Consciência política também deve ser assunto na hora do jantar

Por Edson Garcia Gomes*

 

Fazer política será sempre pensar na nossa relação com os outros, no bem estar da maioria. Isso deve estar presente e orientar o currículo escolar e a vida social de toda família.

“A política é como a esfinge da fábula: devora a todos que não lhe decifram os enigmas” Essa frase, do escritor francês Antoine Rivarol, sintetiza o motivo maior da preocupação em educar politicamente os jovens. Com a conquista da democracia, a responsabilidade de zelar pelos rumos do país saiu exclusivamente das mãos dos governantes e chegou até nós, cidadãos que vão à urna exercer o direito de votar. Só que precisamos aprender que, além disso, temos o dever de fiscalizar.

O assunto não parece um dos melhores para se discutir, ao redor da mesa, com a família, depois de mais um dia de trabalho. Se pressupõe que será uma conversa longa com muita discussão e diálogo além de exigir participação de todos na negociação de posturas. Mas o fato é que em um país onde não se formam cidadãos conscientemente políticos, o futuro da sociedade fica a mercê dos poucos que entendem do assunto. E isso não é, no mínimo, confortável para a nação.

Por isso chamar a atenção para algo tão delicado se faz urgente, principalmente em época de eleição onde os olhos se voltam para a decisão eleitoral do mês de outubro. Penso que a política é a essência do relacionamento humano. Quanto mais nossa sociedade – e nossas vidas – se tornam mais complexas, mais nos metemos de cabeça na política. Entender a dinâmica da vida, nossos relacionamentos, nossos caminhos, sonhos, projetos, nossa identidade, tudo isso se vincula à atividade política, aqui entendida como a arte suprema da busca do bem estar coletivo. Fazer política, nesse sentido será sempre pensar na nossa relação com os outros, no bem estar da maioria. Isso deve estar presente e orientar o currículo escolar e a vida social de toda família.

É preciso vencer o tabu do medo ideológico incutido nos educadores que política não combina com escola. Pois a verdade é totalmente o contrário. As duas vertentes estão diretamente ligadas à vida em sociedade e precisa ser tratada com transparência e clareza para que se formem cidadãos mais esclarecidos sobre o poder que exercem na democracia.

Não se pode tranferir a formação política dos jovens

A maioria das escolas e dos educadores nesse momento são vítimas de um certo descaso e falta de investimentos públicos na educação pública. Vivemos a consequência dos últimos governos, da mordaça, da fraqueza da nossa jovem democracia e da tibieza da maioria dos líderes políticos. Tudo isso refletiu e ainda reflete na organização, na competência e no desempenho das escolas. Ao redefinir o seu papel na sociedade é preciso que a escola encontre o espaço necessário para a educação política.

Nesse sentido, os pais precisam ter a noção de que não se podem transferir para as instituições de ensino a total responsabilidade da formação política dos jovens, pois dessa forma abrirão uma lacuna no diálogo domiciliar tão importante quanto os debates escolares.

Ao longo e médio prazo a intervenção da escola e da família no sentido de formar pessoas com uma visão da política como a busca pelo bem estar coletivo, certamente contribuirá para formar líderes políticos mais conscientes do seu papel e mais responsáveis com uma sociedade socialmente mais justa. Da mesma forma que o regime político ditatorial que se instalou no país a partir de 1964 abolindo, entre outras coisas, a discussão política e filosófica na escola, contribuiu para deixar um enorme vácuo na formação de novos líderes nessa perspectiva.

Mesmo que as mudanças em uma sociedade não passem apenas por crianças e jovens, é importante salientar que com essa base política elas mudarão o foco do seu olhar e do seu comportamento, lidando com mais atenção e sabedoria com as coisas da vida. E, cá entre nós, isso já é bastante. Se discutirem nas escolas um pouco mais sobre política, no mínimo, votarão com mais sabedoria e aprenderão a controlar e cobrar os nossos políticos partidários. Educação é a base de todas as sociedades mais evoluídas socialmente. E educação pela política é a semente do “em se plantando dá”.

é autor do livro De Olhos Bem Abertos – A política presente em nosso cotidiano (FTD) – comunicacao1@joribes.com.br

 

(Envolverde/Economia Interativa)

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