"A maioria dos adolescentes não é porra-louca", diz Laís Bodanzky

“As melhores coisas do mundo”, da diretora, estreia no dia 16. No filme, ela faz um retrato muito franco e fiel do que é ser adolescente nos dias de hoje. Confira entrevista …

LAURA LOPES – Revista Época

O que você faria, quando adolescente, se seu pai separasse de sua mãe para viver com um homem mais jovem? “Eu me mataria”, “Seria um pesadelo, um massacre na escola” foram algumas das respostas dadas por alunos de escolas particulares de São Paulo ao casal Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, roteirista e diretora do longa As melhores coisas do mundo, que estreia no dia 16 de abril em 150 salas de cinema do país. As emoções adolescentes, sem juízo de valor, estão fielmente representadas no longa – carregadas de hipocrisias, preconceitos e ideologias, do jeito que são na vida real.

Convidada para fazer um filme sobre a vida de um garoto de 15 anos de classe média da zona Oeste de São Paulo, Laís teve a ideia de sentar junto a adolescentes da vida real para criar o roteiro. Segundo Bolognesi, os jovens pediram que o filme os retratasse de verdade, e não caísse nos estereótipos de jovens drogados, da “geração perdida”, ou no besteirol da dicotomia entre nerds e “pegadores”. Os adolescentes também adicionaram ao roteiro a difusão instantânea de informações (e fofocas) que o celular e a internet permitem.”Eles falavam para não colocar gente mais velha fingindo que é nova. Se o personagem tem 15 anos, o ator tem que ter 15 anos”, afirma Laís, sobre o que normalmente acontece em filmes e novelas. A saída foi contratar não atores para boa parte do elenco, entre eles Francisco Miguez e Gabriela Rocha, que vivem o protagonista Mano e sua melhor amiga, Carol. “Eu queria o frescor. Eles tinham a liberdade de pegar o texto do roteiro e colocar nas suas próprias palavras”, afirma Laís. Também constam do elenco Denise Fraga, Paulo Vilhena, Caio Blat, José Carlos Machado, Gustavo Machado e Fiuk (o ídolo teen, filho do cantor Fábio Jr.).

Laís e Bolognesi descobriram que muitos dos medos que eles tiveram quando passaram pela adolescência não mudaram depois de tantos anos. Os adolescentes de hoje continuam sem saber como lidar com as escolhas que irão moldar seu caráter no futuro, se confundem com beijos fugazes em festinhas, não saem transando com qualquer um e não vivem uma vida de esbórnia, envolvida por álcool e drogas, ao contrário do que os pais pensam. A maioria circula por vários grupos, morre de medo de ser excluída, gostaria de se destacar entre os amigos, no entanto, quando alguém realmente se destaca como diferente –- sendo muito inteligente, homossexual ou extremamente calado –, é posto de lado. “As meninas pensam que são diferentes se ficam com outras meninas nas festas, por exemplo. Elas têm status, é legal. Mas quando fica claro que o barato de uma delas é o sexo feminino mesmo, ela é classificada pelo grupo. Quando aparece uma pessoa única, eles rejeitam”, afirma Laís, que retratou isso no filme através de Bruna, uma garota lésbica.

Miguez, de 15 anos, e Gabriela, de 16, ficaram encantados com toda a parafernália da produção. “Eu não imaginava que tinha um cara que só controlava a iluminação”, diz a garota, que está no terceiro ano do ensino médio. “No começo, fizemos os testes para elenco mais como uma brincadeira, porque os amigos também foram”, afirma Miguez. No set de filmagens, a diversão continuou. Eles não tinham que decorar nenhum diálogo, apenas falavam o que estava no roteiro de um jeito natural, como diriam na vida real. Por isso, talvez, tiveram que gravar uma mesma cena diversas vezes – repetição frequente ao longo das gravações. Para um adulto que assiste ao filme, fica a pergunta: “Será que tudo isso realmente acontece? Será que o longa é fiel?”. “Sim, tudo o que acontece no filme eu já vi acontecer, mais ou menos próximo de mim. É totalmente fiel”, diz Gabriela. Enquanto Miguez curte sua dúvida adolescente, “sem ter que ser menosprezado por causa disso”, Gabriela parece que sabe qual caminho percorrer. “Eu queria ser médica legista, mas estou preferindo ser atriz, porque não quero fazer faculdade agora…”

Confira a entrevista que a diretora Laís Bodanzky concedeu a ÉPOCA por telefone, em que ela fala sobre a descoberta desse mundo adolescente cheio de conflitos e também de seu projeto Cine Tela Brasil, que percorre as periferias das cidades brasileiras exibindo filmes nacionais em uma sala de cinema itinerante. Para a maioria do público, trata-se da primeira experiência na sétima arte.

