Daniela Kresch – revista Época
Na seção Mulheres pelo Mundo de hoje, a jornalista Daniela Kresch, de Israel, fala de um assunto bem feminino: unhas.
Outro dia minha irmã, que mora no Rio, me mandou uma foto de suas mãos. Queria me mostrar o anel novo, mas eu prestei atenção mesmo foi nas unhas. Bem tratadas, bem cortadas, bem pintadas com um esmalte brilhoso… Me deu inveja – sentimento que cultivo sem querer, como uma erva daninha insconsciente.
Coisa normal fazer as unhas, né? Marca-se hora num salão. Senta-se por 20 minutos ou meia hora com uma manicure à sua frente (ou duas, se você preferir fazer unha e pé ao mesmo tempo). A manicure põe seus dedos em água morninha, apara as unhas, coloca creme, tira a cutícula e passa duas camadas do esmalte escolhido, corrigindo a pintura com acetona. Quase sempre, a profissional passa o dedão na ponta da unha para deixar uma faixa despintada, o que dificulta o descascar do esmalte.
No final, você paga um preço médio, de uns R$ 10 mais ou menos, né?, e segue para seu destino se sentindo limpa, linda e loira.
Ai, ai. Só suspirando. Moro em Israel há mais de sete anos e as únicas vezes em que minhas unhas brilharam, minhas cutículas sumiram e a pele das minhas mãos ficaram suaves foram quando estive no Brasil, de visita. Aqui em Israel – como em muitos países com exiladas brasileiras – a instituição “manicure boa, barata e à disposição” não existe.
Não é de hoje que reclamo disso (para mim mesma, por falta de congressistas que considerem o assunto uma emergência nacional).
Vamos por partes: o que é manicure “boa”. Por aqui, é considerada manicure “boa” a moça que empurra a cutícula (sem passar creme antes) e pinta as unhas que nem a cara dela. A complicadíssima técnica de corrigir os erros com acetona não é usada. Aqui, estamos na Era Pré-Acetona. Também é luxo tirar cutícula, colocar creme e cuidar para que o esmalte não descasque rapidamente.
Ah, nem vou comentar o fato de que as manicures preferem colar unhas artificiais e desenhar florzinhas rosas com pitadas de purpurina durada em cima. Deixa para lá.
Pedicures, por aqui, são mais podólogas: cuidam menos das unhas e mais da secura nos calcanhares. Colocam luvas e arrancam a pele morta dos pés com giletes – mesmo quando a cliente não tem assim tanta pelezinha seca. O preço, claro, é salgado. Já paguei para fazer as unhas dos pés e das mãos a baba de 180 shekels (R$ 85!!!!!!). Isso para chegar em casa e ver o esmalte sair na primeira lavada de prato.
“Manicure barata”, concluindo, é quase como o acordo definitivo de paz entre palestinos e israelenses: inexistente.
Mas há esperanças. Não para o caso do acordo de paz, mas para o das manicures. Pelo menos no quesito “disponibilidade”. Recentemente, pipocam pelos shopping do país quiosques de “manicure express”, algo como o fast-food das unhas. Nesses locais, a mulher desesperada pode ser atendida quase que imediatamente (15, 20 minutos de espera…) e pagar “só” 50 shekels (R$ 24) para que empurrem sua cutícula e coloquem esmaltes baratos (daqueles que, se ficarem muito tempo na unha, causam micose).
Uma maravilha!
Quando cheguei a Israel, lembro que minha cunhada confessou nunca ter feito a unha. Ela já tinha mais de 30 anos, mãe de dois filhos, quando admitiu esse pecado.
– Por que você faz a unha? – perguntou, num misto de curiosidade genuína e crítica a quem ela considerava ser uma patricinha mimada.
– Sei lá. Porque a mão fica bonita, porque levanta a auto-estima, porque me sinto mais limpa… – respondi, me surpreendendo com uma pergunta que, no Brasil, nunca seria feita por uma mulher de mais de 30 anos.
Agora entendo a estranheza. Por aqui, fazer é unha ainda é um luxo. Algo com o qual mulheres sérias, mães de família e profissionais em correria, não perdem seu tempo – e seus shekels. Com o advento dos quiosques de “manicure express”, parece que esssa tendência começa a mudar. Agora é torcer para que isso aconteça antes da paz realmente chegar ao Oriente Médio