José Negreiros – Editor Especial da UnB Agência
Luiz Filipe Barcelos/UnB Agência |
A melhor coisa que aconteceu na UnB nos últimos dois anos “foi este tremendo acervo de motivações a nos proporcionar o diálogo com a comunidade”, disse o reitor José Geraldo de Sousa Junior no dia em que completou a metade do seu mandato. “Nunca se debateu tanto no campus como agora”, afirmou, satisfeito, saudando com entusiasmo a convivência com a democracia. Ele só lamenta o fato de o diálogo “tolerante e educador” ainda não ter se incorporado a todos os segmentos e práticas universitárias. “Mas acredito que a inteligência vai vencer e que vamos construir uma instituição respeitada academicamente e comprometida socialmente”, diz
UnB Agência: O que ainda não deu certo?
José Geraldo: A convicção de que você pode ter um projeto que seja compartilhado e que traduza o momento atual de amadurecimento da universidade. Na campanha, eu propus esse projeto com base em alguns eixos que recuperavam a utopia original da universidade: conhecimento de ponta com qualidade; democracia; inclusão; mobilização para enfrentar e resolver os problemas nacionais. Ou seja, conhecimento com responsabilidade. Esses eixos envolviam também pensar uma gestão sustentável, tanto do ponto de vista ecológico quanto das relações interpessoais. Quer dizer, valorizar o reconhecimento da dignidade, da decência do trabalho. Portanto, um trabalho fundado na valorização do direito, com qualificação fundamentada nos direitos humanos, mas fazer tudo isso de modo a que a Universidade não perca de vista os atributos e as condições funcionais, os papéis sociais que os membros da comunidade representam.
UnB Agência: O Sr. está falando dos problemas de praticar a democracia…
José Geraldo: Sim. De uma universidade que se expresse no seu sentido de colegiabialidade, quer dizer, gestão colegiada dos conselhos, da forma de diálogo. Isso sustenta um projeto, mas democracia não é algo que seja distribuído por igual numa estrutura universitária. Todo mundo fala em democracia, mas numa estrutura tão hierarquizada e com tradições verticalizadas dos papéis essa ideia não é automaticamente universalizada. Ele tem que ser trabalhada.
UnB Agência: E o grande ponto positivo?
José Geraldo: Uma série de circunstâncias favoráveis. Por exemplo: a crise moral, política, funcional da Universidade ter chegado a um ponto de tal culminância que não havia solução senão buscar o apaziguamento. São circunstâncias favoráveis o mandato coincidir com a elevada curva de investimentos que foram feitos no ensino superior, tanto de infraestrutura quanto de reestruturação e termos usado esses meios para implementar várias políticas. Além disso, o grande potencial de energia nova inserida na Universidade, nos dando a chance de abrir o debate em torno dessas questões. O melhor que aconteceu aqui foi este tremendo acervo de motivações a nos proporcionar diálogo com a comunidade.
UnB Agência: Foi sorte?
José Geraldo: Os outros também tiveram a mesma oportunidade. Eu aproveitei. Eu acho que nunca se debateu tanto na Universidade como agora.
Conselheiros analisam gestão compartilhada na UnB
Professores, alunos e servidores afirmam que maior número de reuniões traz democracia nos conselhos superiores da universidade
Thassia Alves, Ana Lúcia Moura e João Campos Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. – Da Secretaria de Comunicação da UnB
A gestão compartilhada é uma das principais bandeiras da atual administração da UnB. Com os órgãos colegiados reforçados pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior, alunos, professores e servidores participam ativamente das decisões que afetam o funcionamento da universidade. Segundo levamento da UnB Agência, aconteceram 131 reuniões dos conselhos superiores nos últimos dois anos, uma média de mais de uma por semana. Veja aqui.