ÉPOCA – Vocês visitaram sete escolas para fazer o roteiro. Como elas foram escolhidas e como se deu esse processo?

Laís Bodanzky – Eu e o Luiz Bolognesi recebemos o convite para fazer uma história a partir da série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. Mas tínhamos total liberdade para crirar uma história nova. Resolvemos consultar a fonte, porque a série indicava que seria um filme de um protagonista adolescente, do Mano, e a ideia é que esse filme conseguisse dialogar com o próprio adolescente. Achamos que seria saudável conversar com eles. Como o protagonista é de uma escola particular, resolvemos ir a várias escolas particulares aqui de São Paulo, mas de universos completamente diferentes. Então fomos ao Bandeirantes, Arquidiocesano, Sion, Santa Cruz, mas também ao Vera Cruz, Oswald de Andrade, que é a escola do Francisco, ao Equipe… escolas que têm formas muito peculiares de educação. Eram sempre grupos pequenos, de no máximo 10 pessoas, e conversas de uma tarde inteira e com muita intimidade. A gente abriu o jogo falando sobre o filme, e quando eles entenderam que era para falar sobre o mundo deles, eles se abriram completamente, entenderam que a gente precisava ouvir as histórias pessoais. E virou quase uma terapia em grupo. Eu me emocionei algumas vezes porque vieram histórias fortes, íntimas de família, do mundo da escola. E aí, nessas conversas, ficou claro que o filme tinha que passar boa parte dentro de uma escola, porque eles passam mais tempo na escola do que com a família.

ÉPOCA – O que você descobriu nessas conversas, desse mundo? O que você imaginava que fosse e não era?

Laís – A primeira percepção foi totalmente o contrário, que é muito próximo daquele sentimento que eu tive na minha adolescência. Eu ouvi os depoimentos, eles muitas vezes se achando incompreendidos, e é um sentimento universal você se achar o único diferente. Mas depois você percebe que o que acontece com você acontece com a grande maioria. E isso faz parte da fase do crescimento, deixar a infância para trás e na hora que você tem que andar com as próprias pernas e ter opinião sobre tudo, de repente você percebe que não sabe direito quem você é e isso causa insegurança. E você vai moldando, criando uma personalidade, uma maneira de ser única. Até então você ainda é muito a cria dos seus pais. Depois, passa a ter consciência e a responder pelos seus próprios atos. Eles sentem muita falta de serem ouvidos pela família, pela escola e pelos próprios amigos. O adolescente quer ser reconhecido pelo grupo, sempre.

Laís conversa com Francisco e Gabriela no set. Eles traduziram para a sua própria linguagem as falas do roteiro

ÉPOCA –

Como foi a escolha do elenco?

Laís – Ator famoso, nessa idade, não tem tanto. Também porque não deu tempo de ficar famoso… Nas conversas com o grupo, sem eles saberem, eu já estava enxergando aqueles meninos no filme. O próprio Francisco veio do grupo de roteiro. Ele já me chamou a atenção na conversa, ele tinha um brilho nos olhos… Mas abrimos inscrição para várias escolas e foram 2.500 inscrições e um processo de quatro meses até fechar o elenco. A ideia não era pegar gente de TV. Eu queria o frescor, para mim era muito importante isso. E também porque eu nunca tive medo de achar que (ator) sem experiência não iria conseguir fazer. Consegue, principalmente para o adolescente,
cuja infância foi ontem, e brincar é sempre uma coisa séria. Na hora que a gente explicou para eles como era a regra do jogo, que atuar na verdade é enganar, eles faziam. Eu dizia: “só vou falar ‘valeu’ quando eu achar que vocês não estão atuando”. Aí virou um desafio que eles adoraram. Eles tinham a liberdade de pegar o texto do roteiro e colocar nas suas próprias palavras. Isso também é um facilitador para não ficar duro. E durante o tempo inteiro eles me corrigiam e davam dicas. “O fulano falou isso, mas ninguém fala assim”. O Fiuk nunca tinha feito nada até então, ele veio porque, além das escolas, eu abri espaço para jovens de bandas e um amigo falou para ele fazer o teste. Eu estava procurando pessoas que tivessem intimidade com o mundo musical. E o Fiuk veio nessa, fez o teste como todos. A Malhação veio depois, foi o contrário. Eu também não sabia que ele era filho do Fábio Jr. Me contaram depois.

