Tudo conspira contra a saúde materna

Por Aissatou Sall, da IPS

mulheres-gravidas1

Dakar, Senegal, 16/12/2010 – O centro materno Gaspard Kamara, na capital do Senegal, não está especialmente lotado, mas o pessoal médico parece não dar conta dos atendimentos. Parteiras, enfermeiros e ginecologistas correm em todas as direções para atender complexos trabalhos de parto. Dentro, cerca de 15 pacientes e familiares ansiosos esperam junto à porta. Uma delas, Khady Wade, do bairro de Pikine, em Dakar, diz que sua filha teve complicações no final da gravidez e que só então concordou em ir ao centro de saúde.

“Este centro recebe muitas pacientes enviadas por outras clínicas por causa de complicações, porque aqui temos sala de cirurgia”, explica a parteira Ndiaya Kassé Thiam. “Eles nos enviam as pacientes, mas não os lençois e muito menos as camas necessárias”, acrescenta. O fato de o pessoal desta maternidade estar tão atarefado revela a escassez de centros deste tipo no Senegal.

Segundo documento do Programa Comunitário para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil, apenas um em cada dez postos de saúde do país oferece cuidados obstétricos e neonatais de emergência. Existe uma grande brecha entre as condições das clínicas nas principais cidades e nas áreas rurais. Dakar tem, de longe, a maioria dos centros de saúde e pessoal qualificado. Apenas 26 dos 76 centros de saúde contam com uma sala de cirurgia para tratar estas emergências nas zonas rurais.

“Estima-se que no Senegal ocorram 510 mortes maternas para cada cem mil nascidos vivos. Estamos longe de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio de 120 mortes para cada cem mil nascidos vivos até 2015”, disse o médico Cheikh Tidiane Niang, da divisão de Saúde Reprodutiva do Ministério.

Diante de uma modesta casa de Pikine, mulheres esperam sentadas a vez de ver Aminata Sanogo, que goza de certa fama na localidade. Oumou Fall, grávida de sete meses, diz que o preço é acessível, entre US$ 0,40 e US$ 0,60. “Aqui me sinto segura, e ela está muito atenta às nossas necessidades. Por isto, prefiro fazer as consultas e dar à luz aqui”, acrescenta. Fatim Ndiaye, outra paciente, recorda que “quase morri em meu primeiro parto no hospital. O pessoal me tratou com desprezo, sem se preocupar com minhas necessidades e meu sofrimento. Éramos duas na mesma cama, foi horrível”.

Cheikh, do Ministério da Saúde, admitiu isto. “É um problema ligado ao próprio sistema de saúde e à qualidade do serviço oferecido. Nos dizem muitas vezes que as mulheres são melhor tratadas em suas casas do que nas clínicas”, afirmou. “O parto deve estar cercado de fortes cuidados. Isto é o que falta nos centros de saúde, e as mulheres preferem dar à luz em casa, em condições muito perigosas”, acrescentou.

A Associação Senegalesa para a Saúde Familiar realiza campanhas de informação que incentivam as grávidas a fazerem exames e a difundir a redução de custos dos serviços obstétricos e a importância do planejamento familiar. “Falta informação e consciência sobre a importância destas visitas”, disse Hassane Yadarou, dessa associação. A falta de suficientes centros de saúde e a baixa qualidade do serviço são fatores que se traduzem em elevada mortalidade materna e neonatal, acrescentou. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *