CAROLINA GABARDO BELO, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
Evento em Curitiba acontece amanhã (19/9), às 13 horas. Ideia é alertar para a escolha de políticos que defendam os direitos da comunidade LGBT
A Avenida Cândido de Abreu ficará mais colorida a partir das 13 horas de amanhã, quando começa a Parada da Diversidade de Curitiba. São esperadas pelo menos 120 mil pessoas no evento, que segue da Praça 19 de Dezembro ao Palácio Iguaçu. Em meio a todo brilho e animação dos presentes, a iniciativa é considerada uma ferramenta de mobilização social da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). Neste ano, o tema é “Vote contra a homofobia. Defenda a Cidadania”, que faz uma referência às eleições de outubro.
“Queremos alertar a população para aceitar os candidatos comprometidos com os princípios e diretrizes do Plano Nacional de Combate à Homofobia”, afirma Márcio Marins, coordenador geral da Associação Paranaense da Parada da Diversidade (APPAD), responsável pela parada, em parceria com a Aliança Paranaense pela Cidadania LGBT. A preocupação dos organizadores em tratar as questões relativas aos problemas da comunidade LGBT faz da parada de Curitiba uma das mais politizadas do país.
Festa por um plano de direitos
A atuação marcante do movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) no Paraná resultou em conquistas importantes. Na Parada da Diversidade de amanhã será comemorado o lançamento do relatório final do Plano Estadual pela Cidadania LGBT.
Considerado um plano de Estado, o documento foi elaborado durante a conferência estadual do segmento, com a participação da sociedade civil organizada e de entidades governamentais. Até o final do ano, as propostas serão apresentadas a todas as secretarias estaduais para que cada uma elenque três prioridades a serem incorporadas ao programa de governo de 2011.
“O movimento reivindica por respeito e garantias dos direitos que todos nós deveríamos ter, mas que a eles [LGBT] são negados”, afirma a chefe da Coordenadoria dos Direitos da Cidadania, da Secretaria de Estado da Justiça, Tamara Enke. As propostas contemplam o casamento gay, a adoção de crianças sem restrição de sexo ou idade e a criação de um núcleo para averiguar denúncias de violação dos direitos LGBT. (CGB)
Segundo os organizadores, diversos segmentos da sociedade – como alguns movimentos sindicais, de mulheres, jovens e defensores do meio ambiente – também participam da iniciativa e reforçam as reivindicações. “Fazemos uma festa da alegria ao mesmo tempo em que nossa primeira reivindicação é estar presente, mostrar que existimos e que temos direitos como qualquer outro cidadão”, lembra Marins.
Entre os temas mais importantes defendidos na parada estão a prevenção a doenças, o combate ao preconceito e o alerta para os casos de agressão motivados pela homofobia. De acordo com Marins, o Paraná é um dos estados que mais registrou delitos dessa natureza. Segundo ele, apenas no primeiro semestre deste ano foram 12 homicídios contra homossexuais, número que pode ser três vezes maior por causa da subnotificação. Um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia mostra que no Brasil um homossexual é assassinado a cada dois dias.
A discussão em âmbito político da cidadania LGBT nas paradas da diversidade remete a uma questão presente no estado democrático e que fere os direitos civis. O advogado e professor da Escola da Magistratura do Paraná (EMAP), Marcos Alves da Silva, alerta para aspectos de fundamentalismo religioso no tratamento das reivindicações dos homossexuais. “Como fazemos parte de um estado laico, conforme definido pelo artigo 19 da Constituição Federal, não podemos permitir que uma concepção religiosa seja imposta a todos”, diz. De acordo com ele, bancadas religiosas no Poder Legislativo fazem resistência ao avanço dos direitos civis dos homossexuais. “As paradas da diversidade são uma estratégia eficaz para as discussões, pois têm um efeito político e multiplicador”, analisa Silva.
Fantasias
Além de tornar as paradas da diversidade mais bonitas, os brilhos, as plumas e os outros adereços das fantasias também representam as reivindicações de quem as veste. Com uma roupa inteira branca – e nem por isso com menos glamour –, a transexual Carla Amaral quer chamar atenção para a violência contra transexuais e travestis. “O branco representa ao mesmo tempo o luto pelos travestis e transexuais assassinados e um pedido pela paz. Não uso preto porque não quero nada fúnebre, quero estar alegre.” Carla levará na cabeça um adereço com as cores do arco-íris, que lembra o movimento LGBT. Primeira transexual que teve direito de ser reconhecida por seu nome social nos documentos, Carla ainda pretende incentivar que seus companheiros busquem seus direitos.
As cores do arco-íris também não foram esquecidas na fantasia da transexual presidente do Grupo Dignidade, Rafaelly Wiest (foto). Em todos os anos que participa da parada, ela faz questão de levar as cores que representam a diversidade. Neste ano o traje será um vestido tubinho e um adereço especial na cabeça, que ela guarda para fazer surpresa no evento. “Pre tendo representar a comunidade LGBT para que sejamos tratados com igualdade e tenhamos nossos direitos garantidos”, afirma.