Nessas reuniões afloram questões polêmicas, disputas políticas, discussões mais ou menos objetivas e, principalmente, o debate aberto e franco. A UnB Agência conversou com representantes de segmentos e unidades acadêmicas para saber como tem sido a sua experiência como conselheiros. Leia abaixo os depoimentos:
– Cícero Lopes Silva, professor da Faculdade de Agronomia e Veterinária (FAV) e conselheiro do Consuni, CAD e CAF.
“Fui conselheiro do Consuni e do CAD entre 1998 e 2002 e, agora, a partir de 2009. É evidente e claro que a maior regularidade nas convocações das reuniões nos últimos dois anos torna a UnB mais democrática e transparente. A maior freqüência dos debates também implica em uma maior participação geral da comunidade, pois à medida em que os temas discutidos estão sempre presentes, aumenta o interesse dos conselheiros em contribuir com os assuntos de maior relevância para a UnB”.
– Ileno Izídio, professor do Instituto de Psicologia e conselheiro do Consuni, CAD e CAF
“Uma coisa ficou muito clara nesses dois anos: os conselhos voltaram a funcionar efetivamente. Não só na regularidade das reuniões, como na relevância dos temas abordados. Em anos anteriores, predominava a cultura de não se convocar reuniões quando os temas eram “explosivos” ou politicamente delicados. Hoje o debate está mais aberto e franco sobre questões delicadas e relevantes como, por exemplo, o recredenciamento das fundações, o Congresso Estatuinte e a representatividade dos segmentos”.
– Raul Cardoso, estudante de Ciência Política, conselheiro do Cepe e representante do DCE no Consuni
“Sem dúvida tiveram grandes avanços. Mas as melhorias se concentraram no ponto quantitativo, com a maior regularidade das reuniões. O aspecto qualitativo dos debates, no entanto, ainda tem muitos desafios pela frente. Ainda falta espaço e tempo para debater questões importantes e que mereciam ser melhor apresentadas à comunidade antes de decisões, como o recredenciamento de fundações. No Cepe, por exemplo, ainda sinto que temas burocráticos freiam o debate de temas de maior relevância. É preciso mais praticidade e tempo pra qualificar os conselhos”.
– David Renault, diretor da Faculdade de Comunicação (FAC) e membr
o do Consuni
“É muito positivo ter um conselho que se reúne com a frequência do Consuni. Afinal, esse é um órgão extremamente importante para a democracia da universidade. Porém, alguns temas polêmicos, como as fundações, são discutidos muito longamente. Sabe-se que existem grupos, como os estudantes, que são contra o recredenciamento por uma questão política e ideológica. E em razão disso, falta um pouco de objetividade nessas discussões”.
– Estevão Chaves de Rezende Martins, diretor do Departmamento de História e membro do Consuni
“Os conselhos passaram muitos anos sem participação na universidade. Há dois ou três anos suas funções começaram a ser exercidas. Porém, a falta de espaço físico adequado impede o andamento da pauta. As pessoas precisam se olhar, o gestual deve ficar em evidência, como acontece em outros conselhos. Além disso, o embate político interfere no debate e pessoas que não têm assento no conselho acabam por constranger e atrapalhar. O corpo de funcionários é muito mais interessado do que os estudantes, que parecem ter a intenção de criar problemas e adiar soluções”
– Izabela Brochado, diretora do Instituto de Artes e membro do Consuni
“É fundamental essa gestão que se baseia a partir de discussões com os três segmentos. Estou no Consuni desde abril e constatei que o conselho teve um papel fundamental durante a greve. Ali foram realizadas várias discussões importantes sobre o movimento. Com isso ficou claro que o Consuni é um espaço de discussões e não apenas de deliberação”.
– Sônia Bao, diretora do Instituto de Ciências Biológicas e membro do Consuni, CAD e Câmara de Assuntos Financeiros
“Estou na universidade há 22 anos e não tenho dúvidas de que os conselhos estão muito mais atuantes. A universidade está diferente. Entretanto, apesar do grande número de reuniões, especialmente do Consuni, que me arrisco a dizer que quase dobrou, estamos deixando muito a desejar. Fala-se muito, mas se faz pouco. A criação de novos decanatos, por exemplo, já foi muito debatida, mas ainda não executada. Outro exemplo são são processos de compra. Todos concordam que é lento, mas não avançamos”.
– Cosmo Balbino, integrante do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub) e membro do CAD e do Consuni
“Precisamos de mais objetividade. Nas reuniões do CAD, a maior parte do tempo é tomada pelos informes. Falta espaço para que debates importantes para a universidade se aprofundem. Algumas pessoas não enxergam isso e querem discutir até os informes. É preciso dinamizar isso”.
Reitoria trabalha para modernizar Universidade
Comissão de Reestruturação da UnB sugeriu a criação de dois decanatos: Planejamento e Gestão de Pessoas
Leonardo Echeverria Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. – Da Secretaria de Comunicação da UnB
Nos últimos anos, a UnB cresceu muito. Contratação de professores, novos cursos, novos campi e obras por todos os lados. Mas crescimento não significa modernização. A missão de atualizar a gestão universitária ficou a cargo de uma comissão montada logo no início do mandato do reitor José Geraldo de Sousa Junior, em março de 2009.
A Comissão de Modernização e Reestruturação já apresentou duas sugestões que estão na pauta do Conselho Universitário: a transformação da Secretaria de Recursos Humanos em Decanato de Gestão de Pessoas e a criação do Decanato de Planejamento, Orçamento e Finanças. “Uma universidade que cresceu tanto como a nossa precisa de uma estrutura organizacional muito bem planejada, e esses novos decanatos devem ter poder de decisão sobre questões essenciais”, diz o vice-reitor João Batista de Sousa, presidente da comissão.
Essa primeira reformulação administrativa é fruto de um intenso trabalho de diagnóstico e debate com as unidades acadêmicas. A Comissão de Reestruturação elaborou questionários para todas as 66 unidades acadêmicas da UnB. Uma equipe do Cespe, especialmente treinada para essa missão, aplicou o questionário e tabulou as respostas.
“Num primeiro momento, fiquei surpreso com a desorganização e a fragilidade dos processos”, relata o professor Paulo Calmon, que integra a comissão. “Mas ouvindo a comunidade, seus problemas e sugestões, há, sim, esperança. Temos totais condições de superar as dificuldades e existe vontade política da Reitoria”.
A Comissão de Reestruturação trabalha a gestão universitária a partir de seis pontos principais: pessoas, orçamento, tecnologias da informação, infraestrutura, contratos e convênios e relações institucionais. “Como a reestruturação acadêmica já está acontecendo, resolvemos nos concentrar na gestão de meios”, diz o vice-reitor. “Esse trabalho é essencial, sem ele a Universidade pode inviabilizar seu funcionamento”.
DESENVOLVIMENTO – O objetivo da reestruturação, que deve continuar até o fim do mandato do reitor José Geraldo, é criar bases sustentáveis e consistentes para que as atividades de ensino, pesquisa e extensão possam se desenvolver. Mais que uma necessidade, essa foi considerada uma urgência. “São problemas que há muitos anos atrapalham o funcionamento e a expansão da UnB”, diz o professor Calmon.
O professor Mario Kobus, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi convidado como avaliador externo da comissão, pelo trabalho que realizou como pró-reitor de Orçamento da UFSC. Segundo ele, a UnB está fazendo um trabalho inédito, por causa do nível de detalhamento. “A comissão esta trabalhando com ferramentas de mensuração e validação que nenhuma universidade aplicou. A UnB será pioneira nessa área”, afirma.
A Comissão de Reestruturação deve apresentar relatórios sobre Tecnologias de Informação e Infraestrutura nas próximas semanas. Para essas ideias se tornarem realidade, é preciso envolvimento da Universidade. “Essa mudança é um processo participativo, que está em construção”, diz Paulo Calmon. “Nao é um trabalho simples, mas os gestores podem ter certeza que seus problemas estão sendo ouvidos e que a Reitoria está dando atenção a eles”.