Presidenta

dilma-rioIolanda Toshie Ide *

Adital – Em 121 anos de república, é eleita a primeira mulher ao mais alto cargo da nação. Sem nunca ter se submetido às urnas anteriormente, elege-se com 12% a mais que o adversário.

Não foi tanto pelo ideal republicano que ocorreu o evento da Proclamação em 15 de novembro do longínquo 1889. O início da República foi marcado por um grande preconceito contra as mulheres na figura da princesa Isabel: buscou impedir que uma mulher, ainda mais piedosa, assumisse o império, foi o que se afirmou dela. O principal “defeito” impeditivo era o de ser mulher.

O preconceito dirigido à metade da população da nação levou a outros caminhos pouco democráticos. A história da nossa República, proclamada por uma elite e o povo assistindo bestificado, palmilhou um caminho de golpes e ditaduras. No último meio século, apenas três presidentes concluíram seus mandatos.

Num país em que apenas 8,8% da câmara é ocupada por mulheres, enquanto na Argentina são 36%, a eleição da economista Dilma Rousseff sinaliza às mulheres a possibilidade próxima de um rumo firme em direção à igualdade entre mulheres e homens. É de se considerar também o fato de ter tido duas candidaturas femininas pela primeira vez na história do Brasil. Desejamos que nos próximos congressos conquistemos um significativo percentual de mulheres, de preferência a paridade.

Uma das promessas de campanha da presidenta eleita foi a construção de milhões de creches. Embora não se possa restringir as demandas femininas à maternidade, as creches fazem parte da nossa agenda no Brasil: não se pode negar que o país carece urgentemente de equipamentos públicos para as crianças. Agora, somos convidadas a reivindicar o cumprimento dessa e de outras demandas.

A campanha eleitoral revelou uma pauta pouco feminista, os movimentos de mulheres estão convidados, pois, a empreender um grande mutirão para que, finalmente com uma mulher na presidência, nós mulheres (quase 52%) sejamos contempladas, em especial as indígenas, as quilombolas, as negras, as idosas, as deficientes, as trabalhadoras rurais, as empregadas domésticas, as desempregadas.

Estaremos nos organizando cada vez mais, reivindicando igualdade de direitos, o fim da violência contra as mulheres, nossa autonomia (inclusive financeira), a Soberania Alimentar (a superação total da miséria no Brasil), a descriminalização dos nossos grupos e movimentos, a desmilitarização no continente e no mundo, a solidariedade entre nós e para com as mulheres de outros países, começando com as das nossas Américas e as da nossa irmã África.

Temos muita esperança porque quem, por ter escolhido permanecer no Brasil arriscou sua vida e integridade na busca da democracia e da justiça sendo presa e torturada, certamente terá a fibra e a coerência necessária para enfrentar os poucos que sempre se beneficiaram pisando sobre os direitos da maioria da população.

* Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulheres de Lins (SP) e Professora aposentada da UNESP e Militante da Marcha Mundial de Mulheres (MMM)

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