MARCELO BERNARDES, DE NOVA YORK – Revista Época
A atriz diz como cria seis filhos, pilota aviões e namora Brad Pitt sem medo de ser espionada
A vida de mãe de uma fotogênica prole de seis filhos que tem como companheiro um galã de Hollywood (Brad Pitt), sabe pilotar aviões e desempenha o papel de agente humanitária ofusca a carreira de atriz de Angelina Jolie. Não à toa. Deslumbrante numa saia preta Dolce & Gabbana e jaqueta cinza de strass, Angelina, de 35 anos, se prontifica a opinar sobre tudo, dos presentes que vai comprar para os filhos no Natal a críticas ao ensino público americano, passando pelo site WikiLeaks, de Julian Assange. Mas seu novo filme, O turista, no qual interpreta uma misteriosa inglesa que seduz um professor de matemática (Johnny Depp) em uma viagem a Veneza, rendeu-lhe sua sexta indicação para o Globo de Ouro nesta semana.
ENTREVISTA – ANGELINA JOLIE |
QUEM É Nasceu em 1975, em Los Angeles, na Califórnia. Vive com o ator Brad Pitt. É mãe de seis filhos, três deles adotivos O QUE FEZ Atuou em 40 filmes, entre eles Garota, interrompida (2000), que lhe rendeu um Oscar. Em 2011, deverá estrear na direção de um filme (ainda sem título) |
Angelina Jolie – (risos) – Meu filho de sete anos (Pax) fez aniversário enquanto eu promovia O Turista para a imprensa européia em Paris. Saímos para comprar presentes para ele, e também comprei algumas coisas para o Natal. Adoro fazer compras de Natal. Sou dessas mães obcecadas por colocar presentes dentro de uma meia (risos).
Angelina – Muitas coisas. Minha principal preocupação é a de que todos meus filhos recebam um número igual de presentes. Meu filho de nove (Maddox) está mais interessado em receber ouro virtual para ele usar no game World of Warcraft (risos). Meu filho de dois (Knox Léon) quer coisas de montar da Lego. Leva um pouco de tempo para montar toda a lista deles. (risos)
Angelina – Qualquer lugar que eu não tenha visitado ainda, e que minha família pudesse ficar por um bom tempo. Nós adoramos safaris, de ficarmos em tendas. Nós adoramos a Ásia, mas nunca exploramos a China, que é um lugar que está na minha lista de prioridades. China, e também a América do Sul. Qualquer lugar novo, que não só fosse paradisíaco, mas que nos oferecesse também algum tipo de aventura física. Com tantos filhos, é legal fazer uma aventura.
Angelina – Claro, em algum momento nós teremos que visitar o Brasil. Existe um projeto de filme no Brasil que o Brad está contemplando há algum tempo. A coisa sobre viajar com minha família, é que nós realmente esperamos criar nossas crianças ao redor do mundo. Se existe um projeto de filme que ambos gostamos, é claro que isso torna as viagens ainda mais apetitosas para a gente.
Angelina – Claro. Mas têm lugares que eu vou, sou reconhecida, mas o diferencial é que as pessoas não se importam (risos). Isso é muito legal. O máximo de bajulação é: “você é uma artista! Legal”.
Angelina – Sim. Quando fiz o The Good Shephard, com o Robert De Niro, tive algumas aulas de etiqueta para capturar o comportamento das mulheres americanas nos anos 50. Em O Turista, eu disse ao Florian (o diretor), que seria legal ter aulas de etiqueta, pois estaria interpretando uma européia refinada. Não queria soar falsa. Sendo americana, eu ando e gesticulo diferente.
Angelina no intervalo entre as gravações. Ela concilia o trabalho com o ativismo e a rotina de mãe
Angelina – (risos). Não, se bem que eu acho que poderia melhorar minhas boas maneiras em vários sentidos (risos). Minha personagem no filme tem um ritmo diferente, ela gosta de viver de sofisticação. Nós, mulheres modernas e trabalhadoras, temos muitas coisas para fazer durante o dia, e não temos tempo para diminuir o ritmo ou o passo, colocar uma luva devagarinho, ou parar para tomar um chá no meio da tarde (risos). Às vezes diminuir o ritmo faz nós mulheres sentirmos um pouco esquisitas por um momento, mas depois vemos que existe uma beleza em podermos tirar um tempinho para nós, para respirar um pouco.
