Rosanne D’Agostino – Do UOL Notícias
O trabalho doméstico não foi transferido para os homens, e elas têm de se dividir entre a jornada de trabalho e a doméstica. O resultado é a sobrecarga da mulher nessa configuração: a com a maior jornada de trabalho entre todos os perfis estudados.”
Elas têm mais anos de estudo, se dividem entre o trabalho e os cuidados com a casa, ganham menos e trabalham mais. Este é o retrato das mulheres chefes de família traçado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por meio do cruzamento de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 2009, divulgados este ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o estudo, de 2001 a 2009 a proporção de famílias chefiadas por mulheres no Brasil subiu de aproximadamente 27% para 35% do total. São 21.933.180 o número de famílias que identificaram como principal responsável uma mulher no ano de 2009.
São mulheres solteiras, separadas ou viúvas que tem filhos, solteiras sem filhos, morando sozinhas, entre outras. Mas um perfil chama a atenção: o das mulheres casadas chefiando a família mesmo tendo um marido ou companheiro em casa, com ou sem filhos.
Nesse caso, segundo o Ipea, “o tradicional arranjo casal com filhos com um homem como ‘cabeça do casal’ passa a ser substituído por situações em que a mulher é tida como a pessoa de referência na casa”. Em 2009, 14,2% dos casais com ou sem filhos eram chefiados por mulheres.
Percentual de famílias chefiadas pela mulher avança 8 pontos de 2001 a 2009
Roberta Lopes
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O número de famílias chefiadas por mulheres aumentou nos últimos nove anos segundo análise feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) dos dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad). No estudo, divulgado hoje (11), concluiu-se que o número de famílias nas quais a mulher é a chefe subiu de 27% em 2001 para 35% em 2009, o que representa 21.933.180 famílias.
De acordo com a chefe de Pesquisa do Ipea, Natália Fontoura, esse fenômeno tem a ver com a maior participação das mulheres no mercado de trabalho. “O mais importante talvez seja a participação das mulheres no mercado de trabalho. Mas também a forma como as mulheres estão se inserindo nos diferentes espaços públicos e as mudanças culturais em relação aos lugares ocupados por homens e mulheres na sociedade”.
Com o nome Primeiras Análises: Investigando a Chefia Feminina de Família, o estudo é o quarto da série de análises do Ipea sobre a Pnad, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento das famílias chefiadas por mulheres teve crescimento em todas as regiões: na Sul, foi constatado o maior avanço, passando de 24,4% para 33%, de 2001 a 2009. No Sudeste, a região com o segundo maior crescimento no número de famílias chefiadas por elas, o avanço foi de 28% para 36%.
Grande parte dessas famílias é composta por mulheres sem cônjuge, o que representa 49,3%. As famílias chefiadas por elas são 17,3 % do total das famílias brasileiras. A Região Nordeste foi a que apresentou a maior proporção desse tipo de família, 19,5%, seguido pela Região Norte, com 18,8%. A Região Sul apresentou o menor percentual, 13,9%. No caso dos casais com ou sem filhos chefiados por mulheres, a Região Norte tem 10,4%, o que supera a média nacional, de 9,2%.
A análise mostra ainda que, nas famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge, 59,1% delas têm emprego e as mulheres chefes de família com cônjuge e que estão empregadas representam 55,6%. Na comparação com os homens chefes de família, mais de 80% deles, em ambos os casos, estão trabalhando.
Outro dado destacado pelo Ipea é o de que 50,4% das mulheres chefes de família sem cônjuge têm ocupações de melhor qualidade do que os homens. Enquanto nas famílias chefiadas por mulheres que têm cônjuge, 43,9% delas têm uma ocupação de melhor qualidade.
Edição: Lana Cristina
Pesquisa do Ethos mostra crescimento lento de mulheres e negros nas empresas
Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A participação de mulheres e negros está crescendo lentamente nos quadros de funcionários de grandes empresas do Brasil. A participação feminina passou de 11,5% em 2007 para 13,7% em 2010. A mulher negra representa 9,3% das trabalhadoras da base e 0,05% das que ocupam cargos no topo. Os negros ocupam 31,1% das vagas nos quadros funcionais e 25,6% dos cargos de chefia. Na gerência são 13,2% e na diretoria 5,3%.
Os dados constam da pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil, feita desde 2001 pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, em parceria com a Fundação Getulio Vargas, o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), o Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgada hoje (11), em São Paulo.
Com relação aos portadores de deficiência, a participação nas empresas não passa de 1,5%, o que, segundo o estudo, indica que o setor empresarial não cumpre a porcentagem determinada pela Lei 8.213/91, de ocupação de 5% do quadro. No caso da contratação de aprendiz, 93% das empresas disseram contratá-los, mas 43% delas têm um número menor do que o exigido pela Lei 10.097/2000, que é de 5% dos funcionários.
O vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, afirmou que o levantamento mostra um resultado otimista, mas ainda não é o ideal. Quando observa o crescimento da participação da mulher nos cargos de direção das empresas, a participação dos negros, o ritmo é lento. “E a desigualdade é muito grande no Brasil. Nos vamos trabalhar com as empresas para que elas adotem essa questão como fundamental. O Brasil será a quinta economia do mundo e é preciso que os desenvolvimento humano esteja no mesmo patamar ”, disse.
Na avaliação de Itacarambi, com a desigualdade de gênero e racial em diversos aspectos sociais, o país não terá desenvolvimento humano compatível com o nosso crescimento econômico. “É fundamental que as empresas promovam esse desenvolvimento. Um país com uma economia maior não necessariamente é um país melhor. A pesquisa está mostrando que precisamos acelerar o ritmo de promoção da equidade e da biodiversidade nas empresas”, afirmou.
A gerente da Unifem, Junia Puglia, disse que para mudar a realidade feminina no mercado de trabalho é necessário modificar a cabeça dos gestores e a cultura interna das empresas. Para a gerente da Unifem, o Brasil vive um momento especial com a eleição de uma mulher para a Presidência da República, e o momento econômico e social também merece destaque com sua presença no cenário internacional. “A inclusão, a diversidade, o olhar para as mulheres, os negros, os diferentes em geral é um fator de desenvolvimento e essencial. Se realmente queremos ser um país desenvolvido temos que levar isso em conta”.
O diretor do curso de direito da Faculdade Zumbi dos Palmares, Hédio Silva Júnior, avalia com otimismo e preocupação a participação tímida do negro nas grandes empresas. “Otimismo porque a pesquisa revela que as empresas
estão se preocupando com o tema, ensaiando iniciativas e algumas estão implementando inciativas. E preocupação porque os dados mostram que há muito a ser feito”. Para ele, o futuro é otimista porque há um debate constante sobre o tema que está em evidência, o que já é um ponto de partida para avanços. Silva disse que ainda faltam políticas e diretrizes para muitas empresas que colocam o assunto no campo ético e humanitário.
O presidente do Instituto Ethos, Jorge Abraão, fez um rápido cálculo e estimou que se o Brasil continuar no ritmo que está, o número de mulheres nos quadros executivos das empresas, equivalente ao que tem como população ocupada na sociedade, só será observado em 2.045. Já os negros aparecerão nas empresas da mesma forma que na sociedade somente em 2.160. “Nós podemos convocar as empresas e fazer reuniões e, a partir daí, fazer uma análise e provocar ações de mudança para conseguirmos dar uma velocidade maior nisso. Nós do Ethos vamos tomar essa atitude”, afirmou.
Edição: Aécio Amado