Agência Estado
Recife – Médicos do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), do Recife (PE), deram início anteontem ao processo de abortamento legal em uma menina de 10 anos que ficou grávida após ser abusada sexualmente pelo padrasto. O caso mostra uma mudança de posição da Igreja Católica pernambucana, que evitou polemizar sobre o procedimento. Há um ano, a Igreja tentou dificultar o abortamento legal em um caso semelhante.
O estado de saúde da garota, que vinha sendo vítima de abuso há mais de dois anos, é considerado bom. Segundo a diretora do Cisam, Fátima Maia, a criança estava com 16 semanas e três dias de gestação.
Há cerca de um ano, quando outra menina, de 9 anos, também vítima de abuso, passou pelo mesmo procedimento, o então arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso, foi contra – os médicos do Cisam e a mãe da vítima acabaram excomungados pela Igreja.
Sucessor de dom José, dom Fernando Saburido declarou-se “triste”, mas disse que a decisão é dos pais. “Se há um consenso médico de que a vida da mãe corre risco, o aborto é algo a ser considerado.” D. Fernando disse, porém, que a Igreja é contra o procedimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Padrasto engravida enteada de 10 anos | ||||
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Menina de 10 anos recebeu alta
A menina de dez anos que foi submetida a um procedimento de aborto legal no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) teve alta ontem.
Garota estava internada desde a última sexta-feira quando começou a receber medicação. Foto: Jaqueline Maia/DP/D.A Press – 9/9/08 |
Ela deixou a unidade de saúde acompanhada pela mãe e por representantes do Conselho Tutelar de Jaboatão dos Guararapes. Ao longo da semana, ela deverá ficar de repouso e ser acompanhada por uma equipe médica. A garota estava internada na unidade de saúde desde a última sexta-feira, quando começou a receber a medicação para abortar. A finalização do procedimento foi feita no último sábado, quando os médicos do Cisam realizaram a curetagem. A garota foi para o Cisam depois de ser descoberto que ela havia engravidado em decorrência do estupro cometido pelo padrasto. Parte da equipe médica (com umas oito pessoas) que realizou o procedimento foi a mesma que fez o aborto na menina da cidade de Alagoinha, ano passado, e que havia sido excomungada pelo então arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho.
A diretora da unidade de saúde, Fátima Maia, disse que não houve nenhuma complicação e que a recuperação deve ser boa, por isso já recebeu alta. “Ela só precisará ficar quieta para evitar hemorragia. Já recebeu os encaminhamentos para os outros médicos, pois durante um tempo precisará fazer exames e passar por consultas”, ressaltou
a médica. Mãe e filha estão abaladas e deverão continuar a ser acompanhadas por psicólogos.
Ainda não há uma definição se ela continuará morando na casa onde aconteceram os estupros. “Uma equipe do Governo do Estado está dando suporte nesse sentido, mas nada foi decidido. Vou conversar com a mãe para saber o que ela pensa em fazer”, contou o conselheiro tutelar Eduarte Santos.
Hoje, a delegada da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA) Mariana Vilasboas vai ouvir o depoimento da irmã da vítima. A delegada quer esclarecer algumas dúvidas com relação à postura do padrasto. “A minha expectativa é concluir o inquérito até, no máximo, sexta-feira”, afirmou Mariana Vilasboas. O padrastro da criança, um homem de 44 anos, foi autuadoem flagrante na última quinta-feira, por estupro de incapaz e está preso no Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima.