PALANQUE FEMINISTA
Declaração Final do Encontro Estadual – 2014
do Fórum de Mulheres de Pernambuco
Mais uma vez, nós do Fórum de Mulheres de Pernambuco, nos reunimos com companheiras de todas as localidades do Estado nas quais estamos organizadas, para refletir e nos posicionar na conjuntura.
É com base nesse debate que, no contexto destas eleições, apresentamos nossa crítica à dominação das mulheres, à injustiça e ao modelo de desenvolvimento que nos está sendo imposto.
Nós mulheres, somos responsabilizadas pela opressão que sofremos, somos robotizadas, recebemos muita cobrança, pressão, levando uma vida cansativa de muito trabalho, exaustão e sofrimento. Por isso, somos a parte da população que mais consome tranquilizantes – remédios que os médicos nos passam, que aumentam os lucros dos laboratórios, mas não resolvem nossas vidas e só servem para gente suportar essa situação. Somos fortes, mas o sistema nos fragiliza e adoece.
Nossas conquistas estão sempre ameaçadas. Os direitos das mulheres não estão garantidos, nem pelos serviços públicos, nem pelos governos, que reproduzem e reforçam uma ideologia machista. Experimentamos conquistas no Brasil, mas ainda enfrentamos muitas desigualdade e injustiças.
A violência marca a vida de todas as mulheres. Do nascimento à velhice. Na família, no casamento, nos espaços de trabalho, nas ruas, na vizinhança. A violência policial agrava esta situação.
A violação dos nossos corpos persiste e aumenta, nos atinge quando somos crianças, idosas, adultas e jovens, indiscriminadamente. Sofremos com o desrespeito nos ônibus e nos lugares públicos, nas propagandas de cerveja, nas musicas de baixaria, nas escolas.
É inaceitável o descaso nos serviços públicos de saúde, hoje privatizados. Quem financia o SUS somos nós. Exigimos mais SUS, sem terceirização e gerido pelo poder público.
Neste sistema capitalista, nós mulheres temos nosso tempo roubado com a exploração do nosso trabalho. Uma carga grande de trabalho em casa, cuidando dos outros e pouco cuidando de nós mesmas, além de muito trabalho para garantir o sustento da família: muito tempo de trabalho em horas extras, mas com menores salários, e sem direitos.
A participação política nas conferências convocadas pelos próprios governos e nos conselhos municipais, estaduais e nacional não é respeitada pelo poder público, nem Executivo, nem Legislativo. Não escutam e não consideram as decisões desses conselhos, que hoje estão esvaziados, só servem para juntar gente em torno do governo, e não para criticar e fiscalizar – de verdade – as políticas públicas.
O desenvolvimento das grandes obras, como as do Porto de Suape e a transposição do Rio São Francisco geram riqueza que não é distribuída. Desalojam muita gente, que perde seu território, sua casa, e são poucas as oportunidades de trabalho para as mulheres. Cresce a violência e a exploração sexual nas cidades onde há canteiros dessas obras. Cresce o desmatamento da Caatinga, da Mata Atlântica e dos Manguezais, retirando a fonte de sustento de muitas mulheres.
Este desenvolvimento mata também os rios e seus afluentes, destruindo os mananciais. O agrotóxico usado prejudica a nossa saúde, polui rios. As tinturarias e lavanderias do pólo têxtil pioram a matança das águas.
A cultura e os valores em nosso estado estão cada vez mais contaminados pelo consumismo e pela exploração da nossa fé. Muitas lideranças religiosas aglutinam a energia das mulheres para favorecer a igreja A ou B, ao mesmo tempo que ficam pregando a submissão das mulheres, condenando o feminismo e criminalizando o aborto até nos casos legais, incluindo aqueles casos que já temos direito desde 1940.
Denunciamos o preconceito e o desvalor com as mulheres idosas, que começam a cuidar dos outros muito cedo, e cuidam até a velhice, mas são desassistidas pelos governos e suas políticas, ficando em abrigos desumanos ou em quartinhos nos fundos das casa. Família e Estado nos abandonam na velhice, quando mais precisamos!
As mulheres negras estão entre as mais desassistidas nas políticas públicas, pois não há reconhecimento do sofrimento causado pelo racismo.
Temos hoje uma visão ainda mais crítica dessa realidade, e vemos cada vez mais nitidamente que o problema de cada mulher é o problema de todas as mulheres. E que a raiz desses problemas está em um sistema que sustenta a opressão, a dominação e a exploração das mulheres: o sistema patriarcal, capitalista e racista.
Carregamos o mundo nas costas, mas esse mundo não foi feito para nós. Vivemos em um mundo hostil para as mulheres: enfrentamos hostilidade no mundo do trabalho, nas comunidades, na política e na mídia. Por isso devemos transformar o mundo pela força do feminismo e de nosso movimento. Continuaremos na luta, por nós e pelas outras. Pelas mulheres que estavam na luta antes de nós e pelas gerações de mulheres que virão.
Seguiremos mobilizando e lutando, organizando mais e mais mulheres em Pernambuco, até que cada comunidade, cada cidade, cada estado e nosso próprio país, seja um lugar para TODAS. Até que cada mulher do campo e da cidade, cada menina, cada jovem e cada idosa, cada negra, cada branca e cada indígena, cada estudante, analfabeta ou intelectual, seja dona de si. Até que todas possamos definir livremente os rumos de nossas vidas.
Pernambuco, 24 de agosto de 2014