ÉPOCA – E em relação à homessexualidade? Tanto da Bruna, da personagem que é lésbica, quanto do pai do Mano, que vai viver com um homem. Como isso passou nessas conversas?

Laís – A menina que fica com a menina não é que ela realmente se interessa só pelo universo da mulher, e ela vai seguir isso na vida dela. É uma experimentação, quase uma brincadeira. Mas na hora que aparece uma menina que realmente fica claro, pela maneira de pensar, de se comportar, de se vestir, de que o barato dela é realmente o sexo feminino, e ela assume isso, aí ela é classificada pelo grupo e mesmo as meninas que ficam com outras meninas não entendem. É aí que para mim ficou claro que na hora que a pessoa é diferente de verdade, ela é separada do grupo.

A adolescência é a descoberta e para muitos está sendo o primeiro beijo. A gente tem um pouco a ideia de que o adolescente hoje já transa, já faz e acontece e não é verdade. Claro que tem, mas é uma exceção. E as exceções viram as grandes bandeiras e parece que é uma geração inteira assim. Não é. Na verdade, muitos estão beijando pela primeira vez, transando um ou outro, mas todos com desejo disso. E o beijar e o ficar nas festas é uma questão séria para eles. Eles não sabem como lidar com isso. Porque a menina que fica com todos é chamada de galinha, pelas meninas e pelos meninos. E o menino que fica com todas é o que todas querem. Ele não tem uma imagem negativa no grupo, pelo contrário, ele é desejado. Só que, ao mesmo tempo, as meninas hoje têm a consciência de que elas têm o mesmo espaço que os meninos, mas não sabem como lidar com isso. Eles estão vivendo um grande conflito nessa história de ficar, ficar até que ponto, e por que ficar? A personagem da Carol questiona isso, eu quis tocar nesse tema como central porque é o tema central deles.

ÉPOCA – No filme, o pai do Mano sai de casa por causa de uma relação homoafetiva, e isso foi inserido no roteiro pelo Luiz Bolognesi. Ou seja, não foi debatido no começo como sendo uma experiência dos próprios alunos. O que eles acharam disso, o que eles fariam no lugar?

Laís – A gente percebia sempre uma risada nervosa. A primeira reação era essa e é a reação que acontece em qualquer plateia. É um susto. Mas ao mesmo tempo todos eram muito compreensivos, só que, como o próprio Mano fala no filme, e eles pediam para que ficasse assim, “tudo bem o pai do outro ser gay, mas o meu? Por que o meu?”. E eles falavam, “se fosse o meu, meu mundo ia cair”. Porque a gente queria que a reação do Mano correspondesse à reação de verdade de qualquer um deles. E a gente verificou isso. Até a maneira de como dizer, se a gente estava sendo politicamente incorreto, como o próprio Mano diz… Eles falavam “eu pensaria assim. Então tem que falar aquilo que a gente pensa. A nossa reação seria igualzinha à do Mano”. Eu fiquei preocupada em ser coerente com eles, com o sentimento deles. Mesmo respeitando a reação do Mano, o sentimento de um adolescente puro, genuíno, favorece o diálogo, a conversa depois do filme. Por ter uma certa hipocrisia. A gente sempre fez questão de apresentar o novo relacionamento do pai num formato verdadeiro, porque poderia ser um homem ou uma mulher. Mas é um homem, e são pessoas se relacionando e se amando, e é isso que interessa. E é assim que o mundo homossexual funciona. Algumas pessoas mais velhas nos disseram que abordamos o tema com muita franqueza, sendo real para todo mundo porque a sociedade se comporta assim.

Mano faz como todo adolescente de sua idade: se tranca no quarto para entrar em contato com vários grupos online

ÉPOCA – E a questão da comunicação? Com as mídias sociais, internet, muita foto circulando – o que é mostrado no próprio filme. Você começou a ter Twitter depois do filme. O que você descobriu de novo na relação dos jovens com a difusão das informações?

Laís – Eu não tinha noção do quanto eles se comunicam através dessas redes sociais. E uma coisa engraçada é quando um adolescente se tranca no quarto e se isola. Na verdade ele se tranca e se une aos outros, ele não está isolado, muito pelo contrário, está online e com vários grupos ao mesmo tempo. O adolescente é muito concentrado em muitas coisas ao mesmo tempo, tem facilidade de sobrepor informações como um malabarista. Se de um lado você troca muito mais com o outro, a troca de informação é muito mais precisa e eficiente, você tem a possibilidade de muitos te ouvirem, ao mesmo tempo essa própria mídia pode de trair e virar seu pesadelo. Se perde o controle dessa mídia, é o caso do bullying – essa palavra que explica uma coisa que sempre existiu, e por causa da tecnologia ficou muito intensificada. Que é quando você isola alguém do grupo por considerá-lo diferente. Essa faixa de idade tem dificuldade para entender e compreender o que é diferente. O grande medo deles é se tornar o diferente e muitas vezes esse medo é tão grande, que antes que aconteça isso com eles, eles acusam o outro. E pode cair na internet e vira um tsunami, extrapola a sala de aula, extrapola o pátio do colégio, e extrapola o colégio. Essa tecnologia ajuda muito a formar essa geração. São pessoas muito bem informadas naquilo que os interessa, são excelentes pesquisadores e conhecedores.

ÉPOCA – Eles falam muito ao celular? Na minha adolescência, eu passava horas falando ao telefone, depois de ficar o dia inteiro no colégio com os amigos…

Laís – Hoje eles chegam em casa, trancam a porta do quarto. Só que ficam na internet, continua no celular, e na internet é Twitter, Orkut, tudo ao mesmo tempo. É exatamente isso. Chega em casa e, em vez de desligar, não, liga mais (risos).

ÉPOCA – O que foi modificado pelos alunos?

Laís – Esse lado tecnológico não existia tão claramente (risos). Os blogs são espaços, por exemplo, em que eles falam tudo e um espaço em que os pais podem perceber o que está acontecendo com eles. As histórias que eles traziam nos primeiros encontros já tinham esses elementos. Mas depois a gente colocou na roda uma versão do roteiro para uns grupos, eles chamaram a atenção que estava faltando isso. “É o nosso dia a dia, mas não tem internet, ninguém mandou uma mensagem para ninguém…”. Aí eles deram dicas onde, no roteiro, a gente podia colocar essas mídias. Isso foi uma crítica deles.

ÉPOCA – No filme há o blog da Dri Novaes, sobre todas as fofocas da escola. Existem mesmo blogs desse tipo? De onde surgiu a ideia?

Laís – Existem. Sites muitas vezes anônimos, que já deram muita confusão, e outros assumidos, com assinatura. E não é em uma escola, mas na grande maioria das escolas e de todos os estilos, é muito comum.

ÉPOCA – Além da tecnologia da informação, o que mais eles mudaram no roteiro?

Laís – Em uma versão do roteiro, nós tínhamos certo pudor de colocar drogas e bebidas no cotidiano deles. E eles pediram, porque é assim. Mas eles davam o termômetro: não é para enfiar o pé na jaca, mas mostrar como é de verdade. Eles falavam até

chateados “minha mãe acha que eu vou para a festa e tudo lá é uma loucura. Não é bem assim”. Claro que tem, mas não é que todos consumam. Às vezes um ou outro dá uma escorregada. Em filmes de adolescentes, normalmente eles são estereotipados, nerds ou totalmente drogados e ‘porra-loucas’ e os pais acham que eles são assim. E eles ficam mal porque para convencer os pais de que eles não são é muito difícil. Então eles queriam um filme em que a droga existisse, que o cigarro existisse… a droga está ao redor, mas ela não é a rotina, não é o cotidiano. Eles enxergam e sabem o tempo inteiro que está ali do lado, mas isso não significa que são viciados ou que são completamente malucos.

ÉPOCA – No filme Chega de saudade, você trabalhou com atores bem mais velhos, abordando a terceira idade, e agora você se volta para o mundo adolescente. O que tem de diferente ou parecido, afinal, são dois extemos da vida?

Laís – São dois extremos, mas o que eu trabalhei no Chega de saudade eu quase que diria que é muito próximo a esses meninos. Eu caí num salão de baile, de pessoas muito dispostas e muita energia, com suas questões e seus dramas como os adolescentes, porque isso faz parte da vida. Começa na adolescência e você vai levar para a vida. Para mim, Laís, como um aprendizado de vida, eu posso dizer que vou levar meus sentimentos da adolescência para sempre e sem medo de envelhecer. Serei capaz de chegar a uma idade mais avançada e continuar com a mesma pulsação da adolescência. A minha abordagem da velhice, mesmo com seus dramas, respeitou essa adolescência que a gente carrega para sempre. Mas eu tinha a noção de que o set de filmagem ia se tranformar numa bagunça trabalhando com adolescentes. Trabalhar com adultos é diferente, você senta, conversa e argumenta. Porque no Chega de saudade eu tinha uma figuração inteira (de não atores) de salão de baile (risos).

