Dossiê denuncia situação do aborto inseguro em Mato Grosso do Sul

Adital – Nesta semana, quando se comemorou o Dia Latino-Americano de Luta pela Descriminalizaçao do Aborto (28 de setembro), as entidades Ipas Brasil, Grupo Curumim, Articulação de Mulheres Brasileiras e Jornadas pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro decidiram chamar ainda mais atenção para o tema. Por meio do lançamento de um dossiê, as organizações buscaram debater ‘a realidade do abortamento inseguro e o impacto da ilegalidade na saúde e vida das mulheres, assim como nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS)’.

 

Segundo dados do “Dossiê sobre aborto inseguro para advocacy: O impacto da ilegalidade do abortamento na saúde das mulheres e na qualidade da atenção à saúde reprodutiva em Campo Grande e Corumbá, Mato Grosso do Sul”, apenas em 2008, mais 10 mil abortos foram induzidos neste Estado. No mesmo ano, o MS somou 2.480 internações motivadas por aborto inseguro.

O documento também revela que dados do Datasus mostram um alto índice de procedimentos obstétricos por abortamentos com causa não especificada. Entre os anos de 2005 e 2007, foram registrados 3.059 atendimentos. A maioria destas mulheres acaba passando pelo procedimento da curetagem, mesmo o Ministério da Saúde recomendando a técnica de aspiração manual intra-uterina (AMIU), indicada para o atendimento humanizado às mulheres em situação de abortamento.

Outro dado revela uma situação preocupante. Nove municípios de MS apresentaram taxas estimadas maiores que 20 abortamentos anuais induzidos por mil mulheres de 15 a 49 anos. São eles: Sonora, Ponta Porã, Caarapó, Corumbá, Aquidauana, São Gabriel do Oeste, Anastácio, Ladário e Naviraí. No Estado, a taxa é de 13,8 abortamentos induzidos para cada grupo de mil mulheres com idade entre 15 e 49 anos. Em Campo Grande, a taxa ultrapassa a média estadual (15,9).

Além de passarem por um processo sofrido de aborto inseguro, as mulheres que sofrem complicações durante a interrupção da gestação, de acordo com o dossiê, são as pacientes mais negligenciadas quanto aos cuidados de promoção da saúde reprodutiva. Muitas não são encaminhadas a serviços e profissionais capacitados.

Atualmente, as principais causas que levam à morte materna obstétrica no Brasil são consideradas totalmente evitáveis. Entre elas, estão: a hipertensão arterial, as hemorragias e o aborto.

Outra irregularidade diz respeito à quantidade de cesáreas realizadas no Estado. Dados do Sistema Único de Saúde de Mato Grosso do Sul (SINASC/DATASUS/MS) comprovam que de 2001 a 2006, 50% dos partos efetivados foram por meio desta técnica. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cifra normal recomendada deve variar entre 10 e 15%, considerando fatores que impossibilitem o parto normal.

População indígena

O Dossiê sobre aborto inseguro também expõe a situação da mortalidade materna na população indígena. Apesar de o Mato Grosso do Sul possuir a segunda maior população indígena do país, são escassas as estimativas envolvendo a mortalidade materna e, especialmente, o aborto nas diversas etnias indígenas da região. A falta de ações do Estado e de informações em linguagem acessível para a população indígena sobre questões relacionadas à gestação, contracepção, mortalidade materna e abortamento, possivelmente coloca as mulheres indígenas no grupo de maior vulnerabilidade em matéria de acesso a políticas de saúde reprodutiva.

 

fonte: ADITAL 

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