Especialista ressalta a necessidade de políticas para conter feminização da Aids

Natasha Pitts – ADITAL*

Adital -A crescente quantidade de mulheres contaminadas pelo vírus da Aids tem feito este tema ser debatido largamente em todo o Brasil. Durante o ‘Seminário Nacional Feminista: aprofundando o debate sobre a Aids’ que foi realizado até ontem (5), em Recife (Pernambuco), um espaço foi reservado para a discussão da Política Nacional e Internacional de Aids no Enfrentamento a Feminização da Epidemia.

A partir dos anos 90 a quantidade de mulheres com Aids começou a crescer. Hoje, elas representam cerca de 50% do total de pessoas contaminadas. Segundo Josineide de Meneses, debatedora do Seminário Nacional Feminista e membro da Gestos, entidade que defende os Direitos Humanos das pessoas soropositivas, as mulheres sempre se contaminaram, no entanto, isso só foi visibilizado há pouco tempo.

"Por conta da violência, da pobreza e da falta de poder para negociar a prática de uma relação sexual segura as mulheres acabam se contaminando. E não é porque elas são independentes e estão no mercado de trabalho que se encontram em situação de igualdade com os homens. As mulheres ainda sofrem várias formas de violência, sobretudo as da região Nordeste", explica Josineide.

Para conter essa feminização da Aids estão sendo realizadas políticas de combate em âmbito nacional e internacional. No Brasil, uma das iniciativas fomentadas pelo Ministério da Saúde foi a criação de o "Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia de Aids e outras DST". As ideias foram publicadas em março de 2007 e já passaram por uma reformulação, tendo sido relançado em julho deste ano.

O Plano norteia a implantação e a implementação de ações de promoção à saúde e aos direitos, da área sexual e reprodutiva, em nível federal, estadual e municipal. Para isso, foram estabelecidas estratégias intersetoriais para ampliar o acesso aos insumos e às ações de prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento das doenças sexualmente transmissíveis e da Aids para mulheres de todas as regiões do país.

Mesmo com a evolução que este Plano representa, para Josineide ainda é preciso que ele seja bastante discutido. "O Governo Federal norteou as ações dos estados e dos municípios, mas é preciso que os gestores discutam com as mulheres como essas ideias podem ser aplicadas focando a realidade de cada região. As soluções não devem ser criadas apenas pelo Ministério da Saúde", esclarece.

Em âmbito internacional as discussões estão relacionadas à Aids e os direitos sexuais e reprodutivos, que é a liberdade que a mulher tem de decidir sua vida sexual e reprodutiva. A maioria dos países não efetivou este direito, situação que tira das mulheres várias possibilidades de transformar suas relações sociais, lutar contra os preconceitos e garantir seu bem-estar.

"Muitos países mesmo tendo participado da Conferência do Cairo não conseguem colocar em práticas esses direitos da mulher. Hoje a educação sexual não está nos currículos das escolas e nem nas formações continuadas dos professores. É preciso que desde cedo o menino saiba que tem que respeitar a menina, pois com uma conscientização feita desde cedo é mais fácil a compreensão dos direitos. Queremos que a feminização da Aids seja debatida não só no dia 1º de dezembro, mas sempre e sobretudo nas escolas", alerta Josineide.

Outra situação que vem causando preocupação é a morosidade com o que os resultados da testagem rápida têm chegado à casa das gestantes. "É direito de toda mulher fazer o teste quando estiver grávida para saber se ela tem ou não Aids, pois isso dá a ela a opção de tomar o coquetel e cuidar do bebê, no entanto o que está acontecendo é que os resultados não chegam a tempo e muitas só acabam descobrindo quando fazem o teste antes do parto. O Estado precisa tomar uma providência, pois isso é também uma forma de violência", fala Josineide.

* Jornalista da Adital

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