SOS CORPO
Começou hoje (11/11) o Seminário Nacional Experiências e Inspirações: os desafios da educação feminista para transformação de um mundo tão desigual, promovido pelo SOS Corpo. O encontro segue com atividades até o dia 13 de novembro, no Recife Praia Hotel, no bairro do Pina, em Recife, Pernambuco. A abertura foi pela manhã e, à tarde, houve relatos e debate sobre experiências e práticas educativas entre mulheres, com ênfase nos saberes tradicionais, trabalho social, mobilização e luta.
Verônica Ferreira, pesquisadora do SOS Corpo e integrante do Fórum Itinerante das Mulheres em Defesa da Seguridade Social (FIPPS), falou sobre o processo de formação vivenciado nas atividades do Fórum que atua em defesa da proteção social das mulheres trabalhadoras do campo e da cidade. Ela destacou a defesa da seguridade social e do direito à previdência. “No FIPPS, a valorização da experiência é uma questão fundamental para formação. Esta perspectiva foi, inclusive, ressaltada por muitas mulheres que participaram do processo”. Verônica explicou que as donas de casa, ao longo do processo, foram se reconhecendo como trabalhadoras e como mulheres exploradas pelo modelo patriarcal de sociedade. “Esta é outra dimensão importante: se reconhecer como trabalhadora e reconhecer esta luta como uma luta de todas as mulheres”, explicou. Como desafio, a pesquisadora apontou a importância da luta anti-racista que foi evidenciada ao longo dos momentos de formação do FIPPS. “Tomamos como algo relevante a compreensão comum de que – e como – o racismo estrutura o trabalho das mulheres”.
Em seguida, Mailna Costa, do Grupo de Mulheres do Calafate, de Salvador/BA, apresentou a experiência da organização e sua experiência pessoal no enfrentamento da violência doméstica. “Eu convivi 5 anos com a violência doméstica e foi através do coletivo que eu superei esta situação. Além da violência doméstica, temos que enfrentar o tráfico de drogas e a violência policial, que é muito forte”, disse. Ela mostrou fotos dos trabalhos e ações do Calafate na comunidade. “Nós mesmas fazemos grafitagem como forma de chamar atenção e mobilizar a comunidade”.
A organização das mulheres negras para enfrentar o racismo foi abordada por Vera Baroni, da Uiala Mukaji e Rede de Mulheres de Terreiros de Pernambuco. Este tema repercutiu bastante durante o debate que se seguiu às exposições das convidadas. Vera iniciou sua fala falando da formação da Uiala Mukaji, uma organização de mulheres negras de Pernambuco. “Antes, não tínhamos uma organização própria de mulheres negras e havia esta necessidade de ter este lugar, um espaço para nossa própria fala e mobilização. Ela falou sobre a origem da organização e citou desafios iniciais, como, por exemplo, a escolha do nome. “De onde a gente vinha? Quem éramos nós? Sabíamos que o nome tinha que fazer referência à matriz africana, com forte significado que expressasse a vontade de nos organizar”, relatou. Hoje a Uiala Mukaji reúne, em sua maioria, mulheres de terreiro. “Somos as que mais sofrem: por ser mulher, por ser negra, por ser de terreiro. Então, nossa organização é o lugar das mulheres de terreiro crescerem juntas”. No âmbito da pedagogia feminista, Vera ressaltou a troca de experiências e a urgência de se visibilizar a contribuição da mulher negra na produção do conhecimento. Para Vera Baroni, o feminismo precisa se debruçar mais sobre o significado de ser mulher branca e ser mulher negra em um país racista. “Esse debate é muito importante para as mulheres negras e para o feminismo.
A primeira tarde do Seminário propiciou o diálogo sobre as formas tradicionais de socialização e de construção do saber entre mulheres e como isso interfere na articulação de suas lutas. Depois das exposições, as participantes debateram e compartilharam vivências e questões que surgiram a partir das experiências apresentadas. As discussões apontaram assuntos que precisam ser aprofundados no contexto da pedagogia feminista, como a questão racial e o debate sobre o anti-racismo, experiência das mulheres sindicalistas da Central Única dos/as Trabalhadores/as (CUT), realidade das trabalhadoras domésticas, transmissão geracional de conhecimentos tradicionais, formas de resistências individuais e coletivas, religiosidade, dentre outros.
Desafios da educação feminista para transformação social é tema de seminário
Karol Assunção *
Adital – Desafios da educação feminista para a transformação social. Essa é a principal questão discutida no “Seminário Nacional Experiências e Inspirações: os desafios da educação feminista para transformação de um mundo tão desigual”. O evento, que começou na manhã de hoje (11), vai até o próximo sábado (13), em Recife, Pernambuco.
O seminário é uma realização do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia – e conta com a participação de 50 feministas das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. Durante os três dias, as participantes têm a oportunidade de conhecer e debater melhor a temática através de palestras, grupos de trabalho, oficinas e plenária.
De acordo com Carmen Silva, coordenadora do SOS Corpo, a ideia é reunir feministas de diferentes organizações e movimentos sociais do Brasil para discutir o “fazer pedagógico” que fortalece as lutas das mulheres. “O objetivo é trocar experiências entre mulheres feministas para possibilitar referências comuns que orientem a questão educativa”, revela.
O seminário vai até a manhã do próximo sábado, quando ocorrerá a plenária de encerramento. Na ocasião, de acordo com Carmen, serão discutidos os encaminhamentos, mas ela lembra que cada representante poderá sair de lá com o que achar mais interessante e adequado para a organização da qual faz parte. “Cada [mulher que representa o] movimento leva o que compartilha para colocar nos processos de educação de seu movimento”, ressalta.
Segundo a coordenadora, a educação feminista é aquela voltada para a “emancipação das mulheres enquanto sujeitos políticos”. Ela é vista tanto na educação formal, com discussões sobre sexualidade e políticas para mulheres, por exemplo; quanto nas formações políticas de gênero, voltadas para homens e mulheres com a perspectiva de alterar as relações de gênero.
Para esse seminário, Carmen afirma que a educação feminista abordada é a educação promovida pelos movimentos de mulheres e que tem a intenção de fortalecer as organizações feministas. “É a reflexão do fazer pedagógico que constrói os movimentos e fortalece as lutas”, destaca.
Para a coordenadora do SOS Corpo, aos poucos, já se pode observar alguns avanços na educação feminista no Brasil. “A educação feminista começa a penetrar na escola pública, com educação não-sexista e não-discriminatória”, considera, acrescentando outros avanços nessa área, como a constituição da discussão nas políticas de formação de movimentos sociais e a produção de conhecimento e de materiais pedagógicos pelos movimentos de mulheres.
Entretanto, na opinião dela, o movimento feminista ainda possui muitos desafios pela frente, como: superar o contexto de desigualdade de gênero, raça e classe; avançar na construção da relação das organizações feministas com outros movimentos sociais – principalmente através da ação educativa; continuar as lutas em defesa de Políticas Públicas para mulheres e de maior representação nos espaços de poder; fortalecer o movimento feminista como movimento social; e lutar pela igualdade nas relações de trabalho.
O “Seminário Nacional Experiências e Inspirações: os desafios da educação feminista para transfor
mação de um mundo tão desigual” acontece até o próximo sábado no Recife Praia Hotel (Av. Boa Viagem, 9, Pina – Recife, Pernambuco). A programação completa e outras informações estão disponíveis em: http://www.soscorpo.org.br/Site/php/index.php?CodPagina=559
* Jornalista da Adital