Ana Elisa Santana – Correio Braziliense
No DF, casos são mais comuns em mulheres, segundo a Secretaria de Saúde. Cerca de 40% das mortes poderiam ser evitadas com prevenção e diagnóstico precoce
O bom costume de realizar o autoexame a cada mês fez Antônia Leite descobrir o câncer ainda no estágio inicial |
A costureira Laurita Martins Oliveira, 40 anos, tinha obsessão por um corpo magro. Com tendência para engordar, alternava dietas sem a devida orientação de um médico ou a prática desordenada de exercícios físicos. Há pouco mais de um ano, após exames de prevenção, ela descobriu que estava com câncer de mama. “Eu fazia regime a ponto de passar fome, fui parar no hospital duas vezes. O meu organismo acabou ficando debilitado”, conta a moradora de Unaí, Minas Gerais. Laurita é um dos exemplos de descuido que fazem aumentar as estatísticas do avanço do câncer no Brasil. Segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 500 mil novos diagnósticos da doença devem ser registrados no país em 2011, e esse número tende a aumentar devido ao envelhecimento da população e à falta de hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, atividade física e moderação no consumo de álcool e cigarro.
No Distrito Federal, os casos da doença são mais recorrentes entre as mulheres. No ano passado, 3.220 descobriram o câncer, enquanto 2.710 homens tiveram o diagnóstico, segundo dados da Secretaria de Saúde. O costume de fazer o autoexame das mamas todos os meses fez Antônia Gonçalves Leite, 35 anos, descobrir o câncer ainda no estágio inicial. Ela procurou a rede pública, mas preferiu fazer os exames em clínicas particulares, com a ajuda de amigos. “Aqui, o processo seria muito demorado, e o câncer não espera. Se eu esperasse, não teria nem feito a cirurgia ainda”, afirma Antônia, que se trata no Hospital de Base do DF, uma das 276 unidades de saúde habilitadas no tratamento do câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Apesar de não ter feito os exames aqui, depois que os entreguei foi tudo rápido”, diz a técnica em gesso, que passou por três cirurgias, além de sessões de quimioterapia e radioterapia.
Futuro
Cerca de 20% dos gastos do SUS são destinados ao tratamento do câncer — valor que supre aproximadamente 80% da necessidade atual. O restante, segundo o coordenador de ações estratégicas do Inca, Cláudio Noronha, é coberto por planos de saúde. “Os gastos são elevados porque exigem acompanhamento permanente do paciente, e os medicamentos custam muito caro”, explica. Todos os meses, 235 mil pessoas são atendidas nos ambulatórios para fazer quimioterapia, e outras 100 mil passam por radioterapia.
Noronha afirma que as mortes em decorrência do câncer têm aumentado e devem dobrar nos próximos 20 anos. No entanto, entre 35% e 40% dos óbitos poderiam ser evitados se houvesse prevenção ou diagnóstico precoce.
A preocupação com o avanço do câncer no mundo fez a União Internacional de Controle do Câncer mobilizar, ontem, quando foi lembrado o Dia Mundial do Câncer, 400 organizações de 120 países para que sejam adotadas estratégias de prevenção contra a doença e outros males crônicos não transmissíveis, como diabetes e problemas cardiovasculares e respiratórios. A Organização das Nações Unidas (ONU) também incluiu na pauta da Assembleia Geral, marcada para o mês de setembro, em Nova York, uma discussão sobre o tema.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas duas horas e meia de atividade física moderada por semana são suficientes para reduzir o risco de câncer de mama e de cólon, alguns dos mais comuns diagnosticados em mulheres. “O cenário futuro é o que preocupa. Queremos incentivar a vida saudável e o hábito de fazer exames de prevenção para conter esses números”, explica o coordenador de ações estratégicas do Inca.