto também procura dar “mais visibilidade às necessidades insatisfeitas em matéria de planejamento e aos altos níveis de gravidez não desejada, bem como seus custos, suas consequências e soluções”.

O Paquistão é o sexto país mais povoado do mundo, com 180 milhões de habitantes. Se as mulheres continuarem tendo uma média de quatro filhos, a população crescerá para mais de 450 milhões em 2050, segundo a Organização das Nações Unidas. A nova Política Populacional do Paquistão, que será implementada esse ano, buscará reduzir a taxa para três partos por mulher até 2015. Essa meta foi alcançada por países como Indonésia e Irã. A taxa de fertilidade iraniana caiu de sete para menos de três filhos por mulher em 2001, enquanto 73,8% dos casais nesse país usam modernos métodos anticoncepcionais.

A Indonésia reduziu sua taxa de fertilidade de seis, na década de 60, para entre dois e três em 2003. Cerca de 58% dos casais usam métodos anticoncepcionais nesse país. “A população fora de controle é a mãe de todos os problemas”, disse Babar Sheikh, professor assistente e diretor do Programa de Políticas de Saúde e Administração da Universidade Agha Khan, ao participar do lançamento do Engage.

Sheikh também alertou que o Paquistão está à beira de uma grave escassez de água e alimentos. Três em cada cinco paquistaneses estão na pobreza, afirmou. Isto significa que metade da população sobrevive com menos de US$ 2 diários. A família de Riaz recebe apenas US$ 0,88 por dia. IPS/Envolverde

 

(IPS/Envolverde)

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