DF: Universidade precisa romper com o trote violento, diz secretária da Mulher

Erica Montenegro – Da Secretaria de Comunicação da UnB

Olgamir Amância Ferreira, professora da UnB, toma posse na Secretaria da Mulher do GDF hoje, em cerimônia no Anf 12

olgamir_ferreira0Olgamir Amância Ferreira será empossada hoje como secretária de Estado da Mulher do Distrito Federal. Professora da Faculdade de Educação, Olgamir decidiu receber o cargo em cerimônia no Anfiteatro 12, do ICC Norte. “Escolhi a UnB porque é uma universidade comprometida com as causas sociais, uma universidade que tem sua história vinculada à transformação da sociedade”, afirmou.

O governador Agnelo Queiroz e a ministra Iriny Lopes, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, confirmaram presença na posse, às 16hs. O reitor da UnB, José Geraldo de Sousa, também participará do evento.

Na entrevista a seguir, a secretária Olgamir Amância Ferreira declarou que o episódio do trote da Agronomia deve servir para que a universidade encampe um amplo debate sobre o trote e as violências simbólicas impostas aos calouros. “É impensável que a Universidade, um espaço de construção de conhecimento, de transformação, reproduza este tipo de comportamento. Particularmente, este comportamento de sujeição à mulher. Nós precisamos romper isso. A Universidade pode romper isso.”

UnB Agência: É a primeira vez que o Distrito Federal tem uma Secretaria de Estado da Mulher. Qual a importância disso?
Olgamir:
A criação desta secretaria evidencia uma sensibilidade do governador em relação à mulher e um compromisso dele de colocar este tipo de política como política de primeira ordem. Outro aspecto é a simbologia deste gesto. A Secretaria está sendo criada no momento em que temos, pela primeira vez, a eleição de uma mulher como presidente. Isso reflete um empoderamento da mulher, passa para a sociedade a mensagem de que a mulher pode ocupar espaços de poder.

UnB Agência: Quais são seus planos para a Secretaria de Estado da Mulher?
Olgamir:
Nosso plano é trabalhar em cinco áreas centrais. A primeira delas é a Educação. Queremos discutir o currículo da educação básica para que a discussão de gênero seja trabalhada na sala de aula. É preciso retirar da escola, espaço de formação dos cidadãos, quaisquer manifestações de preconceito, discriminação contra as mulheres. Os professores receberão capacitação para tratar destes assuntos na escola. A segunda área é a Saúde. Infelizmente, temos indicadores ruins de saúde feminina, vamos trabalhar para mudar isso. A terceira área é a de Geração de Emprego e Renda. Não há como falar em autonomia feminina, se elas não têm emprego. A quarta é a violência doméstica, vamos enfrentar a violência doméstica, prevenir e acolher às vítimas. A quinta área é a da participação política. Nossa secretaria garantirá o espaço feminino na esfera política.

UnB Agência: No trote da Agronomia houve uma situação que a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres considerou agressiva. Como militante dos Direitos da Mulher, como a senhora enxergou a “brincadeira” aplicada às calouras?
Olgamir:
Foi uma violência. O trote representa uma violência, uma sujeição de uma pessoa por outro. Neste caso, foi uma violência de gênero, colocou as calouras em uma condição de sujeição. É impensável que a Universidade, um espaço de construção de conhecimento, de transformação, reproduza este tipo de comportamento. Particularmente, este comportamento de sujeição à mulher. Nós precisamos romper isso. A Universidade pode romper isso.

UnB Agência: E como professora? Como evitar que isso aconteça?
Olgamir:
Penso que a universidade deve ampliar o debate. Temos de abrir uma ampla discussão no ambiente da universidade. Chamar todos os segmentos – estudantes, funcionários, professores para discutir os trotes. É no debate que este tipo de assunto se resolve. Penso que os alunos devem ser responsabilizados naquilo que é da competência deles. Não dá para aceitar que um colega submeta o outro e isto seja minimizado, mas não acho que esses alunos mereçam ser expulsos. A universidade é sobretudo um espaço de educação.

UnB Agência: Enquanto Secretária de uma pasta ligada aos direitos das mulheres, o que a senhora pode fazer para evitar “brincadeiras” como a da Agronomia?
Olgamir:
Do ponto de vista prático, há pouco a fazer porque a universidade é um órgão federal. Mas, independente de qualquer coisa, também levantaremos este debate. Condenamos este tipo de prática. Não concordamos com a sujeição feminina.

UnB Agência: Por que a senhora decidiu tomar posse na UnB?
Olgamir:
Fiz mestrado e doutorado na Universidade de Brasília. Há um ano passei no concurso de professora da UnB. Antes disso, dei aulas durante 30 anos na rede pública. Escolhi a UnB para tomar posse porque é uma universidade pública, uma universidade comprometida com as causas sociais, uma universidade que tem sua história vinculada à transformação da sociedade.

UnB Agência: Enquanto a senhora estiver na pasta, que tipo de parceria pretende ter com a Universidade de Brasília?
Olgamir:
Espero que a interlocução seja a mais forte possível. Tanto na realização de pesquisas  sobre gênero como na formação de profissionais.

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