Impunidade e cadeia nova marcam 2 anos de crime no Pará

Dos 12 acusados de violentar uma menina ninguém foi responsabilizado; governo do Estado incluiu garota e familiares em programa de proteção

 

Do R7

 

Eliseu Dias Agência Pará/DivulgaçãoFoto por Eliseu Dias Agência Pará/Divulgação

Novo complexo da Polícia Civil do Pará que foi construído no mesmo local onde existia uma delegacia de Polícia Civil onde uma garota de 15 anos ficou com homens na mesma cela há dois anos

Há dois anos uma menina de 15 anos era presa e mantida durante 26 dias numa cela de homens em uma cadeia de Abaetetuba, interior do Pará, onde foi violentada. Policiais e até mesmo uma juíza sabia do crime. Ninguém foi punido pela Justiça até agora. A solução do governo do Pará, comandado por Ana Júlia Carepa (PT), para o caso foi incluir a garota e sete parentes dela em programas de proteção de testemunhas e colocar abaixo a cadeia em que ela ficou. No lugar, a governadora inaugura na manhã desta sexta-feira (23) um complexo da Polícia Civil, com delegacia e serviços administrativos.

L.S.P. foi presa no dia 21 de outubro de 2007 por suspeita de roubo. No momento da prisão, ela estava sem documentos e foi identificada como maior de idade. Mas, na verdade, a jovem contava com apenas 15 anos. Como a cadeia para onde foi levada, em Abaetetuba, não tinha cela para mulheres, a menina ficou detida com os homens. Durante a prisão, que durou até 14 de novembro, ela sofreu violência sexual. Atualmente, mora em Brasília, segundo o Tribunal de Justiaça do Pará, e sua identidade e localização são mantidos em segredo.

Clarice Maria de Andrade, juíza de Abaetetuba à época, é investigada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) por dois motivos: saber que uma menor estava presa com homens e não tê-la tirado de lá e elaborar suposto documento falso enviado à Corregedoria do Tribunal de Justiça do Pará se explicando. Ela pediu para ser transferida e, hoje, atua em Castanhal (PA). O R7 não conseguiu localizá-la para comentar o assunto. 

O caso ganhou repercussão internacional e chocou autoridades. A presidente da OAB-PA (Ordem dos Advogados do Brasil), Angela Sales, disse ao R7 que o processo criminal deveria ser acelerado.

– É lamentável. O processo deveria andar mais rápido e é o Ministério Público quem deveria agir.

Após saber do que aconteceu, a promotora de Justiça de Abaetetuba à época, Ana Carolina Vilhena Gonçalves, abriu investigação. O resultado disso foi a denúncia oferecida em junho de 2008 contra 12 pessoas, entre elas, agentes carcerários e policiais civis. Ana Carolina diz que a ação já deveria ter sido julgada, mas que acabou atrasando, segundo ela, por causa de trâmites do processo. Hoje um outro promotor acompanha os depoimentos.

Questionado se a sociedade não deveria ter uma resposta passados dois anos, o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Flávio de Melo Figueiredo, disse ao R7 que “em termos de ações do governo do Estado existem bastantes argumentos [respostas] nesse sentido”. A reportagem quis saber quais e ele disse que a inclusão da garota e de sete parentes seus em programas de proteção à testemunha e a demolição da antiga delegacia e construção de uma nova e mais completa no lugar são as respostas do governo do Estado do Pará para o caso.

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