Com mais de 200 mil votos e eleita como a 10ª deputada mais votada do Estado de São Paulo, Luiza Erundina cumpriu agenda de mídia intensa na noite deste domingo de eleições e, em todas as intervenções, reforçou a necessidade de uma reforma no sistema político-eleitoral brasileiro.
“Não há como aceitar um novo processo eleitoral nas bases desse sistema que existe. Existem enormes distorções, como por exemplo, alguém que se elege com mais de um milhão de votos, e isso serve para eleger três ou quatro além dele. O eleitor acaba ajudando a eleger outro candidato que ele nem sabe quem é. Isso é uma distorção da vontade do eleitor”, afirma Luiza Erundina.
Luiza Erundina também defende o voto em listas com alternância de gênero, a exemplo do que já existe na Argentina e em outros países da América Latina.
“O voto não deve ser em indivíduos, mas em listas partidárias, o que corresponderia a um projeto político que esse partido expressa. E nessa chapa deveria ter alternância de gênero, como tem inclusive em outros países da América latina. Aí sim, é uma sociedade verdadeiramente democrática, porque as duas metades dessa sociedade têm igualdade de oportunidades para disputar o poder, de exercer o poder, e de influir nas decisões estratégicas para a vida do conjunto da sociedade”, argumenta.
Posicionamento político definido
Questionada sobre a possível neutralidade que Marina irá adotar nesse segundo turno, Luiza Erundina é categórica ao dizer que não acredita em neutralidade, principalmente em se tratando de política.
“Eu não acredito em neutralidade, sobretudo na politica, isso não existe. Eu sou daquelas pessoas que sempre toma posição, mesmo tendo que pagar um alto preço depois”, afirma Erundina que já foi bastante penalizada por sua coerência, inclusive, com multa e condenação judicial.
“Tive que pagar uma dívida à Prefeitura de São Paulo de mais de R$350 mil reais por ter publicado, em alguns jornais, uma nota informando à população sobre a posição do governo a respeito da greve geral dos trabalhadores, ocorrida em março de 1989”, lembra Luiza Erundina.
“Na época vivia-se uma conjuntura caracterizada por desemprego, arrocho salarial e inflação superior a 80%, exigindo, portanto, posicionamento claro a respeito de que lado se estava. E o nosso Governo optou por ficar do lado dos trabalhadores, pois não era neutro. Até porque a neutralidade não existe, ela sempre serve ao interesse de um dos lados em disputa”, explica.
E hoje, 20 anos depois da decisão Luiza Erundina conclui que era exatamente aquela a posição que seu governo deveria tomar. “Estou convencida de que, em situação semelhante, assumiríamos a mesma posição, fossem quais fossem os riscos que tivéssemos que correr”, opina Luiza Erundina, em nota dirigida aos seus amigos e amigas que fizeram grande mobilização para ajudá-la a pagar a multa.
Dilma presidente, no segundo turno
Assim como no primeiro, Luiza Erundina manifesta total apoio à candidatura de Dilma presidenta do Brasil no segundo turno.
“Reconheço o valor de Dilma, sua história de esquerda e de compromisso com a democracia. A Dilma lutou contra a ditadura e, por isso, seu passado não deve ser negado ou evitado, pelo contrário. É motivo de honra e orgulho”, opina a deputada.
Sobre o segundo turno, ela fala que é positivo dois turnos, pois irá exigir uma explicitação mais clara precisa dos compromissos e propostas dos adversários.
“O segundo turno termina contribuindo para que se faça uma nova composição de forças políticas em torno de compromissos mais claros, mais explícitos e mais assumidos publicamente pelos candidatos, e isso qualifica o resultado desse processo eleitoral”, afirma Erundina.
Campanha precária versus votação expressiva
Demonstrando alegria com o resultado expressivo de sua votação, Luiza Erundina confessa que essa foi uma das campanhas mais difíceis que enfrentou, por falta de recursos. Ela fala inclusive, que quase não obteve ajuda do partido ao qual pertence e reconhece ajuda das pessoas que fizeram um trabalho “de formiguinha” para reelegê-la, de forma honrosa e expressiva.
“É provável que aquilo que eu gastei na campanha, comparado com os orçamentos das outras candidaturas, inclusive do meu partido, deve representar apenas um dia da despesa de uma dessas candidaturas”, relata Erundina.
“Agradeço a todas as pessoas que me deram esse expressivo apoio nessa eleição. Tenho chegado a esses resultados eleitorais graças a muitas amizades, e não necessariamente amigos de convivência, mas pessoas que acompanham o nosso trabalho e se identificam com as nossas posições, com a nossa concepção de política. É graças a essas pessoas que estou celebrando o resultado dessa disputa eleitoral, e agradeço a cada um e a cada uma dizendo da minha profunda gratidão por essa confiança, por esse apoio e por esse voto”, conclui.
Próximo mandato
Com lucidez e a mesma radicalidade de 30 anos atrás, Luiza Erundina se prepara para mais quatro anos de mandato.
“Um mandato popular tem a tarefa de ser porta-voz dos movimentos sociais, dos movimentos populares, da sociedade civil organizada. Desdes os primeiros mandatos, tenho uma militância muito forte no processo de debate para a reforma política com a sociedade civil, e também como o processo de democratização dos meios de comunicação”, lembra.
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