Jornalista punida por usar calças se recusa a pagar multa e é presa no Sudão

Ela está lutando contra o fundamentalismo no Sudão. Condenada por ‘indecência’, Lubna escapou de levar 40 chicotadas. Ela foi levada a prisão feminina perto de Cartum, diz advogado. O caso levantou polêmica mundial em julho, quando Lubna e outras mulheres foram presas em um restaurante da capital sudanesa, Cartum. Algumas delas admitiram imediatamente sua culpa e foram chicoteadas no próprio local, mas outras, inclusive Lubna, preferiram encarar o tribunal.

 

Do G1, com agências internacionais

  

A jornalista sudanesa Lubna Ahmed al-Hussein em foto de 13 de junho em Cartum. (Foto: AFP)

A jornalista sudanesa Lubna Ahmed al-Hussein, condenada por "indecência" nesta segunda-feira (7) pelo fato de ter usado calças em público, foi presa depois de se recusar a pagar uma multa equivalente a US$ 209 (cerca de R$ 385) imposta por um tribunal local, segundo seu advogado.

Ela estava arriscada a ser punida com 40 chicotadas, mas escapou da pena.A condenação foi baseada na lei islâmica vigente no país africano.

Leia também: Saiba mais sobre a sharia, que rege tudo na vida dos muçulmanos

O caso levantou polêmica mundial em julho, quando Lubna e outras mulheres foram presas em um restaurante da capital sudanesa, Cartum. Algumas delas admitiram imediatamente sua culpa é foram chicoteadas no próprio local, mas outras, inclusive Lubna, preferiram encarar o tribunal.

 

A jornalista Lubna Ahmed al-Hussein dá entrevista nesta segunda-feira (7) após seu julgamento em Cartum. (Foto: AFP)

Lubna foi levada a uma prisão feminina na cidade de Omdurman, próxima a Cartum, segundo um de seus defensores. Durante o julgamento, o tribunal informou que, se ela se recusasse a pagar a multa, corria o risco de ficar um mês presa.


BBC Brasil – Atualizado em  4 de agosto, 2009 – 13:16 (Brasília) 16:16 GMT

Julgamento de detida por usar calças gera protestos no Sudão

Lubna Ahmed Hussein é cumprimentada por manifestantes ao chegar para julgamento em Cartum

Hussein quer que caso ilustre o sofrimento das mulheres sudanesas

A polícia da capital do Sudão, Cartum, usou gás lacrimogêneo para dispersar um protesto realizado nesta terça-feira por simpatizantes de uma mulher indiciada pelo uso de uma “vestimenta indecente” por vestir calças.

Mulheres protestaram em frente ao local do julgamento da jornalista Lubna Ahmed Hussein e algumas levavam cartazes com a frase "Sem volta à Idade Média".

Segundo o correspondente da BBC no Sudão James Copnall, a tropa de choque afastou as manifestantes, batendo os cassetetes contra os escudos e depois disparando as bombas de gás enquanto avançava contra a manifestação.

O julgamento foi adiado, mas Hussein pediu que as autoridades continuassem a julgá-la e disse que não tem medo da condenação.

De acordo com a lei islâmica em vigor no norte do Sudão, onde se encontra Cartum, a punição a mulheres que se vestem "de forma indecente" é 40 chicotadas.

"Chicotadas não significam dor, chicotadas são um insulto aos humanos, mulheres e religiões", afirmou a jornalista.

ONU

Hussein pediu afastamento do cargo que exercia na ONU, que teria proporcionado imunidade a ela, e deu a entender que quer que seu caso se transforme em um teste para os direitos das mulheres no Sudão.

"Se a decisão da Justiça for a de que eu seja chicoteada, quero que esta punição seja pública", disse ela à BBC.

"Talvez existam 20 mil garotas e mulheres sendo chicoteadas devido às roupas que vestem. Se isto pode acontecer em um restaurante em Cartum, imaginem qual a situação de mulheres em Darfur", afirmou, se referindo à região no oeste do país que tem sido palco de episódios de violência há anos.

Segundo as leis do país, sudaneses que não são muçulmanos não são obrigados a seguir a lei islâmica mesmo na capital ou no norte do país, onde predomina o islamismo.

O julgamento de Hussein foi adiado por um mês depois que o juiz afirmou que precisava verificar se Hussein ainda tinha imunidade devido ao cargo que a jornalista ocupava na ONU.

Mas, depois da decisão do adiamento, ela afirmou que as autoridades querem atrasar o julgamento até que a polêmica gerada pela questão seja esquecida.

Sociedade conservadora


A jornalista foi presa em julho em um restaurante de Cartum junto com outras 12 mulheres.

De acordo com ela, dez mulheres que foram presas, incluindo não muçulmanas, receberam dez chicotadas imediatamente e uma multa.

Hussein e outras duas mulheres pediram um advogado para o caso e atrasaram a decisão.

De acordo com o analista da BBC para o mundo árabe Magdi Abdelhadi, o Sudão tem uma sociedade conservadora que condena mulheres que desobedecem os costumes islâmicos.

A lei islâmica foi introduzida pelo ex-presidente Jaffar Al Numeri há cerca de 30 anos e, desde então, causa polêmica no país, especialmente na região sul do Sudão, que é de maioria cristã.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *