Mulher indiciada em voo diz ter sido chamada de 'branca aguada'

Roney Domingos – Do G1 SP

Ela responde por injúria qualificada após briga no avião entre Lima e SP. Médica nega agressões verbais contra dançarinas negras de axé.

 

dancarinas-axe 
Dançarinas do grupo Capital do Axé dizem ter sido
discriminadas em voo; indiciada pela PF nega as
acusações (Foto: Arquivo Pessoal)

A médica indiciada na segunda-feira (15) pela Polícia Federal em inquérito que apura injúria qualificada após supostas ofensas contra três dançarinas negras diz não ter usado expressões racistas e acusa as vítimas de a chamar de “branca aguada”.

Em entrevista ao G1, a mulher, que pede para não ter o nome revelado para que sua vida “não seja destruída”, nega que tenha usado termos racistas. “Falaram que eu as chamei de macacas. Imagina se eu vou fazer isso.”

“O que fiz foi pedir silêncio. Na hora do cansaço, a gente querendo dormir e não consegue, fica muito nervosa. Elas me chamaram de ‘branca aguada’. Eu falei para a delegada: ‘Isso é discriminação’. Eu não as chamei de nada. Elas se confundiram e tentaram reverter os fatos”, afirma a médica.

A minha secretária é negra. A pessoa que trabalha aqui em casa é negra. Se eu tivesse discriminação racial, você acha que eu ia ter pessoas de cor ao meu redor?”
Médica indiciada por injúria

“A minha secretária é negra. A pessoa que trabalha aqui em casa é negra. Se eu tivesse discriminação racial, você acha que eu ia ter pessoas de cor ao meu redor? Eu não posso ter racismo, eu sou uma médica. Já fui para a África, já fui para os Estados Unidos fazer intercâmbio cultural, fiquei em casa de negros”, diz.

A confusão ocorreu durante o voo 8067 da TAM, entre Lima, no Peru, e Guarulhos, na Grande São Paulo. Após o pouso, por volta das 19h30, a médica branca, loira e de olhos azuis foi conduzida por policiais federais à delegacia do aeroporto. A PF foi chamada pela tripulação da aeronave a pedido das dançarinas do grupo Capital do Axé.

Depois de ouvir as partes, mas sem contar com testemunhas, que se negaram a esperar para depor, a delegada Samira de Oliveira Bueres indiciou a suposta agressora por meio de portaria (quando não é possível fazer o flagrante),  no crime previsto no artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal, que determina uma pena de três anos de reclusão.

A médica de 45 anos afirma que a confusão começou porque ela estava muito cansada e as dançarinas, que se sentaram em uma fileira atrás da sua, insistiam em fazer barulho, brincavam com bichos de pelúcia e atraíam a atenção de um passageiro francês.

A delegada diz que as três dançarinas contaram ter sido agredidas verbalmente em inglês e depois em português. “Elas falaram que inicialmente as agressões foram em inglês e que estranharam porque os outros passageiros riram, mas elas não sabiam do que se tratava. A mulher estava dizendo que elas estavam se roçando nos outros passageiros, se prostituindo e que são pretas pobres.” A suposta agressora nega.

A assessoria de imprensa da TAM diz que houve uma discussão entre passageiras durante o voo e que houve pedido para que a Polícia Federal fosse mobilizada à espera do voo 8067, que pousou em Cumbica por volta das 19h30.

Segundo Igor Cavalcanti de Souza Silva, também integrante do grupo Capital do Axé, as três dançarinas entraram no avião e se sentaram em uma das últimas fileiras de bancos. Ele diz que a médica, que definiu como uma “senhora branca e de baixa estatura”, se incomodou com a presença das dançarinas e cogitou mudar de lugar. Ele conta que as agressões verbais, inicialmente em inglês e logo em seguida em português, começaram assim que o avião decolou.

“Ela chamou as meninas de macacas, de negras pobres e de prostitutas”, diz Souza.

O G1 tentou durante toda a terça-feira (16) falar com as dançarinas, mas não conseguiu contato.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *