Diário do Nordeste (Fortaleza-CE)
Elas estão nas chapas majoritárias e proporcionais, fazendo a média cearense ser maior que a nacional
Maria Natividade é uma das mulheres que estão disputando o Governo do Estado do Ceará
FOTO: CAMILA LEITE
As candidatas ao Governo do Ceará apontam que as dificuldades enfrentadas pelas mulheres durante as campanhas eleitorais estão mais ligadas às renúncias pessoais pela falta de políticas públicas que desafoguem as jornadas de trabalho do que aos preconceitos de gênero.
Ocupando 28,5% das candidaturas ao Executivo cearense deste ano, elas comemoram as conquistas, mas ainda reivindicam uma formação política feminina constante nos partidos e o direcionamento de maior parcela do fundo partidário para viabilizar suas candidaturas.
Modificações na Lei Eleitoral tentam facilitar o engajamento feminino na política: 5% do fundo partidário para programas de formação, 10% do tempo de propaganda eleitoral e 30% das candidaturas. Essas cotas, no entanto, dificilmente são cumpridas. Os partidos alegam que falta interesse, mas elas rebatem.
“Se realmente existisse preocupação dos partidos com o papel de formação política de mulheres, não existiria essa história de faltar candidata porque a eleição é só o estopim de um processo“, disse a socióloga e postulante a vice-governadora pelo PCB, Violeta Maria.
Na opinião da candidata Soraya Tupinambá (PSOL), a cultura enraizada no patriarcalismo é outro fator que dificulta a luta travada pelas mulheres com o intuito de efetivar seus direitos de atuação política.
Segundo ela, a responsabilidade histórica feminina na organização das tarefas domésticas sobrecarrega as mulheres, que, para se engajarem na política, precisam assumir uma tripla jornada de trabalho: em casa, no emprego e na luta social.
A ausência de políticas públicas direcionadas para esse gênero é outra reclamação constante das candidatas. Nivânia Menezes, postulante a vice-governadora pelo PSTU, reclamou que faltam ações dos governos do Ceará e de Fortaleza em relação à construção de creches públicas para desafogar a jornada de trabalho feminina.
Com dificuldade de reunião e organização, a mulher acaba assumindo um papel mais coadjuvante na política. Soraya lembrou que a construção cotidiana dos projetos sociais muitas vezes está com as primeiras-damas, embora sejam implementados pelos homens governantes.
O programa Bolsa-Família, que teve grande impacto nacional no combate à pobreza, é um exemplo disso. De acordo com estudos feitos pelo sociólogo britânico Anthony Hall, foi a primeira-dama Ruth Cardoso quem lançou as primeiras sementes para essa unificação de programas de transferência de renda na década de 1990.
O que as candidatas cearenses defendem é a necessidade de as mulheres terem voz e voto em um processo político do qual já participam efetivamente. “Se elas são sujeitos da construção, elas precisam ser sujeitos também da projeção de seus pensamentos e ideais nos diversos aspectos da vida deste estado”, defendeu Soraya.
Apesar de a grande maioria dos partidos não ter cumprido a cota determinada para as candidaturas femininas, o Ceará apresentou média proporcional superior à nacional, segundo dados do TRE. Nessas eleições, 22,4% das candidaturas do País são de mulheres, enquanto no nosso Estado a média é de 25,1%. O problema que as postulantes cearenses colocam está ligado à visibilidade e à possibilidade real dessas mulheres assumirem cargos públicos eletivos.
Nesse sentido, as candidatas explicam que, no Ceará, os partidos menores e de esquerda estão mais abertos ao engajamento feminino. Essa possibilidade de organização, entretanto, não torna a candidatura de mulheres menos delicadas, já que angaria também dificuldades financeiras e de visibilidade dos pequenos partidos.
Natividade, Violeta, Soraya e Nivania, embora tenham várias divergências ideológicas e partidárias, acreditam que a intensificação de ações de formação, direcionamento de parcela maior do fundo partidário às candidaturas e o levantamento de mais discussões sobre a questão das mulheres na sociedade ajudariam a consolidar a representação feminina na política institucional.
O preconceito de gênero, segundo elas, tem ficado para segundo plano em relação à receptividade da população. “A gente não sente discriminação porque nos colocamos como iguais, e quando você se coloca como igual, as pessoas respeitam. É mais um caso de como as mulheres se colocam na vida pública”, disse Natividade.