A amizade feminina existe, é forte e duradoura

MARTHA MENDONÇA – revista Época

Alguém da minha timeline do Twitter escreveu esses dias que “as mulheres preferem seus animais de estimação do que suas amigas”. A informaçãotinha como fonte uma pesquisa da empresa de rações inglesa Winalot, segundo a qual uma em cada cinco mulheres “contavam” a seus bichinhos fatos que não teriam confiança para revelar a ninguém.

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Bem, não sei se tal informação leva à frase do twitter. Mas ando reparando há muito tempo que, dentro e fora da internet, existe uma espécie de complô por aí colocando para baixo o valor da amizade entre mulheres. E não é de hoje.

Quem nunca leu ou ouviu algum comentário sobre mulher não ser amiga de mulher? Que saem juntas, mas que, no fundo, têm inveja uma da outra, falam mal pelas costas, contam seus segredos para os outros e puxam o tapete quando menos se espera? Dizem mais: os homens é que seriam a verdadeira fraternidade, defendem uns aos outros até contra as próprias mulheres e nutrem a verdadeira amizade entre eles.

De onde exatamente saiu essa “verdade”?

Não sei, mas o que vejo na vida real é o oposto disso. Tenho amigas de escola – uma delas do maternal – que sabem que podem contar comigo e eu com elas, apesar do tempo (ou da falta de), apesar das vidas diferentes que levamos, apesar das idas e vindas de nossos caminhos.

Tenho amigas que conheci no trabalho e que, depois da troca de empresa, ficaram para todo o sempre. Amigas com quem encontrar é melhor do que psicanalista, cromoterapia ou massagem relaxante. A vibração delas, mesmo que seja em um encontro de 10 minutos, faz meu dia ficar melhor e minha vida fazer sentido. Tenho amigas quase-virtuais, com quem encontro pouco, mas com quem troco emails tão sinceros e importantes que eu deveria imprimi-los e guardar ou transformar em um livro.

Já contei segredos a elas e nunca me decepcionei. Tenho os de muitas delas na minha mente e no meu coração sem nunca ter contado a absolutamente ninguém. Já chorei nos ombros delas e muitas nos meus em momentos nos quais eu sofri junto, como seu fossem meu próprio sangue.

Eu não diria que elas são muitas. Mas também não são poucas. São do tamanho exato do meu abraço. Elas me ensinam muito, no que dizem e no que fazem. E no que deixam de fazer. E no jeitinho que dão em tudo nessa nossa vida louca vida.

Indo além de mim: minha mãe sempre teve amigas de fé. Apesar da correria, ela também sempre teve um tempo especial para elas e desde pequena sempre percebi o quanto dividiam a vida, os problemas e as coisas boas.

Na terceira idade, o que vemos por aí? Mulheres que vão juntas ao cinema, vão de van ao teatro, aposentadas que almoçam ou tomam chá juntas pelos shoppings. Ou jogam biriba todos os domingos. Se fazem companhia quando seus homens já passaram dessa pra uma melhor ou simplesmente só gostam de ficar em casa de pijama vendo campeonato de sinuca pela TV.

Mas o mais importante nem é a presença física. O mais bonito na amizade feminina é a troca de experiências, o coração escancarado, a falta de vergonha de mostrar as fraquezas. Os homens podem ser muito companheiros, podem agir de forma corporativa, mas são raros os que de fato se abrem e expressam o que sentem com frequencia diante amigos.

Isso não os faz piores nem menores. Cada gênero sofre a ação da natureza e da cultura. E cada pessoa tem seu temperamento, sua criação, sua forma de querer viver a vida.

Apenas limpem a boca – homens e mulheres – antes de falar qualquer coisa sobre a amizade feminina. Ela não só existe, como é forte e duradoura. Está num altar, é sagrada e é humana.

E tenho dito.

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