Angelina – Não gosto de ter ninguém me falando o que tenho que fazer (risos). Mas gosto de pessoas com opiniões fortes, que chegam para mim e falam o que sentem. É sempre bom ouvir de uma pessoa que tem paixão por determinado assunto chegar para você e dizer o que é importante para ela. Nesse sentido, não sou contra ninguém tentar sobrepujar-me uma opinião.
Angelina – Em muitos e muitos aspectos sou uma pessoa totalmente normal, simples. Em primeiro lugar, sou mãe de seis filhos. Como não ser pé no chão? Acordo toda manhã e sei que, cuidar da saúde deles, da felicidade deles, será o trabalho mais importante do dia. E isso é o que realmente importa para mim. Mas é claro que também sou capaz de expor um lado totalmente irreverente e meio selvagem. Claro, absolutamente! (risos)
Angelina – Eu acho que me sinto bonita, isso é difer
ente. Não sou narcisista fazendo beleza ser meu foco de atenção. Acho que me sinto dessa maneira porque o Brad me faz sentir bonita. Minha mãe dizia que eu me parecia fisicamente com ela, e agora eu vejo que sou parecida com minha filha. Isso é bonito. Estou na casa dos 30 anos, e me sinto mais mulher, mais madura, essas coisas me fazem me sentir mais bonita.
Angelina – Você pode não acreditar, mas eu nunca fiz ioga. Sou péssima em exercícios, academia. Deveria pensar mais nisso, pois estou ficando mais velha e sei que ioga é ótimo para a flexibilidade do corpo. Mas em minha vida, no momento, não existe tempo livre para me exercitar.
Angelina – Não tenho muito, mas aforturnadamente não preciso de muitas horas de sono para me sentir energizada. Costumava sofrer de insônia quando era mais jovem. Agora, com um punhado de filhos, vejo isso como um bônus (risos).
Angelina – Sempre respondo com uma certa surpresa à pergunta: como é que você pode fazer todas essas coisas: Mas toda mulher é assim. Nós somos multifacetadas. De um lado tem esse nosso aspecto extremamente acalentador e, de outro lado, tem esse aspecto privado, entre portas fechadas (risos). E as mulheres, quando confrontadas com temas sociais e políticos urgentes, se tornam extremamente conscientes do mundo ao redor delas, e querem ajudar de alguma forma. Então, não existe nada de exótico no que faço. Penso que sou parecida com um bocado de mulheres por ai.
Angelina – Esse é um elogio que vou aceitar (risos). Obrigada. Acredito que sou esperta o suficiente para saber que tenho muito o que aprender. Então sei que, se passar parte do meu dia tentando aprender certas coisas sobre a criação de meus filhos, serei uma mãe melhor. Se educar mais sobre as causas globais, sei que poderei ajudar sobre certos assuntos. Existe um básico que você precisa aprender para fazer a coisa certa. Certamente, considero-me muito mais sábia hoje do que 10 anos atrás.
Angelina – Esse é o tipo de pergunta que não tem uma resposta segura para se dar (risos). Acho que a maioria das pessoas ainda não entendeu completamente a dimensão da coisa.
Angelina – Mas eu não tenho nada para esconder. Na verdade, acho que ficaria um pouco orgulhosa que algumas de minhas conversas particulares com diplomatas se tornassem públicas, pois eu tendo a ser bastante combativa quando entre quatro paredes, tentando expor minha opinião sobre algo que eu acredito.
Angelina – Gostaria que existisse um livro que ensinasse cada pai como navegar por entre o sistema escolar e como traçar um método que atenda o melhor dos interesses e aptidões de cada criança, e que as ajudassem a entender coisas tão diversas como cultura, religião e política. Acho que existe uma urgência de se modernizar o sistema escolar. Estou cada dia mais envolvida com isso, principalmente ao viajar para diferentes países s ver o método de ensino de cada um. Quando eu viajo para outro país por um longo período, quero é que meus filhos visitem museus, tenham tempo de aprender a tocar a guitarra, e leiam um livro no período vespertino. Luto para descobrir um novo jeito de desenvolver coisas mais diretamente para nossas crianças. Considerando o montante de informação que temos a nossa disposição hoje, considerando a internet, o montante de livros disponíveis na internet ou em novas tecnologias, eu acho que deveria existir um novo método de explorar o ensino, mas infelizmente nosso sistema educacional ainda não acompanhou as mudanças geopolíticas e tecnológicas. No papel de mãe, é minha obrigação pensar um jeito de chacoalhar as coisas e fazer o ensino melhor.
