A mulher em 2010

Maria Paula

 
 
 

Ela já passou por perseguições históricas, ardeu em chamas nas fogueiras da Inquisição, foi reprimida, controlada, subjugada, resistiu bravamente a vários milênios de todo tipo de violência e desrespeito, mas agora a maré virou e arrisco até dizer que o terceiro milênio é todo dela! A mulher deu uma volta por cima monumental e está mostrando ao mundo que realmente tem poder. Parece incrível pensar que, há apenas um século, ela não tinha conseguido garantir nem os direitos mais básicos na sociedade, como o de votar, realizar-se profissionalmente, enfim, fazer suas próprias escolhas, seja em que nível for.

Hoje, a mulher impõe seu próprio ritmo e nos assuntos do coração, assim como nos relacionados a sexo, ela, quem diria, está ditando as regras! Nos rituais modernos de acasalamento, por exemplo, vê-se que elas dominam a cena completamente… Basta observar a movimentação delas em festas, bares e boates. Ao contrário do que costumava acontecer antigamente, hoje elas raramente esperam até serem abordadas por um homem. Os papéis foram invertidos, transformando os homens em caça em vez de caçadores! O normal, agora, é que a moça escolha o gato, e na hora de partir para a finalização, ai dele se não estiver afim… Fica com fama de gay, brocha ou coisa parecida! Ou seja: elas foram parar no outro extremo, reagindo ao machismo na mesma moeda.

Sexo antes era um assunto tabu, e o resultado desastroso disso podia ser visto nas estatísticas, segundo as quais a maioria das mulheres nunca havia atingido um orgasmo. Hoje não é mais assim que a banda toca. Acabo de fazer um filme, Sex delícia, cujo tema é o prazer feminino. Minha personagem, Marcela, é dona de um sexshop e faz de tudo para ajudar clientes e amigas na busca pelo próprio prazer. É uma moça jovem e moderna, que se relaciona livremente tanto com parceiros quanto com “brinquedinhos”, o que faz com que seu prazer esteja sempre em primeiro plano. As conquistas sexuais são um feito e tanto, mas ainda temos um longo caminho pela frente.

Estou muito envolvida numa campanha nacional pela igualdade de gêneros, que abrange a questão trabalhista também. É simplesmente inadmissível que a grande maioria das mulheres no mercado de trabalho ainda seja de empregadas domésticas — que, apesar de todo o valor da profissão, ainda são discriminadas e fadadas a viver com um salário mínimo ou menos. Precisamos estimular a mulherada a aumentar sua produção científica… Queremos doutoras, pesquisadoras, cientistas — mulheres ocupando devidamente o mercado e ganhando justamente por isso. Essa história de mulher ganhar menos apenas por ser mulher não está com nada!

Meninas, mãos à obra… Vamos com tudo pra cima deles.

Crônica de Maria Paula na revista do jornal Correio Braziliense – 7/3/2010

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