Ana Cássia Maturano -Especial para o G1, em São Paulo
Às vezes, os pais se perdem nas próprias emoções, prejudicando os filhos. Trabalho de psicólogo e assistente social deve dar tom em disputas judiciais.
(Ilustração: Arte/G1)
Quem trabalha com crianças já deve ter participado, de uma forma ou outra, da complicação que é a vida de algumas delas, filhas de pais separados. Se para determinadas famílias a separação do casal representa um passo à frente no crescimento de todos, para outras o sofrimento mal está começando.
Determinados casais não se dão bem casados ou separados. Parece que estão sempre medindo forças e buscando um atingir ao outro, não importando as armas.
Um dos principais aspectos que é ponto de discórdia entre os divorciados é o financeiro – nunca conseguem se entender sobre isso, mesmo que cada um tenha muito dinheiro.
Outro ponto de discordância são os filhos. Estão sempre discutindo sobre eles, buscando provar ao mundo que um é melhor que o outro no exercício de ser pai ou mãe (têm aqueles que se autodenominam ‘pães’ – misto de pai e mãe, de tão bons que se consideram). Esquecem-se de agir como verdadeiros pais enquanto perdem seu tempo tentando destruir a imagem do outro.
Uma das coisas que pode prejudicar uma criança é ela ouvir falar mal de alguém que ama e confia. Para ajudar nisso tudo, temos o Poder Judiciário e suas leis. Como é o caso da Lei de Alienação Parental, em que se um dos pais falar mal do outro, é punido. Além do grande avanço conquistado pelos homens.
Antigamente, na maioria das vezes, eram as mulheres que ficavam com seus filhos, como algo natural. Hoje, os pais cada vez mais estão conseguindo a guarda deles, pois muitas vezes eles podem oferecer melhores condições para criá-los. Não só as materiais, mas principalmente emocionais.
Quanto à guarda, atualmente existem quatro diferentes tipos: compartilhada, alternada, dividida e de aninhamento. A decisão de qual a melhor para determinada família (não só para o filho) passa pelo Judiciário.
São muitos os avanços. No entanto, para que eles ocorram de maneira eficiente, é necessário toda uma equipe trabalhando conjuntamente com o juiz, que, apesar de soberano em suas decisões, deve fazer valer o trabalho dos diferentes profissionais das varas de família, para então tomá-las. Como é o caso dos psicólogos e assistente sociais, que estão lá para auxiliá-lo.
Eles têm um trabalho importante com toda a família de modo a traçar seu perfil psicológico e social. Para isso, é necessário não só conhecer os pais e suas condições de vida – in loco – mas também as crianças. Elas têm que ser ouvidas em suas necessidades, angústias e preferências, não querendo dizer que isso bastará para se tomar uma decisão de com quem vão morar, por exemplo. Porém, não é por nada que uma criança prefere morar com um e não com o outro. Ou que uma ou outra resista a visitar um deles.
Se forem ouvir os dois lados para entender o porquê, muito provavelmente não vão parar de andar em círculos. Em casos assim, seria importante criar situações em que o filho possa estar na companhia de um dos pais e depois na do outro junto com um profissional.
Esse, quando experiente e qualificado, poderá observar e compreender a relação que cada um estabelece com a criança. O que, é claro, não vai acontecer do dia para a noite.
E muito menos deve ser um processo moroso, como muitas vezes ocorre. A infância é um período curto e importante na vida das pessoas. Ela deve ser o mais saudável possível. E o sistema judiciário, como um todo, tem muita responsabilidade em casos assim.
Embora profissionais como o psicólogo e o assistente social façam parte da estrutura da Justiça – passando por concursos concorridos e bem elaborados – parecem ter uma atuação limitada. O trabalho deles deveria dar todo o tom de um processo de disputa de guarda e de outros pontos (visitas, por exemplo) que permeiam a vida das crianças, filhas de pais separados.
É necessário cuidar disso com muita atenção. Às vezes, os pais se perdem em suas próprias emoções, prejudicando seus filhos, mesmo amando-os muito. As famílias precisam desses profissionais. E quem mais precisa são os filhos.