Comunicação de Audre Lorde no painel “Lésbicas e literatura” da Associação de Línguas Modernas em 1977 e publicado em vários livros da autora. Reprodução para fins pedagógicos da campanha da Universidade Livre Feminista (2020).
Simplificando, o feminismo é um movimento para acabar com o sexismo, a exploração sexista e a
opressão. Esta foi uma definição de feminismo que ofereci em Feminist Theory: From Margin to
Center há mais de 10 anos. Era minha esperança naquele momento que se tornaria uma definição
comum que todos usariam. Gostei da definição porque não implicava que os homens fossem
inimigos. Ao nomear o sexismo como o problema, foi diretamente ao coração da questão.
Praticamente, é uma definição que implica que todo pensamento e ação sexista é o problema, seja
aqueles que o perpetuam mulheres ou homens, crianças ou adultos. Também é suficientemente
ampla para incluir uma compreensão do sexismo institucionalizado sistêmico. Como uma definição,
ela é aberta. Para entender feminismo, implica-se que é necessário compreender o sexismo. [...]
A palavra feminismo tem origem francesa e vem da palavra femme, que em francês significa
mulher. Feminismo pode ser então compreendido como tudo aquilo que diz respeito à emancipação
das mulheres. Hoje o feminismo é, entretanto, mais que isto. O feminismo é ao mesmo tempo uma
teoria que analisa criticamente o mundo e a situação das mulheres, um movimento social que luta
por transformação e uma atitude pessoal diante da vida.
Como uma linha de pensamento, ou seja, uma perspectiva teórica, o feminismo procura
explicar a situação das mulheres e elabora continuadamente a crítica e a denúncia da injustiça da
sociedade patriarcal, é uma teoria aberta e em permanente construção. Como atitude, o feminismo é
uma postura cotidiana assumida por cada mulher diante da sua própria vida ao não aceitar ser o ‘tipo de mulher’ que a sociedade impõe que ela seja.
Para a primeira trilha da Campanha Educativa Feminismo Com Quem Tá Chegando, realizada pela Universidade Livre Feminista, selecionamos três das oito teses escritas por Verônica Gago em “Oito teses sobre a revolução feminista”, que é parte do livro “A potência feminista, ou o desejo de transformar tudo”, publicado no Brasil pela Editora Elefante, em 2020.
Para começo de conversa, queremos dizer que entendemos o feminismo como uma forma de viver a vida e de estar no mundo, ou seja, algo que algumas pessoas tomam como referência para suas decisões e modos de construir a si mesmas, se relacionar e existir no mundo. Mas ele é também, sobretudo, um movimento social, construído por mulheres que lutam em torno das causas que afetam as vidas das mulheres das mais variadas formas.
O que entendemos como uma forma feminista de viver a vida e de se organizar coletivamente, por sua vez, está ligado a um pensamento teórico já estabelecido e que se renova a cada dia pelas mãos de todas nós. Isto significa que, em diálogo com nossas práticas de ações coletivas e individuais, existe um pensamento analítico e crítico sobre o mundo em que vivemos e sobre como podemos transformá-lo. Um princípio importante dos feminismos é a valorização da nossa capacidade de aprender com as nossas próprias experiências e dos diferentes tipos de conhecimentos que produzimos. O que entendemos por teoria feminista, desta forma, abarca não apenas as contribuições de pesquisadoras renomadas ou aquilo que está nos livros, mas todo o conhecimento que produzimos coletiva e individualmente sobre a nossa própria realidade e o mundo ao nosso redor.