Professores defendem aborto de anencéfalos

Professor da USP e socióloga da UnB discutiram o assunto em ciclo de debates sobre os desafios da Justiça no país

Roberto Fleury/UnB Agência
 

 Bernardo Monteiro Rebello – Da Secretaria de Comunicação da UnB

De cada 700 crianças nascidas no Brasil, uma é anencéfala (não possui cérebro). O dado foi apresentado pelo professor da Universidade de São Paulo Thomaz Gollop, durante a conferência Aborto e tortura: o caso da anencefalia, nesta terça-feira, 3 de novembro. Gollop e a professora da UnB Lourdes Bandeira apresentaram seus argumentos sobre o tema no debate inaugural do ciclo Desafios de Justiça: novos direitos na Suprema Corte brasileira, organizado pela ONG Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis).

Roberto Fleury/UnB Agência
Gollop: a decisão sobre esse tipo de aborto deve partir da gestante

“A decisão sobre esse tipo de aborto é pessoal e deve partir da gestante. Obrigar uma mulher a manter uma gravidez como essa pode ser considerado uma tortura”, afirma o professor da USP. Sobre a discussão entre crenças pessoais e ciência, Gollop é incisivo: “Fé é uma questão, exercício da medicina é outra. Não existe exceção, 100% dos casos de anencefalia são irreversíveis. Por definição, o feto anencéfalo não tem atividade cerebral, ele é um natimorto”, reforça.

O palestrante defende maior espaço para a discussão do aborto de anencéfalos. “O preconceito não ocorre só na sociedade. Médicos contrários a esse tipo de aborto também discriminam aqueles que são a favor”, diz o professor da USP. Para ele, esse tipo de atitude se reflete na lentidão para tratar a questão. “Nós estamos lidando com esse tema há mais de cinco anos no STF”, lembra.

UNIVERSIDADE – A professora Lourdes Bandeira, do Departamento de Sociologia, aponta que a desinformação também ocorre nas universidades.  “O meio acadêmico não está imune a esse tipo de preconceito.”

Roberto Fleury/UnB Agência
O não reconhecimento do aborto de anencéfalos representa um retrocesso, opina Lourdes

“O não reconhecimento do aborto de anencéfalos representa um atraso, um retrocesso”, argumenta a socióloga. Para a professora, a mulher deveria, de acordo com suas crenças individuais, ter liberdade para realizar qualquer intervenção no próprio corpo. “É importante lembrar que, nesses casos, não existe qualquer possibilidade de salvação”, ressalta.

O ex-aluno de Desenho Industrial da UnB André Said conferiu a palestra desta terça-feira. “Esse assunto é polêmico, eu queria me aprofundar”, conta. “Mas faltou o outro lado da questão. A universidade, como o próprio nome já diz, é um ambiente perfeito para um debate plural nos mais diversos assuntos”, pondera. 

 

PROGRAMAÇÃO

Os encontros seguem até o final deste mês, no Auditório Dois Candangos (Universidade de Brasíloia – Campus Darcy Ribeiro). Os debates ocorrem sempre às terças, às 12h30, e são abertos ao público. Quem assistir, pelo menos, três palestras receberá um certificado da Anis.

10 de novembro – Direito à saúde e judicia.lização do acesso a medicamentos
Convidados: Paulo Leivas – MPF/PRR4
                   Marcela Vieira – Conectas

17 de novembro – Se o estado é laico, como existe ensino religioso nas escolas públicas?
Convidados: Daniel Sottomaior – Atea
                   Salomão Ximenes – Ação Educativa

24 de novembro – Novas formas de família: a união civil entre pessoas do mesmo sexo
Convidados: Deborah Duprat – MPF/PGR
                   Tatiana Lionço – Anis

 

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