Alunas da Universidade de Brasília mobilizadas contra a violência

Depois do estupro de uma estudante na segunda-feira, universitárias se reúnem para exigir mais segurança na UnB e nas imediações. Amanhã, as demandas serão levadas ao reitor

Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press
Aluna confecciona cartaz durante a reunião, reservada a mulheres, ocorrida ontem no CA do serviço social
 


Mais de 80 alunas da Universidade de Brasília se reuniram ontem para organizar ações e protestos contra a violência à mulher no câmpus. Na noite de segunda-feira, uma estudante do curso de letras foi estuprada no terreno baldio da 606 Norte, usado por universitários para chegar até a parada de ônibus da L2 Norte. “Quantos estupros mais serão necessários para que alguém tome providências?”, questionou uma das participantes. 

A discussão aconteceu no Centro Acadêmico de Serviço Social e a entrada de homens não foi permitida. Em pauta estavam os problemas que há anos atormentam as universitárias: falta de iluminação e transporte que circule dentro do câmpus à noite, e insegurança. A necessidade de fechar o terreno baldio onde ocorreu a violência foi consensual. Muitas estudantes afirmaram ter medo de passar sozinhas pelo local e acreditam que o mato alto facilita os ataques. “O fechamento é medida emergencial”, afirmou a aluna de serviço social Mariana Rabelo. 

Uma das reivindicações é a contratação de vigilantes mulheres. Para as alunas, ter uma mulher encarregada da segurança significaria alguém que compreende a vulnerabilidade e as situações de perigo enfrentadas pelas estudantes. Também são exigidas a transparência da reitoria e da prefeitura da UnB em relação aos números da violência sexual no câmpus e a criação de um centro de referência para a mulher, espaço que, além de sediar discussões, poderia receber reclamações de assédio e agressão. “Esses casos de violência não são raros. Precisamos de uma organização de mulheres que atue o tempo inteiro. Precisamos, inclusive, fazer um serviço de educação com os homens para acabar com o machismo e a cultura da agressão dentro da universidade”, explica Angélica Pires Lucas, 20 anos, estudante de farmácia. Ela se diz insatisfeita com a atuação da polícia quando houve casos, por exemplo, de tarados e estudantes sendo perseguidas. “É difícil encontrar um policial que esteja disposto a ajudar. Nunca dá em nada.” Para ela, é preciso que a discussão sobre a segurança feminina extrapole a UnB. “Outras universidades e a sociedade têm de levantar a bandeira e começar a cobrar mais das autoridades”, diz. 

Durante o encontro, cartazes de alerta e repúdio ao estupro foram confeccionados e depois espalhados pela universidade. “Temos que ser radicais. Parece que as pessoas estão andando com vendas, ignorando o problema”, diz uma aluna de letras que preferiu não se identificar. Ela é amiga da vítima do caso de segunda-feira e conta que até agora não acredita que o alvo da violência foi uma pessoa tão próxima. “Estou tomando providências até ilegais, como o spray de pimenta, para me proteger”, revela. 

Amanhã, as alunas se reúnem novamente para entregar uma carta com as demandas ao reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Júnior. Também está previsto um ato simbólico no local onde, na segunda-feira, ocorreu o estupro. Até ontem, o agressor não havia sido identificado. Na terça-feira, um suspeito foi levado à delegacia, mas a vítima não o reconheceu. Pela descrição da aluna, o autor do estupro é careca, moreno, magro, com 1m68 de altura e idade entre 23 e 25 anos. Ele vestia calça jeans e tênis. 

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