Amanda Polato, do R7
Em entrevista ao R7, Marinor diz acreditar que a decisão da Justiça deve ser mantida e que a população não tem se manifestado para uma nova votação. A senadora fala sobre sua campanha e os projetos que defenderá no Senado.
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Marinor Brito (PSOL-PA), que assume vaga no Senado no lugar de Jader Barbalho (PMDB-PA), rejeita a possibilidade de novas eleições no Pará. A vitória da parlamentar foi confirmada após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que barrou a posse de Jader, candidato que teve 1,8 milhão de votos.
Nesta quarta-feira (26), os ministros do Supremo analisaram recurso do candidato, que teve o registro negado por ser considerado “ficha suja”. Jader renunciou ao cargo de senador em 2001 para fugir de processo de cassação por quebra de decoro parlamentar.
R7 – A senhora esperava a decisão do STF?
Marinor Brito – A decisão do Supremo era esperada, porque já havia movimentação política, discussão desde o início da coleta de assinaturas [para que o projeto da Lei Ficha Limpa fosse votado no Congresso], acompanhamento do Legislativo até a aprovação final. Essa movimentação em torno da lei já vem contribuindo sobremaneira para o processo eleitoral.
R7 – Como recebeu a notícia de que poderia assumir a cadeira no Senado?
Marinor – A minha eleição se deu no paralelo desse debate, nessa mudança de valores que vem se consolidando, para que a gente possa ter representantes que não se utilizem de dinheiro público, das instâncias públicas do país para se favorecer. Recebo a decisão do Supremo como uma sintonia do processo que já estava em curso. O eleitor brasileiro rejeitou cerca de 70% dos candidatos que concorreram impugnados. Recebo com alegria a decisão e fico muito orgulhosa de estar protagonizando, em nome do povo do Pará, essa representação.
R7 – Qual sua avaliação sobre a possibilidade de novas eleições no Pará, que foi pedida pelo PMDB?
Marinor – O presidente do Tribunal Regional do Pará já se manifestou na imprensa dizendo que não acredita nessa possibilidade, embora não seja uma decisão unilateral dele. E a posição clara do Ministério Público do Pará [órgão que pediu impugnação dos candidatos] é que não existe nenhuma possibilidade de nova eleição. Eu estou acreditando que essa posição vai ser acatada e recebida como definidora dessa discussão. Há praticamente esgotamento da possibilidade de recursos – não que as pessoas não tenham direito de fazê-lo. Mas o sentimento da população e da Justiça não parece se manifestar no sentido de uma nova eleição.
R7 – A senhora vê algum problema em ter sido eleita com base em uma decisão na Justiça e não por maioria nas urnas?
Marinor – Foi por decisão das urnas, porque eu não tenho nenhuma responsabilidade de os candidatos que concorreram comigo terem problema na Justiça. Eles [Jader Barbalho e Paulo Rocha] foram impugnados. Eu cumpri todos os ritos legais da inspeção da minha candidatura, fiz uma campanha com pouco recurso, consegui ter quase 800 mil votos. Então, tenho legitimidade suficiente, se você considera que meus adversários disputaram abusando do poder econômico e usando a máquina pública. Não tem questionamento político, porque estou legitimada pelas urnas também.
R7 – Como foi a sua campanha?
Marinor – Minha campanha foi feita com uma estrutura muito pequena, com pouco recurso, mas muita disposição, serenidade e muita coerência com o debate programático do PSOL. Nós utilizamos o tempo na TV para propagandear essa alternativa. Nossa tática política foi correta.
R7 – A sua estimativa era gastar até R$ 200 mil na campanha. Isso foi cumprido?
Marinor – Acho que foi bem menos. Ainda não fechei a prestação de contas, mas acho que não chegou nem à metade disso.
R7 – Quais serão as suas principais bandeiras no Senado?
Marinor – Vamos ter um mês para planejar as atividades no Senado. Alguns temas estão colocados na ordem do dia, como a reforma política. Não dá para pensar que, depois de toda a mobilização nacional em cima do Ficha Limpa, que a gente não apresente alternativa ao abuso do poder econômico. Nós estamos estudando a possibilidade de entrar com um projeto. Estamos estudando a possibilidade de entrar com um projeto [sobre a reforma] e estarmos preparados para lidar com grandes temas, c
omo o desenvolvimento da Amazônia, [a hidrelétrica] de Belo Monte, a questão do agronegócio. Não vamos deixar de nos posicionar em favor dos ribeirinhos, dos quilombolas e dos indígenas, que estão ameaçados por esse projeto. Vamos entrar também na questão dos direitos humanos, ligada à minha trajetória em defesa da infância e da adolescência, no combate à violência sexual.