FSM – Sociedade civil europeia chega fortalecida

Por Julio Godoy, da IPS

Berlim, Alemanha, 8/2/2011 (IPS/TerraViva) – Organizações não governamentais da Europa que lutam contra a globalização chegam ao Fórum Social Mundial (FSM) de Dacar mais fortes e justificadas pela crise socioeconômica e ambiental internacional. Agora, esses grupos não só conseguem apoio de trabalhadores e camponeses de todo o mundo, como também de governos que até há pouco apoiavam a globalização neoliberal e que mudaram de tendência em aspectos importantes devido à crise.

“O apoio de governos europeus às nossas demandas básicas, como o imposto sobre transações financeiras constitui um grande motivo de satisfação”, disse à IPS Hugo Braun, da Associação para a Taxação das Transações Financeiras e para a Ajuda aos Cidadãos (Attac). “Contudo, os governos ainda devem se dar conta de que a crise não pode ser solucionada com simples declarações de intenções. O sistema não pode ser reparado; o sistema deve ser substituído por outro”, disse Hugo.

“Precisamos de um rígido controle sobre os mercados financeiros, uma democratização da economia, uma transferência da riqueza do mais alto da sociedade para as classes mais baixas, em nível mundial”, acrescentou Hugo, que participa do FSM na capital do Senegal, que começou no dia 6 e terminará no dia 11. Para ele, o principal objetivo da reunião deve ser “a busca dos principais perfis de uma sociedade pós-capitalista. “Um capitalismo impulsionado pelo lucro não pode solucionar a crise, mas é a sua causa”, afirmou.

O imposto sobre as transações financeiras especulativas é uma das demandas mais emblemáticas das organizações europeias contrárias ao neoliberalismo. O dinheiro reunido dessa forma seria usado para financiar projetos de desenvolvimento na África, América Latina e Ásia. A ideia foi proposta pelo economista norte-americano James Tobin, ganhador do prêmio Nobel. Em 1997 nasceu a Attac, com o objetivo de fazer uma campanha mundial a favor da chamada “taxa Tobin”. O grupo é membro-fundador do Fórum Social Europeu e do FSM.

O chamado para a criação do imposto acaba de receber apoio do presidente da França, Nicolas Sarkozy, que prometeu colocar o tema na agenda tanto do Grupo dos Oito quanto do Grupo dos 20. Este ano, Paris coordenará as atividades desses dois fóruns, que reúnem as maiores economias do planeta. Sarkozy também anunciou que seu governo vai propor instrumentos de controle contra a especulação nos mercados de alimentos, com a finalidade de deter o aumento dos preços e garantir o fornecimento.

Diante das crises econômica e ambiental mundial, vários dos temas debatidos no FSM nos últimos dez anos se converteram em parte fundamental das atuais críticas ao neoliberalismo, desde a rejeição ao livre comércio até denúncias contra a agricultura intensiva e a privatização dos serviços públicos. “O movimento altermundista representado pelo FSM renovou a política contemporânea”, disse o jornalista francês Laurent Joffrin, diretor do jornal Liberation.

Laurent afirmou que a agenda política agora está dominada por numerosos assuntos que o FSM e as organizações que o integram resgataram da indiferença, como as dificuldades dos trabalhadores sem terra no Sul em desenvolvimento, os problemas da produção industrial de alimentos e a crise ambiental. “O FSM obriga a esquerda tradicional a rever suas próprias posturas em todos esses temas, incluindo comércio internacional, justiça impositiva, globalização financeira e refugiados devido à mudança climática”, acrescentou.

Enquanto na primeira metade da década passada os governos de países industrializados seguiam a velha máxima da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (1979-1990) de que “não havia alternativa” à globalização neoliberal, o FSM insiste desde seu início que “outro mundo é possível’. A crise financeira global, provocada pela desregulamentação neoliberal, e suas consequências em toda a economia provaram que a posição de Thatcher era autodestrutiva e que não só existem alternativas à forma como os governos manejam os mercados financeiros como estas são indispensáveis.

Hugo expressou sua preocupação pela crescente liberação dos chamados gases-estufa, causadores da mudança climática. “Em lugar de reduzir as emissões, o capitalismo ávido por lucro continua esquentando a Terra”, disse. Também destacou as consequências socioeconômicas do fenômeno, bem como a urgente necessidade de conseguir justiça climática a favor dos países do Sul em desenvolvimento e para as futuras gerações.

Diante das críticas de que o FSM é apenas mais uma feira da sociedade civil sem impacto real na política mundial, Hugo disse que, de fato, o Fórum “precisa mobilizar as pessoas, fazer com que vejam que apenas uma pressão popular política organizada pode levar governos e corporações a mudarem seu comportamento”. O ativista informou que a Attac e outras ONGs preparam um “dia de ação global” em favor da taxa Tobin. “No dia 17, realizaremos manifestações em capitais europeias em apoio ao imposto”, afirmou. Envolverde/IPS

 

(IPS/Envolverde)

 

 


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