Sex shops mudam e se tornam ‘butiques sensuais’

Anay Cury – Do G1, em São Paulo

Serviços incluem aulas de striptease, ginástica erótica e ‘happy hour sexy’. Setor registrou crescimento de 17% no ano passado, segundo associação.

O antigo modelo de sex shop, instalado em lugares escuros e escondidos, ficou para trás no Brasil, dando espaço a instalações amplas e sofisticadas, que oferecem desde os tradicionais brinquedos adultos até academia de ginástica erótica e happy hour sensual – só para mulheres.

Ao desenvolverem esses tipos de atividade, as agora chamadas “butiques sensuais” têm incrementado seu faturamento, a cada ano, em 20%, em média, contribuindo para o avanço do setor. Em 2010, de acordo com dados preliminares da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), o crescimento foi de 17%, contra 15% no ano anterior.

mimosexLoja Mimo Sexy, em Alphaville, vende produtos, oferece cursos e faz venda porta a porta. (Foto: Carla   Jakubovic/Divulgação)

Com a proliferação das lojas virtuais, que requerem menos custo para abertura e manutenção dos negócios, a aposta em serviços tem se convertido em lucro certo e longevidade provável, segundo os empresários.

“Esse mercado funciona como os outros. É preciso fazer merchandising. Essas aulas, esses serviços que os sex shops oferecem são como uma degustação do que está à venda. É o que os supermercados, por exemplo, fazem. Os consumidores experimentam para depois comprar”, disse o professor dos cursos de Administração e Economia das Faculdades Integradas Rio Branco, Carlos Eduardo Stempniewski.

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Palestra de Andreia Berté, da Joanah Pink
(Foto: Kelly Knevels/Divulgação)

O Joanah Pink, Centro Integrado da Mulher, que fica em Curitiba, é prova de que a realização desses eventos converte-se em vendas expressivas. “Já aconteceu de uma turma de 30 meninas, mais ou menos, sair de uma palestra e gastar R$ 4 mil em meia hora. Aqui é como a Disney, onde você sai de uma atração e já cai direto em uma lojinha de lembrancinhas”, brincou Fernanda Pauliv, uma das proprietárias da empresa.

Para expandir o negócio, ela e a sócia, Andreia Berté, estudam franquear sua loja. “Como business, está dando muito certo”, diz Fernanda, que, com a sócia, abriu o centro feminino há sete anos. Hoje, o Joanah Pink oferece orientação sexual, estúdio de dança, no qual se incluem todas as variações eróticas (pole dance, chair dance e lap dance, por exemplo), salão de beleza, consultas médicas com ginecologistas e até uma espécie de centro de estudos sobre a história do sexo.

Aqui é como a Disney, onde você sai de uma atração e já cai direto em uma lojinha de lembrancinhas”
Fernanda Pauliv, da Joanah Pink

Alguns sex shops contam ainda com atendimento em casa, a conhecida “venda porta a porta”. A iniciativa fez com que a comercialização de produtos da Mimo Sexy, em Alphaville (região metropolitana de São Paulo), crescesse perto de 20% desde que a ideia foi adotada pela proprietária, Renata Bertacini.

“Muitas mulheres ainda têm vergonha de frequentar um sex shop, de serem vistas com uma sacolinha. Por isso eu vou até elas. Já cheguei a atender um grupo de donas de casa às 9h”, contou. Com a ajuda dessa iniciativa, Renata ampliou seus negócios e já deu início à reforma do seu espaço, onde produtos são vendidos e cursos, realizados.

Assim como a Mimo Sexy, que realiza mensalmente a “happy hour sexy”, onde um grupo de mulheres, com a presença de especialistas, discute questões relacionadas a sexualidade, a Marcot Boutique e Studio Sensual, instalada em São Paulo, também oferece atrativos que vão além da já esperada venda de artigos eróticos.

Laboratório da Hot Flowers, fabricante de produtos eróticos instalada em Indaiatuba, no interior de São PauloLaboratório da Hot Flowers, fabricante de produtos
eróticos instalada em Indaiatuba, no interior de
São Paulo (Foto: Divulgação)

Além de aulas em grupo e individuais – para quem quer mais privacidade – que chegam a custar R$ 420, a empresa oferece chás de lingerie. A noiva e as convidadas participam de palestras, brincadeiras e de uma mini-aula de striptease. Terapia para casais ciumentos também está incluída no cardápio da loja.

“Os clientes acabam participando desses eventos e ficando interessados em comprar. Uma coisa ajuda a outra”, disse Daniela Cardoso, personal sex e sócia da Marcot.

“Nos últimos cinco anos, vivemos uma alteração de comportamento de consumidores e empreendedores. No início, as lojas eram voltadas para homens e ficou assim por muito tempo. Agora a atenção do mercado está se voltando para as mulheres. Desde 2002, essa retomada tem se destacado”, disse a presidente da Abeme, Paula Aguiar.

Entrega express
Dono da maior loja virtual de produtos adultos do país, segundo a associação do setor, Daniel Passos, que inaugurou a Loja do Prazer em 2002, faz parte de uma crescente geração de empresários que apostam na internet e contribuem para as criativas iniciativas das lojas físicas.

Comprovando o avanço do setor, que hoje conta com 10 mil pontos de venda em todo o país, segundo a Abeme, o empresário deu início às suas atividades em 2002, com dois funcionários, e hoje conta com cem e recebe 8 mil pedidos de compras por mês. No Natal, esse número vai a 10 mil. “Hoje, temos uma estrutura que permite que a gente entregue um pedido em até quatro horas. Se passarmos do prazo, não cobramos o frete.”

Na Loja do Prazer, o catálogo de produtos ganhou a companhia de itens com apelo mais romântico e menos erótico. “A gente tem que investir sempre em novidade. Percebi que podia vender lingerie, bijuterias, roupa de cama, toalhas, vinho, chocolate.. O que o homem ou a mulher quiser para montar uma cesta de presentes encontra na loja.”

Quanto à possibilidade de abrir uma loja física, o empresário a descarta, já que, segundo ele, teria mais gastos e menos segurança. A Loja do Prazer conta hoje com 11 mil produtos de pronta entrega.

Produtos brasileiros tipo exportação
Em geral, boa parte do que é distribuído para a venda nos sex shops, tanto nas lojas físicas quanto nas virtuais, é da indústria nacional. De acordo com a Abeme, em 2005, por exemplo, 80% dos itens à venda eram importados, principalmente dos Estados Unidos e da Europa. Atualmente, esse percentual caiu para perto de 65%, e o que é importado tem a China como um dos maiores fornecedores.

Prova do aquecimento do mercado brasileiro é a fabricante Hot Flowers, instalada em uma área de 4.280 metros em Indaiatuba, no interior de São Paulo, considerada uma das maiores da América Latina.

De 2009 para 2010, o crescimento da empresa foi da ordem de 17% a 23%, de acordo com Susi Saga, do departamento comercial e de comércio exterior da Hot Flowers. A empresa já começa a se projetar no exterior, recebendo pedidos de países como Grécia, Espanha, Portugal, Argentina,
Paraguai e Bolívia, entre outros.

“Por isso, criamos até um departamento de comércio exterior, porque estamos com o projeto de exportação. Temos todos os registros necessários”, afirmou Susi.

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