Fórum Social Mundial – Entre Dacar e Dhaca

Por Ranjit Devraj, da IPS

fsm2011

Nova Délhi, Índia, 8/2/2011 (IPS/TerraViva) – É mais importante para a Índia construir vínculos com grupos da sociedade civil da África ou se concentrar nas redes existentes na Ásia meridional? Esse é o dilema que enfrentam os delegados indianos no Fórum Social Mundial (FSM) que acontece em Dacar. “Ambas são importantes”, disse à IPS Amit Sen Gupta, do Fórum de Ciências de Nova Délhi. “Hoje, mais do que nunca, um mundo que depende do impacto de múltiplas crises necessita de alternativas em níveis mundial, nacional e local”.

Os indianos presentes ao FSM na capital do Senegal, que acontece entre 6 e 11 deste mês, como Amit e seu companheiro ativista D. Reghunandan, também participarão de forma paralela de uma reunião, no dia 10, de preparação para o Fórum Social da Ásia Meridional, que acontecerá em novembro em Dhaca, Bangladesh.

“Isto não significa que os movimentos indianos tenham renunciado ao FSM”, afirmou Amit. “Desde que o FSM foi realizado na cidade indiana de Mumbai, em 2004, a Índia tem lugar especial nesta cronologia que já dura uma década, e muitos ainda dizem que o FSM de 2004 foi um dos capítulos de maior sucesso”, acrescentou. Então, o que aconteceu com a vitalidade especial do movimento indiano e a disposição que mostrou para trabalhar pelo FSM?

Amit disse à IPS que a situação na Índia hoje é muito diferente da de 2001, quando nasceu o Fórum. “A unidade dos movimentos de esquerda e democráticos está rachada e isto leva a um menor envolvimento dos grupos indianos no processo do FSM”, acrescentou. “Uma expectativa fundamental em Dacar é a de que a esquerda indiana novamente cure as recentes fraturas e seja parte da voz global que desafia o neoliberalismo”, afirmou.

Meena Menon, escritora e ativista que participa do encontro de Dacar, concordou com Amit, acrescentando que o fato de não haver um forte movimento de esquerda na África ocidental também desanima as organizações indianas. “Naturalmente, grupos africanos disseram que por isso mesmo esperam uma forte participação indiana em Dacar”, ressaltou. “O certo é que se o lugar da reunião fosse a África do Sul, ou mesmo Magreb, onde os grupos indianos têm mais contatos, a participação seria muito mais forte”, afirmou Meena.

Entretanto, a ativista disse que qualquer vínculo que se forme em Dacar será valioso devido aos interesses comuns das duas regiões em áreas como segurança alimentar e agricultura. Como outros delegados indianos, Meena aposta suas forças no Fórum Social da Ásia Meridional. “Os últimos acontecimentos no Paquistão, Sri Lanka e Nepal têm relevância mundial, e o atual regime de Bangladesh oferece um espaço democrático para realizar o fórum de novembro”, disse.

Gopal Krishna, coordenador da organização Toxic Watch contra as indústrias contaminantes, não participa diretamente do FSM. “Neste momento, estamos acompanhando uma missão comercial da província canadense de Quebec liderada por Clement Gignac, ministro do Desenvolvimento Econômico, que chega à Índia esta semana. Tentaremos evitar a assinatura de algum acordo permitindo a expansão da indústria do asbesto”, explicou Gopal. Sua preocupação é “o cruel desprezo das companhias mineradoras de asbesto com sede em Quebec e das empresas manufatureiras indianas pela saúde dos trabalhadores”.

O ativista está interessado em participar do fórum regional de Dhaca. “Precisamos construir a solidariedade em nível regional”, afirmou, destacando que com as organizações asiáticas há “uma estreita comunhão de temas e enfoques”. Segundo Amit, existe uma sensação geral na Ásia meridional de que o Fórum Social Mundial ainda deve evoluir para deixar de ser uma plataforma de debate sobre a “globalização neoliberal” e se converter em espaço onde seja possível forjar fortes alianças por “outro mundo possível”. Envolverde/IPS

FOTO
Crédito:
Paullino Menezes/IPS-TerraViva

 

(IPS/Envolverde)

 

 


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