A serpente da discórdia
Nem bem volto das férias e vejo aqui mesmo no G1 uma notícia dizendo que o movimento da Terra teria provocado mudanças nos signos e que um astrônomo estaria explicando como os signos astrológicos estão errados. Além disso, deveria haver um novo signo chamado Ofiúco (ou Serpentário).
Essa notícia gerou uma onda de emails pedindo maiores explicações. Decidi tocar no assunto. E, pelo visto, o ano vai começar quente.
Nenhum astrônomo que se preze vai defender uma nova astrologia, ou qualquer astrologia, como muitos estão dizendo por aí. Essa história de signos defasados é bem antiga, eu mesmo a uso nas minhas palestras, justamante para ilustrar como a ideia de associar um signo (que é, na verdade uma constelação) do Zodíaco de hoje à posição que o Sol ocupava quando a pessoa nasceu está errada.
Considerando ainda que cada signo dita a personalidade da pessoa, a consequência é que a astrologia acaba ligando a pessoa a uma personalidade que não tem nada a ver com aquele indivíduo.
A astrologia começou há 5 mil anos com o intuito de prever o futuro. Que futuro? Ditar o início das estações ou conhecer as épocas de chuva e de estiagem, entre outras previsões. Essas datas eram chave para estabelecer a época de plantio, de colheita, de estocar comida ou água. Era questão de sobrevivência.
O astrólogo do rei, imperador ou faraó, dependendo da civilização, tinha um enorme poder e responsabilidade. Dependia dele a estabilidade política do imperador e do império. Uma previsão errada poderia gerar fome. Com a falta de comida, revoltas iniciariam e cabeças rolariam. Literalmente.
Observações cuidadosas, século após século, mostraram que o Sol percorre um caminho bem definido “sobre” as constelações no céu. Durante o ano, sempre antes do amanhecer, ou logo depois do entardecer, os astrólogos marcavam quais estrelas estariam mais próximas da posição do Sol. Com o passar dos meses, eles notaram que as estrelas iam mudando. Parecia que elas se moviam por trás do Sol. Na verdade, esse é o efeito do movimento da Terra ao redor do Sol, que acaba sendo ‘projetado’ contra um fundo de estrelas.
De um modo geral a coisa funciona assim: as estrelas vistas próximas ao Sol no começo do ano, estariam na direção oposta a ele, seis meses depois. Essas estrelas estão agrupadas em constelações e essas constelações pelas quais o Sol “passa” em frente formam o Zodíaco, que nada mais é do que o caminho percorrido pelo Sol.
Para encaixar todas as constelações em um ano, o Zodíaco foi dividido em 12 partes iguais e a cada uma delas foi associada uma constelação, com datas de entrada e saída do Sol. Quando o Sol estiva sobre uma constelação específica, os especialistas sabiam dizer que era época de chuvas. Quando estivesse em outra, era hora de se preparar para o inverno.
Mas com todo o misticismo atrelado à leitura das estrelas, foi quase uma consequência imediata que os astrólogos começassem a ditar, por exemplo, como o filho do imperador, nascido sob a constelação do Leão, deveria herdar deste signo características como a bravura e a coragem. Talvez fosse uma forma de agradar o chefe e garantir a cabeça caso alguma coisa saísse errado!
Mas a partir de algum momento, prever o futuro no céu ficou a cargo da meteorologia e a astrologia passa a sobreviver de tentar conhecer o destino das pessoas.
Só que faltou combinar com os russos, como diria Garrincha. O Sol, em seu caminho “sobre” as estrelas passa por 13, não 12 constelações. O nome de tal constelação é Ofiúco. Além disso, o Sol não fica exatamente 30 dias em cada uma das constelações. A velocidade da Terra em torno do Sol não