Número de denúncias aumenta ano após ano, mas esbarra em cultura machista arraigada e na falta de políticas públicas específicas
- Danielle Santos – Correio Braziliense
Evandro Matheus/Esp. CB/D.A Press – 2/3/10 |
Para Carmen Foro, da Contag, o governo precisa investir em estrutura |
De acordo com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), apesar das dificuldades encontradas na zona rural, o número de denúncias pela central de atendimento criada pelo governo vem crescendo continuamente. “Em 2008, o número de mulheres que fizeram denúncias pelo número 180 chegou a 966. Em 2009, esse número aumentou e, hoje, as mulheres rurais representam 4% das denúncias. Ainda é pouco, mas estamos avançando contra a cultura machista, sexista e patriarcal”, afirma Ane Cruz, coordenadora de Ações Preventivas e Garantia de Direitos da SPM. Apesar de a pesquisa da Contag atestar que 35,9% as mulheres usaram esse mecanismo de ajuda, a maioria delas — 60,1% — declarou desconhecer a existência de serviços de prevenção e atendimento em situação de violência.
Segundo Ane, o governo ainda não tem recursos financeiros específicos para combater a violência contra a mulher no campo, mas a ideia é trabalhar com as entidades sociais para a criação de uma política própria de gênero até agosto próximo. “É notório que ainda não existam dados concretos sobre o assunto. Por isso mesmo, estamos buscando parcerias junto à sociedade e aos estados e municípios na busca de atender as demandas”, afirma.
Carmen Foro recorda que a falta de logística oferecida pelo governo federal não contribui para a redução dos casos de violência. “O Acre, por exemplo, é um estado que comporta 23 municípios, mas que só tem duas delegacias especializadas. E se a gente analisar as condições de funcionamento, equipamentos e funcionários necessários, a gente fica mais assustada ainda”, critica.
Ainda de acordo com a pesquisa da Contag, cerca de 22,8% das mulheres entrevistadas não tomam nenhuma providência a respeito dos abusos sofridos pelo sexo oposto. Do total, apenas 3,5% abrem inquérito policial. “Nossa luta tem dois grande eixos, que são o acesso às políticas públicas que favoreçam a autonomia feminina e o acesso ao crédito e à terra”, completa a líder sindical.
Em 2009, das denúncias feitas através da central telefônica 180, incluindo mulheres residentes em áreas urbanas, a SPM registrou 401.729 atendimentos — um aumento de 49% em relação ao ano anterior. Três estados da região Sudeste apareceram entre os com maior número de casos. O campeão foi São Paulo, com 119.133 registros. Em segundo, ficou o Rio de Janeiro com 52.246 atendimentos, seguido de Minas Gerais, com 28.092 ligações.
"Ainda é pouco, mas estamos avançando contra a cultura sexista e patriarcal"