Editorial do jornal Correio Braziliense (27/7/2010)
As mulheres constituem quase 52% do eleitorado brasileiro. São nada menos de 70,3 milhões de votos em todo o território nacional. Seria de esperar que parcela significativa desse contingente engrossasse as fileiras dos postulantes a mandato eleitoral. Não é, porém, o que se verifica. Partidos têm tido dificuldade de cumprir a lei da cota. Segundo estabelece a norma legal, partidos e coligações têm de apresentar pelo menos 30% de candidatos de sexo diferente na lista dos que pleiteiam disputar o voto do eleitor.
Segundo reportagem publicada domingo por este jornal, só 22,04% dos candidatos inscritos para disputar as eleições de outubro pertencem ao sexo feminino. Muitas não entraram na corrida para ganhar, mas apenas para atender a pedidos de amigos ou parentes. O maior índice encontra-se no Sul (26,24%), seguido pelo Centro-Oeste (22,72%), Norte (21,6%), Sudeste (20,98%) e Nordeste (18,51%). Como se vê, nenhuma região atingiu o patamar imposto. No Distrito Federal, das 11 coligações registradas, só três cumpriram a lei.
Há muitas explicações para o fenômeno. Uma delas é cultural. A brasileira só conquistou o direito ao voto em 1932. Com restrições: só mulheres casadas com autorização do marido, viúvas e solteiras com renda própria podiam votar. O direito pleno veio dois anos depois. Do poder de escolher ao de ser escolhida, há longo caminho a trilhar. O percurso exige mudança de mentalidade. A trajetória, como a de toda aprendizagem, implica idas e vindas. O movimento feminista abriu caminho para o acesso maciço à educação e à conquista do mercado de trabalho.
Falta desbravar o caminho da política. Havia a reclamação, comum à de outros países, de que os partidos não abriam espaço para as mulheres. A lei da cota corrigiria a tendência machista. A guinada ainda não ocorreu. Apesar de o país ter duas presidenciáveis, uma das quais com grande possibilidade de vitória, a participação feminina no Congresso oscila em 10%. É pouco. Outras iniciativas se impõem para estimular a corrida das mulheres em direção ao poder político. Figurar na relação dos candidatos é passo importante, mas não suficiente. Outros se impõem. Entre eles, ajudar efetivamente na divulgação da campanha. As candidatas não devem apenas preencher a cota. Devem ser lançadas para vencer.