ÉPOCA – Eu percebi que o Fiuk tem uma postura mais séria em relação ao filme, mesmo nas entrevistas, talvez por conta do personagem carregado que ele interpreta ou por ele ter experiência artística como músico. Já para o Francisco e a Gabriela era mais oba, oba.

Laís – O Fiuk é muito diferente do Pedro (personagem dele no filme), e ele também é um pouco mais velho que os outros meninos. Nos olhos do Fiuk dava para ver que ele estava encantado porque tinha acabado de descobrir uma nova profissão. Isso estava nítido. E os meninos vieram um pouco como “ah, que legal” (risos). Mas eles não tinham parado para pensar o que significava aquilo na vida. Eles gostaram de viver a experiência, mas quais as consequências disso eles não tinham noção. Talvez o Fiuk já tivesse.

Mano e Carol são melhores amigos no filme. Para Laís, Gabriela é uma execelente atriz

ÉPOCA – Noção nenhuma porque o Francisco falou que ainda está no primeiro colegial e nem sabe o que quer fazer. Mas a Gabriela, que já está no terceiro, disse que queria fazer Medicina, mas achava que iria ser atriz porque não queria fazer faculdade agora…

Laís – (risos) Isso porque antes ela queria culinária (risos). Ela é uma grande atriz. Ela emprestou muito dela para a personagem, mas é uma grande atriz. Tem que estudar, talvez ela não tenha consciência ainda. Mas ela é estudiosa, não arregou em nenhum momento. Foi muito divertido para eles, mas eles trabalharam pra burro, e não perceberam que aquilo era trabalho. Acho que só vai cair a ficha lá na frente, mas ela é muito boa. Eu quero que ela seja atriz porque é uma pena se a gente não tiver a Gabriela como atriz. Muito expressiva, muito inteligente…

ÉPOCA – Vocês ainda acompanham as sessões do projeto Cine Tela Brasil (criado em 1996 junto com Luiz Bolognesi e que aumentou de tamanho em 2004)?

Laís – Agora são duas salas itinerantes e, a cada semana, vai a uma nova periferia de uma nova cidade. Por mais que a gente queira, a gente não dá conta. Temos uma equipe imensa trabalhando, mas sempre que a gente consegue a gente vai. Mas temos outras maneiras de acompanhar o projeto, à distância. Estou diariamente cuidando do Cine Tela e das oficinas de vídeo que também acontecem em várias periferias do país.

ÉPOCA – Qual é a reação das pessoas no Cine Tela Brasil? Muitas nunca foram a um cinema antes?

Laís – A nossa equipe sempre relata para a gente algumas coisas curiosas que acontecem. Uma coisa que é padrão, mesmo aqui em São Paulo, é que mais da metade da sala está indo ao cinema pela primeira vez. Isso por si só já é muito forte. Em Francisco Morato (na Grande São Paulo), uma garotinha ficou pedindo à mãe dela que a levasse ao local onde estávamos desmontando o cinema para que ela se despedisse de todos e desejasse boa sorte. As crianças enlouquecem. Quando acaba uma sessão, elas voltam para a fila para assistir de novo, ao mesmo filme (risos). Elas são as mais puras, normalmente elas que puxam a família e muitos familiares também estão indo pela primeira vez. No Paraná, havia umas pessoas tão humildes que não acreditavam que podiam entrar no cinema de graça. Passavam do outro lado da rua, com toda a família, e se ninguém as chamassem, não entrariam.

ÉPOCA – Quais foram os filmes que mais emocionaram a plateia?

Laís – Na verdade, a própria experiência do cinema comove. A gente fez uma tenda com entrada lúdica, tem um desenho de uma fachada de cinema de rua, tapete na entrada, ar condicionado, som surround, a tela é grande, e essa experiência coletiva… eles se emocionam pelo ritual. Entre os filmes, tem de tudo. Para alguns filmes a gente desenvolve um material didático para o professor trabalhar o filme em sala de aula e fica disponível no site www.telabr.com.br.

ÉPOCA – Quantas cidades vocês já visitaram?

Laís – A gente já fez 280 cidades, no total, e 653 mil expectadores. As sessões acontecem durante três dias seguidos na cidade. Para este ano, a expectativa é de que 852 sessões sejam realizadas pelo país (cada sessão comporta 225 espectadores). No começo era um cinema mambembe, em aldeias indígenas, em povoados sem energia elétrica, porque íamos em uma picape. Hoje o projeto não vai tão distante, porque é um caminhão que leva o cinema. E temos o limite da estrada, mais concentrado nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, mas não é uma regra.

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