Londres foca aborto em ajuda externa

Folha de São Paulo(1/1/2011) 

SARAH BOSELEY – DO GUARDIAN

Britânicos duplicam verba destinada à saúde materna e infantil e à redução de mortes causadas pela malária

País elevou estímulo ao planejamento familiar no mundo até durante o governo de Bush, que era contrário à prática

O governo do Reino Unido anunciou que pretende focar a contracepção e o aborto seguro em seus esforços para ajudar a salvar vidas de mulheres em países pobres.

Dois documentos revelam os planos britânicos para o desenvolvimento internacional, cujo orçamento é protegido. Um deles foca o combate à malária. O outro prevê esforços para salvar as vidas de gestantes e de seus filhos.

O aborto seguro e a contracepção são os pontos principais do programa de saúde materna. Em todo o mundo, há estimadas 75 milhões de gestações indesejadas anualmente e mais de 22 milhões de abortos inseguros, 70 mil dos quais terminam com a morte da mãe.

Em setembro passado, na cúpula da ONU sobre as Metas do Milênio, o vice-premiê britânico, Nick Clegg, prometeu que o Reino Unido se esforçará para salvar as vidas de pelo menos 50 mil mulheres e 250 mil recém-nascidos nos próximos cinco anos.

O planejamento familiar, para ajudar a evitar a gravidez indesejada, é visto como esforço de boa relação custo-benefício: estimou-se em 2008 que métodos contraceptivos modernos custam US$ 8 por mulher por ano.

Um dos alvos dos planos britânicos serão as adolescentes. O plano prevê acesso à contracepção a até 1 milhão de meninas de até 16 anos.

O financiamento a países pobres dobrará entre 2010 e 2015 e, a partir desse ano, se estabilizará em um nível alto.

O Reino Unido vai gastar em média 740 milhões de libras anuais com a saúde das mulheres e crianças, totalizando 4,4 bilhões de libras (R$ 11 bilhões) -montante de 2,1 bilhões de libras mais que os valores anteriores.

Com esse total, diz o governo, haverá gastos importantes com saúde reprodutiva, visando possibilitar que cerca de 10 milhões de mulheres a mais escolham se terão filhos, quando e quantos.

Os detalhes sobre quanto será encaminhado a agências como o UNFPA (Fundo de População da ONU), Marie Stopes e outros só serão disponibilizados quando a revisão total de gastos for concluído, no início de 2011.

Não é de hoje que o Reino Unido apoia o planejamento familiar, incluindo o aborto seguro, mesmo quando aliados geopolíticos não o fazem.

Quando o governo George W. Bush reduziu verbas para agências internacionais que ajudavam mulheres a buscar abortos, o Londres aumentou seu financiamento para a saúde reprodutiva, para tentar preencher a brecha.

PARTO SEGURO

O outro foco de atenção é o parto seguro. O Reino Unido pretende ajudar mais de 2 milhões de mulheres a ter seus filhos em segurança, para isso investindo na formação de parteiras.

O segundo documento promete que a assistência britânica ajudará a reduzir pela metade o número de mortes por malária em lugares críticos da África e Ásia.

O Reino Unido financiará exames e tratamentos e aumentará o fornecimento de mosquiteiros.

Crianças pequenas e mulheres gestantes são as principais vítimas da malária; cerca de 200 mil crianças e 10 mil mulheres morrem em decorrência de malária durante a gravidez.

O Reino Unido dará apoio especial em relação à malária e à saúde materna e infantil a países frágeis e atingidos por conflitos, nos quais é difícil trabalhar. Até um terço das mortes por malária e metade das mortes maternas ocorrem nesses países.

 

FONTE: CCR

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