Lutas das mulheres, anticapacitismo e eleições 2022 foi o tema do processo, que atendeu a uma demanda do Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão (MBMCBV) para debate junto às educadoras da Universidade Livre Feminista sobre as lutas feministas e de mulheres cegas e com baixa visão.
Objetivo
Realizar um diálogo inicial sobre a importância da lutas feminista e anticapacitista, com ênfase na defesa da democracia no contexto de eleições. Esta foi a primeira atividade que realizamos com um grupo totalmente formado por mulheres com deficiência visual, o que foi bastante desafiador e trouxe aprendizados para nossa pedagogia.
Metodologia
A metodologia intercalou as duas rodas de conversa com discussões via grupo de WhatsApp, que foram subsidiadas por materiais educativos (artigos e podcasts, especialmente). Na pauta, estavam as questões postas pela conjuntura eleitoral e os desafios para o movimento feminista, o movimento de mulheres e as integrantes do MBMCBV. Os encontros síncronos foram realizados nos dias 15 e 28 de junho de 2022 através da Plataforma do Google Meet. O processo contou com um total de 30 participantes.
Resultados
O movimento nos provocou a aprofundar o debate sobre a luta anticapacitista, especialmente nos contextos eleitorais, numa oportunidade de diálogo com mulheres cegas e com baixa visão que já haviam sido candidatas ou que estavam em processo para o lançamento de campanha em 2022. A importância dos projetos com pautas feministas, anticapacitistas e de defesa de direitos humanos foi bastante discutida nos dois momentos.
Ao longo do processo, as participantes nos tensionaram, enquanto equipe pedagógica, para o uso de ferramentas com maiores recursos de acessibilidade, que facilitassem a participação das mulheres cegas e com baixa visão nos processos da Universidade Livre. Isso colaborou na construção da Trilha 3 dos Webinários Umas com as outras: trocando ideias sobre Feminismo e Democracia 2022 fora da plataforma BigBlueButton, que, apesar de segura, ainda apresenta lacunas na acessibilidade para pessoas cegas e com baixa visão.
Depoimentos
Rita Guaraná (PE) (coordenação do MBMCBV)
"Eu sou Rita Guaraná mulher com baixa visão sou Pernambucana Feminista antirracista anticapacitista. Gostaria de fazer uma avaliação das rodas de conversa realizadas pela Universidade Livre Feminista e o Movimento Brasileiro de Mulheres cegas e com baixa visão. As rodas de conversa representaram um momento de trocas de experiência e de saberes entre o movimento feminista e o movimento de mulheres com deficiência visual. Uma iniciativa pioneira que rompe barreiras e preconceitos que ainda estão presentes no imaginário das mulheres com deficiência acerca das questões feministas. Entretanto nestas trocas de saberes as mulheres com deficiência desconstruíram e desmistificaram muitas ideias retrógradas sobre o feminismo. Destaque foi a participação de muitas mulheres com deficiência visual expondo suas ideias e suas vivências, relatando seus desafios e vitórias enquanto mulheres com deficiência. Nós mulheres com deficiência visual somos cidadãs de direitos e como tal queremos ocupar diversos lugares na sociedade, principalmente nos cargos eletivos. Nossas bandeiras de lutas e reivindicações devem ser levadas por nós mulheres com deficiência porque somente nós sabemos de nossas demandas, especificidades Nós falamos de diversos lugares, mas temos muitas questões em comum. O feminismo nos oferece estruturas para lutarmos enquanto mulheres, fortalecendo nossas lutas".
Gislana Vale (CE) – (coordenação do MBMCBV)
"Acho importante você ver a potência das mulheres se descrevendo [nas atividades da Universidade Livre Feminista]. Eu nunca ia saber que aquela mulher está fazendo um tratamento defff câncer e ali lutando no ativismo, na militância. Eu nunca ia saber que aquela mulher está com um parafuso ali, um monte de parafuso no tornozelo e alfnte com aquela voz eu nunca ia saber que aquela mulher estava na cozinha e ela chamava o guarda-comida eu fui na minha infância na casa dos meus pais tinha guarda comida... [...] A descrição feita pela própria pessoa traz uma fala de como eu me vejo, de como eu me acho e queria só agradecer dizer que foi muito muito bom mesmo, que eu fiquei muito tocada ouvindo cada mulher falando. [...] Quero dizer que vocês tocaram fogo na gente [MBMCBV], nós já estamos aqui achando alguns parceiros pra fazer uma fala sobre a comparação de o que era que a gente tinha e o que é que a gente não tem mais e qual é o 'não futuro', a gente vai chegar nele se a gente não intervir nessa situação logo. Nós, as mulheres, que fazemos os cinquenta e um por cento das eleitoras. Então aqui tocando fogo, pelejando aqui com nossos parceiros e parceiras pra achar esse lugar pra fazer falas mais potentes como essas que vocês fizeram. Olha aí o resultado."