Angelina – Ambas as
coisas. Quando rodei um filme na França, alguns deles foram à escola. Em Nova York, Praga e Veneza, onde trabalhei por último, sempre tivemos professores de diversas nacionalidades em nossa casa. Pax tem um professor que ensina vietnamita para ele todos os dias. E temos também professores da África para a Zahara. É como se tivéssemos construindo um time ao redor da gente, para poder enriquecer culturalmente os nossos filhos, a partir de cada lugar de origem deles, mas seguindo um currículo escolar normal e sistemático, com deveres de casa e tudo mais.
Angelina – Eu tento. Por causa de minha mãe ter nascido na França, sempre tive aulas de francês. Mas Maddox, que frequenta o Liceu Francês, já me dá um banho em francês. Ele oficialmente me deixou para trás (risos). Mas tenho que ter desafios, se não nada funciona comigo. Prometi ao Maddox que iria aprender a pilotar um avião. E, em um ano, eu aprendi. (risos). Agora acho que estou devendo a ele o fato de falar francês fluentemente, para exercitar a língua com ele. Esse é meu desafio para o próximo ano.
Angelina – Minha mãe era católica. Ela era uma mulher maravilhosa e nunca disse que eu deveria seguir essa ou aquela religião. E isso me fez tornar em uma pessoa extremamente curiosa a respeito de outras religiões. Com meus filhos vindo de culturas diferentes, peguei essa mania de estudar as mais variadas religiões com eles. Quando estou em determinado país, nós saimos para visitar uma igreja ou um templo local, e aprender uma coisa diferente. Sempre explico a eles, que isso é o que aquelas pessoas acreditam, e tento ensinar um pouco a elas sobre o que é a fé daquelas pessoas.
Angelina – Certamente eu tenho uma espiritualidade muito latente. Uma vez alguém me disse que achava que eu era humanista. Pensei muito nisso, mas eu acho que o que significava ser humanista é que eu vejo, por meio dos meus filhos e dos refugiados que encontro, que é possivel conviver junto sem machucar ninguém, sem ferir ninguém, e o mais sensato a se fazer é darmos o melhor da gente. Mais uma vez cito minha mãe nessa conversa. Ela era uma mulher muito graciosa e bondosa. Minha mãe não se comportava assim por causa de uma religião, ou por causa de estar embutido no subsconsciente dela, via algum livro sagrado ou sermão, que ela iria para o inferno caso não fizesse o bem. Minha mãe era uma pessoa de boa índole, apenas porque ela queria sê-lo, isso a fazia se sentir melhor sobre si mesma.
Angelina – Mas você não gostaria de pilotar um avião também? (risos).
Angelina – (risos) Lembro de meu primeiro voo solo. Achei que poderia sentir esse medo, pois você nunca realmente sabe o que pode a vir te assustar nessa vida. Acho que voar para mim representa a liberdade. Sempre quis aprender a pilotar, sempre adorei aviões e sempre amava observar os pássaros quando criança (risos).
Angelina – Sim, às vezes piloto minha motocicleta. Tenho uma MV Augusta. Mas não sou tão boa motoqueira quanto o Brad.
Angelina – Aprendi muito. Na verdade, agora acho que preferia ser apenas diretora, em vez de atriz (risos). Trabalhei com tantos bons atores e atrizes neste filme, e poder observá-los trabalhando, sob o ponto de vista de dar uma direção a eles, de tentar criar a luz certa, de tentar criar um posicionamento para enriquecer a performance deles, e capturar um momento tão único da emoção deles, me deu um enorme prazer.
Angelina – (risos). Cada um é cada um. Tenho duas tatuagems em sânscrito, representando cada filho que adotei na Ásia, e refletindo a cultura deles. Minhas tatuagens foram feitas em estilo tribal, por um cara treinado por monges e abençoado por monges. Não é que fui a um tatuador local. Era uma tatuagem muito específica que poucas pesssoas t
em naquela região, e que funcionam como uma oração para eles manterem sua família segura. Quando vi o tamanho da agulha (abre os braços), fiquei nervosa por um momento (risos). Mas não doeu (risos).
Angelina – Fácil, fácil. Eles veem e te pintam. Eles colocam um pedaço de papel com um buraco em cima da tatuagem e jogam o spray. Faz um barulho como shuuuuuuu shuuuuuuuu, e pronto! (risos)
Em O turista, Angelina vive a socialite Elise, que atrai o professor Frank (Johnny Depp). O filme vai estrear no Brasil em janeiro