Beatriz, 16, entre bombas, tiros e protestos

PAULO MOREIRA LEITE – revista Época

(O centro de São Paulo foi cenário, ontem, de um protesto de estudantes contra o aumento de 11% nas passagens de ônibus. Reunidos em frente ao Teatro Municipal, secundaristas e universitários organizaram uma passeata que atravessou o VAle do Anhangabaú e desfilou por diversas ruas da região, até ser atacada por forças da polícia. Os estudantes denunciam que foram atacados com violência, que empregou balas de borracha, bombas de gás e cassetetes. Num esforço para esclarecer o que ocorreu, o blogue publica abaixo um relato de Beatriz, 16 anos, aluna de uma escola privada da capital. Beatriz escreveu o relato pouco depois de abrigar-se numa padaria do centro de São Paulo para fugir da ação da polícia. Vamos ler seu texto, publicado sem alterações).

TARIFA AUMENTA, CIDADÃO SE MANIFESTA E A POLÍCIA ATIRA

Considerando que as escolas e faculdades estão em férias, o número de estudantes que se reuniram em frente ao Teatro Municipal para protestar contra o aumento da tarifa do ônibus nesta quinta-feira, foi bastante razoável.
Os organizadores estimam que pelo menos mil estudantes universitários e secundaristas se encontraram no local antes de percorrer as ruas do centro da cidade em passeata.

A manifestação, organizada pelo MPL (Movimento Passe Livre), partiu por volta das 18h30 em direção ao prédio da Prefeitura de São Paulo. Palavras de ordem como “vem pra rua contra o aumento” e “quem não pula quer tarifa”
foram cantadas com bastante empolgação. Junto às duas baterias, a principal do próprio MPL, os cantos surtiram grande efeito n as ruas, sendo apoiados pelos moradores e trabalhadores do local.

Em frente à prefeitura, a manifestação se concentrou mais para dar maior ênfase às frases como ‘’chega de aumento pra deputado e pro povo busão lotado’’. Tínhamos a companhia da mídia contando com o UOL, R7, Correio da Cidadania, Folha de São Paulo. Passando pela R. São Bento, chegamos à Av. São João onde a PM, com motocicletas, tentou conter a passeata em apenas duas das quatro faixas de trânsito da avenida. A manobra, porém, não surtiu efeito e os manifestantes logo ocuparam toda a rua. Esse comportamento da polícia foi mantido té a Av. Ipiranga, quando a ocupação das ruas, que era apenas coerente ao número de pessoas, se tornou pretexto para uma forte repressão. A Força Tática se utilizou de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, balas de borracha, spray de pimenta e, claro, os cassetetes. Começou com o spray, logo que parte dos manifestantes se dirigiu ao Ministério da Educação. As outras partes do movimento foram rumo à câmara de vereadores, Teatro Municipal e Terminal Bandeira. Os grupos separados continuaram sendo reprimidos violentamente com sprays e constante bombeamento e tiros, enquanto viaturas bloqueavam fortemente as ruas tentando impedir um novo reagrupamento dos manifestantes.

Eu fui primeiro surpreendida na Av. Ipiranga por uma bomba de gás que veio por trás. Seguimos a frente – eu e uma amiga – ajudando os mais empolgados, mesmo que assustados, que tentavam manter o grupo unido. Os
policiais passaram a cercar a passeata brutalmente, avançando a pé com os cassetetes e armas gritando ‘’Vaza, sai daqui pois se não…’’. Alguns inclusive perseguiram os manifestantes com tiros, fato filmado por um estudante (veja nos links anexados).

O responsável pela operação da Força Tática  justificou à Folha de São Paulo: “era para dar segurança aos manifestantes e evitar que os mesmos fossem atropelados”. No entanto, o fluxo cobria as ruas ha um certo tempo, e para nós manifestantes, a chance de ser atropelado não era tão amedrontadora quanto a de ser reprimido. No fim, realmente não fomos atingidos e nem feridos pelos carros, mas sim pelas bombas e tiros.

Foi detido um jovem durante a manifestação, e outros 30 após a repressão enquanto fugiam pelas ruas do centro. Foram estimados, novamente pela organização do movimento, pelo menos 10 feridos. Os ferimentos proviam dos cassetetes, tiros de borracha – que provocaram sangramentos intensos – e de estilhaços cortantes vindos das bombas de efeito moral. Alguns estudantes inclusive passaram mal, chegando a vomitar enquanto se refugiavam nos bares e padarias. Na noite de quinta-feira, até às onze horas, os detidos foram todos liberados.

O MPL-SP vai levar as jornadas de luta adiante, tendo em vista uma nova grande manifestação dia 20 de janeiro, na praça do ciclista (esquina da R. Consolação com a Av. Paulista), iniciando a concentração a partir das 17h. Um dos integrantes do movimento acredita que em função da repressão de quinta-feira o número de manifestantes deve crescer,  levando em conta a grande revolta em função da violencia. No entanto, não devemos desconsiderar aqueles que não voltarão e tantos outros que agora temem exercer a sua liberdade de expressão.

Links
Sobre o MPL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Passe_Livre

Vídeo da perseguição: http://www.youtube.com/watch?v=2ExBjlX8-
wE&feature=BF&list=ULa3rMGs_

qfU8&index=23

facebook MPL-SP próximo ato: http://www.facebook.com/event.php?
eid=144837565575118

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