Socióloga Luiza Bairros aceita convite para pasta de Igualdade Racial

luiza-bairros2a1Luiza Bairros acertou com Dilma que costurará apoio de movimentos sociais para que seja legitimada no cargo. Considerada uma das principais lideranças contra discriminação racial, gaúcha construiu sua militância na Bahia

 

Natuza Nery e Márcio Falcão – O Globo

A presidente eleita, Dilma Rousseff, chamou a socióloga Luiza Bairros para assumir a Secretaria de Igualdade Racial. Ela aceitou o convite, mas ficou de costurar apoio de movimentos sociais ao seu nome para que seja confirmada no cargo.

Atual secretária de Igualdade Racial da Bahia, onde construiu sua militância, a gaúcha Luiza Bairros é considerada uma das principais lideranças no combate à discriminação racial.

O perfil da ministeriável, que é ligada ao PT, cumpre as exigências de Dilma para o posto: ser mulher e negra. A escolha de seu nome acabou derrubando uma outra indicação do PT para o cargo: o deputado Vicentinho (SP).

Dilma a conheceu quando era ministra. Segundo fontes do governo de transição, ela se encantou com a desenvoltura da socióloga.

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CLAUDIA Entrevista Luiza Bairros

Uma das lideranças mais respeitadas quando se trata de combate à discriminação racial, a socióloga Luiza Bairros assumiu, em agosto de 2008, a Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi), da Bahia. Criada em dezembro de 2006, a Sepromi tem sede em Salvador é a primeira secretaria estadual do Brasil a trabalhar especificamente políticas públicas para negras e negros. Tornar reconhecida e enfrentar as desigualdades é o desafio da gaúcha Luiza Bairros, que há mais de duas décadas vive na capital baiana. “O racismo continua sendo, no mundo todo, uma questão de poder”, ressalta ela.  À frente da Sepromi, Luiza e sua equipe propõem e monitoram políticas públicas que visam assegurar e ampliar os direitos da comunidade negra. Algumas prioridades da Sepromi são combater a violência contra a mulher; criar projetos para negros e negras de geração de renda nas áreas urbanas e rurais; regularizar e dar título de terra para as comunidades quilombolas e incluí-las nos programas governamentais, garantindo estruturas como água, luz, e educação, saúde, cultura, esporte e lazer.

Patrícia Negrão / Revista CLAUDIA

 

Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi)CLAUDIA – A criação de uma secretária como a Sepromi é resultado da luta do movimento negro no país?
LUIZA – A reemergência dos movimentos negros a partir de metade dos anos 1970 fez com que o combate do racimo se transformasse em questão nacional. Principalmente na última década, podemos citar várias ações afirmativas no âmbito do governo voltadas para a população negra como a criação do sistema de cotas nas universidades brasileiras e da fundação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que promoveu o surgimento de órgãos estaduais, como a Sepromi, e também municipais. Podemos destacar também a promulgação da lei que torna obrigatório o ensino da história do negro e das populações indígenas na escola brasileira. Na saúde, foram adotados programas específicos voltados para a saúde da população negra, que é uma antiga luta do movimento. Em maio de 2009, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

CLAUDIA – O país está menos racista?
LUIZA – O racismo é um fenômeno elástico. Na medida em que são conseguidas conquistas de um lado, ele se modifica e apresenta novas formas de se manifestar. Os negros são maioria no país e empoderá-los pode significar uma inversão grande de distribuição do poder, hoje exercido pelos brancos. E ninguém abre mão do poder de graça. Setores conservadores da sociedade batalham para que isso não aconteça. Por isso afirmo que o racismo é uma questão de poder.

CLAUDIA – O racismo cria privilégios para um grupo e desvantagem para outro?
A partir de diferenças físicas – traços do corpo, cor de pele – se estabelece a superioridade de um grupo em relação ao outro, inferiorizando e estigmatizando os negros, no caso do racismo anti negros. Há formas sofisticadas para impedir os negros a chegarem a posições de prestígio, como cargos políticos e econômicos. Não se permite, portanto, que surjam aqui figuras como Barack Obama (presidente dos Estados Unidos).

CLAUDIA – Qual a importância da criação de um órgão como a Sepromi na luta contra o racismo?
LUIZA – O papel de secretarias especiais como a Sepromi é  responsabilizar o Estado a ter políticas públicas voltadas para mulheres e homens negros do país. Acredito que a criação das secretarias nos estados e nos municípios pode, com o tempo, irá produzir mudanças efetivas. Mas ainda há muita resistência para conseguirmos implantar até as políticas públicas já conquistas.

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