Ignatius Banda, da IPS
Bulawayo, Zimbábue, 28/7/2010 – Enquanto os chefes de Estado e de governo da União Africana, reunidos em Kampala, discutem sobre questões de saúde materna e infantil, o Zimbábue tem dificuldades para colocar em prática suas políticas nessa área devido ao elevado custo das consultas médicas. É obrigatório que grávidas, mulheres que acabaram de dar à luz e recém-nascidos recebam assistência gratuita. Mas a queda da economia na última década obrigou os centros de saúde a buscarem renda própria para cobrir os gastos.
As mulheres se queixam de que não são atendidas porque não possuem dinheiro para pagar a consulta. Thandeka Mbwew, de 25 anos, até tem dúvidas em ter outro filho. Ela não tinha dinheiro para pagar os gastos médicos nem a ambulância que a levaria ao hospital. Há um mês teve seu filho e ainda não conseguiu juntar dinheiro para saldar a dívida. “Foi difícil ter este bebê”, afirmou triste.
Para ter um parto assistido em clínicas e hospitais estatais, as grávidas devem pagar US$ 50, um terço do salário mensal de um funcionário público de baixo escalão. O pessoal hospitalar costuma dizer às mães que não podem ir embora enquanto não pagarem o que devem. Muitas delas optam por levar seus filhos clandestinamente. Uma mãe escondeu o bebê em uma jaqueta e fugiu.
Outras vezes não recebem os documentos necessários para obter a certidão de nascimento. “Nossos filhos não podem ser cidadãos até pagarmos. É injusto”, lamentou Thandeka. Além disso, seu filho também não pode receber assistência médica. “As enfermeiras se negaram a fazer a visita quinzenal obrigatória a meu filho”, afirmou à IPS.
A mortalidade infantil diminuiu de 65 mortes em cada mil nascidos vivos para 60, entre 1999 e 2006, muito abaixo da meta de 22, segundo estudo feito no ano passado sobre o progresso do quarto dos oito Objetivos de Desenvolvimento das Nações Unidas para o Milênio, que fala em reduzir a mortalidade infantil em dois terços e a materna em três quartos, até 2015.
As outras metas são reduzir à metade a proporção de pessoas que vivem na indigência e sofrem fome, conseguir educação primária universal, promover a igualdade de gênero, lutar contra a expansão do vírus HIV, da malária e de outras doenças, garantir a sustentabilidade ambiental, e gerar uma sociedade global para o desenvolvimento entre o Norte e o Sul.
A situação vai piorar se continuarem impondo que as mulheres paguem suas dívidas para que os bebês recebam os cuidados médicos necessários, alertam trabalhadores da saúde. As parteiras pressionam o governo para que elimine o custo total da assistência médica. “Muitas mães nos culpam por não atendermos seus filhos”, disse Ntandokayise Ndebele, que trabalha em uma clínica num dos subúrbios mais populosos desta cidade do Zimbábue. “Porém, cumprimos ordens. Muitas delas desapareceram após receberem tratamento”, acrescentou.
O custo dos serviços de saúde pública estimulou a proliferação da medicina tradicional. “Quando os centros médicos não atendem, as mães buscam idosas que dizem conhecer ervas que podem curar seus filhos. Nem sempre funciona e correm riscos desnecessários”, afirmou a enfermeira especializada Hilda Noko. O mercado de remédios à base de ervas é visível no terminal de ônibus de Renkini e no subúrbio de Makokoba.
O rígido corte de gastos sociais, devido aos programas de ajuste estrutural do final da década de 90, prejudicou seriamente o sistema de saúde pública deste país. Além disso, tampouco conseguiu recuperar a economia. Alguns governos africanos buscam formas de eliminar o custo do atendimento médico, com apoio dos doadores. Desde o ano passado, em Serra Leoa não se cobra pelo serviço prestado a grávidas e a menores de cinco anos. Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)